A Internet das Coisas (IoT – Internet of Things) é conhecida pelo acrónimo IoT (do inglês Internet of Things), tendo sido definida pela Internet Society como “a extensão da conectividade de rede e capacidade de computação para objetos, dispositivos, sensores e outros artefactos que normalmente não são considerados computadores”.

Segundo o Centro Nacional de CiberSegurança (CNCS), autoridade nacional especialista em matéria de cibersegurança junto das entidades do Estado, a IoT compreende todos os aparelhos e objetos que se encontram habilitados a estarem permanentemente ligados à Internet, sendo capazes de se identificar na rede e de comunicar entre si.

Ou seja, se quando pensamos na Internet, pensamos em computadores ou em terminais móveis (como smartphones e tablets) para nos ligarmos entre nós e à internet, quando nos referimos à IoT estamos a referir-nos a todo o tipo de objetos e aparelhos com capacidade computacional e de ligação à web. E todos esses objetos, com ou sem o envolvimento ativo do ser humano, tanto podem fornecer dados relacionados com o seu funcionamento e o mundo que os rodeia, como receber e armazenar informações, criando, deste modo, condições para a génese de um mundo inteligente, em que tudo está em comunicação com tudo e com todos.

Veículos particulares e transportes públicos, prédios, sinais de trânsito, eletrodomésticos, câmaras de vigilância, detetores de condições ambientais, sensores de presença, estacionamento automóvel, dispositivos médicos, relógios e outros equipamentos Wearable ou gestão de resíduos são apenas alguns exemplos do que já hoje existe no universo IoT.

“O objetivo (benigno) de todos estes dispositivos e sobretudo da grande quantidade de dados resultantes da respetiva interação através da Internet, é que o processamento resultante seja efetuado de forma a que, por exemplo, se evitem engarrafamentos de trânsito, se antecipe atempadamente uma doença fatal num doente ou um incidente num edifício, se utilize de forma mais eficiente a energia, para dar apenas alguns exemplos”, elucida a CNCS.

Da mesma forma, associado à IoT está a Indústria 4.0, também conhecida por Industry IoT (IIoT), cujo conceito vai muito para além da mera implantação de sistemas eletrónicos e de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) nos processos de produção nas fábricas, que caracterizou a chamada Indústria 3.0.

Transpondo este conceito para a própria linha de montagem de uma fábrica, o Centro Nacional de CiberSegurança (CNCS) refere que “esta nova vaga tecnológica viabiliza uma grande interação entre os diversos dispositivos instalados ao longo da cadeia de produção no ‘chão de fábrica’, incluindo a cadeia logística, proporcionando que os processos de fabrico resultem de uma comunhão entre o mundo físico e o virtual”.

 

Prossegue a CNCS: “Quer os equipamentos nas linhas de produção, quer os produtos que estão a ser fabricados, quer os centros logísticos são capazes de interagir autonomamente, mais uma vez com o objetivo (benigno) de melhorar o processo produtivo e assim fabricar produtos de maior qualidade, mais alinhados com os requisitos do cliente e com uma melhorada eficiência em toda a cadeia de valor”.

Essencialmente, a tecnologia digital em que se baseia a Indústria 4.0 contempla a simbiose da informação digital proveniente de várias fontes e assente em diferentes protocolos de comunicação, como por RFID, Wireless Sensor Networks, Bluetooth ou outros.

Os responsáveis do CNCS, organismo que funciona no âmbito do Gabinete Nacional de Segurança (GNS), salientam que esta união dos sistemas TIC com as OT (Operational Technologies) “é caracterizada por uma forte interação digital-físico-digital, envolvendo um conjunto de tecnologias que vão muito para além do IoT, como é o caso da análise massiva de dados (Big Data & Analytics), impressão 3D, robótica e inteligência artificial, entre outros, e que completam o ciclo que digitaliza todo o processo produtivo e logístico”.

Esta conexão à escala global torna os objetos inteligentes ou “smart objects”, como aponta também a professora Mónica Mancini, especialista em Sistemas de Informação da Universidade de São Paulo.

Por seu lado, Flavia Lacerda, especialista em Gestão de Tecnologia da Informação, e Mamede Lima-Marques, Doutor em Ciência da Computação pela Universidade de Toulouse, sublinham o facto de que a Internet das Coisas “revolucionará os modelos de negócios e a interação da sociedade com o meio ambiente, por meio de objetos físicos e virtuais, em que esses limites se tornam cada vez mais ténues”.

Apesar dos riscos em termos de segurança eletrónica que esta comunicação em rede também inquestionavelmente acarreta, a tendência é para que na IoT a profusão de equipamentos conectados entre si e connosco seja cada vez maior. Serão biliões de dispositivos a dialogar entre si. E com os avanços ao nível da miniaturização e da nanotecnologia, cada vez mais objetos pequenos terão igual modo essa capacidade de interagir e de se conectar.

Em 2015, estimava-se que haveria cerca de 15,4 mil milhões de dispositivos conectados no planeta. De acordo com a os especialistas da IHS Markit, esta cifra irá crescer para os 30,7 mil milhões em 2020 e para 75,4 mil milhões em 2025. A Intel projeta, no entanto, estatísticas mais ambiciosas: 200 mil milhões de dispositivos ligados em 2020.

A caminhar paralelamente ao desenvolvimento futuro da IoT está a criação de redes de dados móveis de maior resolução, capacidade de processamento e velocidade, ao mesmo tempo que garantem menores consumos de energia. As redes 5G (5ª geração) são, nesse capítulo, “a senhora que se segue”. Mas depois destas, outras, por certo, se sucederão.

“Com o uso dos objetos inteligentes será possível detetar o seu contexto, controlá-lo, viabilizar trocas de informações uns com os outros, aceder a serviços da internet e interagir com as pessoas. Em paralelo, uma gama de novas possibilidades de aplicações surge, como, por exemplo, cidades inteligentes (smart cities); saúde (smart healthcare); casas inteligentes (smart home) e desafios emergem (regulamentações, segurança, padronizações).

Essas novas habilidades dos objetos inteligentes gerarão um grande número de oportunidades de pesquisas e projetos”, escreve a especialista Mónica Mancini que reforça a sua análise: este “smart world permite que a computação se torne ‘invisível’ aos olhos do utilizador, por meio da relação entre homem e máquina, tornando um mundo mais eficiente e eficaz”. Exemplos práticos disto são a confeção de peças de vestuário inteligentes que se podem adaptar às características da temperatura ambiente exterior ou a utilização de óculos com capacidade de receber chamadas de vídeo.

A ideia não é necessariamente fazer com que cada objeto seja mais um terminal para a pessoa se ligar à web, mas sim fazer com que cada objeto possa ficar mais eficiente, graças ao facto de estar ligado à web.

A IoT é, pois, uma realidade inexorável com tremendos benefícios para a qualidade de vida pessoal e profissional de cada um de nós, nas mais diversas áreas das atividades humanas, tornando-nos cada vez mais membros de um único ecossistema a que o estudioso Marshall McLuhan catalogou como a “aldeia global”.

De onde vem o termo Internet das Coisas?
A especialista da Universidade brasileira de São Paulo, Mónica Mancini, conta com detalhe a história do nascimento do termo IoT, num paper científico de 2017: “Em 1990, John Romkey criou o primeiro dispositivo em Internet das Coisas. Esse autor criou uma torradeira que poderia ser ligada e desligada pela Internet e apresentou-a na INTEROP’89 Conference.  Dan Lynch, presidente da Interop na época, prometeu a John Romkey que, se a torradeira fosse ligada pela internet, o aparelho seria colocado em exposição durante a conferência”, recorda Mancinni.

O primeiro objeto a ser
conectado a um computador
ligado à net foi uma torradeira!

Diante desse desafio, “John Romkey conectou a torradeira a um computador com rede TCP/IP, e foi um tremendo sucesso. Porém, durante esse teste, o pão foi incluído manualmente na torradeira. Após um ano, esse requisito foi corrigido e apresentado na mesma conferência, por meio de um pequeno guindaste robótico no sistema. Esse robot era controlado pela Internet, agarrou na fatia de pão e colocou-a na torradeira, automatizando, dessa forma, o sistema de ponta a ponta”, relata Mónica Mancinni.

Em 1991, Weiser (1991) escreveu o artigo “The Computer for the 21st Century” (aqui disponível na sua versão original), que aborda o futuro da Internet das Coisas, designando-a de “computação ubíqua”. No artigo, o autor afirma “que os dispositivos serão conectados em todos os lugares de forma tão transparente para o ser humano, que se tornará ‘invisível’, possibilitando, de forma natural, a realização das atividades, sem haver preocupação em instalar, configurar e manter os recursos computacionais”.

Quanto ao termo Internet das Coisas, propriamente dito, ele foi criado em 1999 por Kevin Ashton (e aqui recordado pelo próprio), cofundador e diretor executivo do Auto-ID Center do Massachusetts Institute of Technology (MIT), prevendo a ligação de todos os objetos físicos à Internet, com capacidade de capturar informações por meio de identificação por radiofrequência (RFID) e tecnologias de sensoriamento – as quais os permitiriam observar, identificar e compreender o mundo independentemente das pessoas e suas limitações de tempo, atenção e precisão.

“A Internet das Coisas tem o potencial de mudar o mundo, assim como a Internet fez. Talvez ainda mais” – Kevin Ashton

O termo foi apresentado em setembro de 1999 numa palestra para a Procter & Gamble, na qual Ashton apresentou uma nova ideia do sistema RFID (Identificação por radiofrequência ou RFID, do inglês “Radio-Frequency IDentification”) para a rastreabilidade do produto na cadeia de fornecimento (gestão do aprovisionamento). A tecnologia RFID é habitualmente identificada como a sucessora dos códigos de barras, mas oferecem ainda dados relevantes sobre o seu estado e localização.

Para chamar a atenção dos executivos, Ashton colocou no título da apresentação a expressão Internet of Things. Para este responsável do Auto-ID Center do MIT, os objetos do mundo físico poderiam conectar-se à internet, criando um mundo mais inteligente.

Explicação sobre a IoT neste vídeo:

Em 2005, foi lançado o Nabaztag – um objeto com forma de coelho conectado à internet, que poderia ser programado para receber a previsão do tempo e ler e-mails, entre outras funcionalidades. “O Nabaztag foi o primeiro objeto inteligente comercializado em larga escala”, realça Mónina Mancinni.

 

Em 2008-2009, segundo a Cisco IBSG – Internet Business Solutions, havia mais objetos conectados, tais como smartphones, tablets e computadores, do que a população mundial. “Por isso esse período é considerado o ano do nascimento da Internet das Coisas”, explica Mancinni.

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