A ideia era simples. Alunos e professores de duas turmas de uma escola básica e secundária de Lisboa receberiam um tablet (para o uso que entendessem) e, durante dois anos, José Luís Ramos (professor da Universidade de Évora) e José Moura Carvalho (da Direção-Geral da Educação) estudariam a implicação da introdução deste “objeto estranho” no ensino e na aprendizagem.

“Os professores usariam a tecnologia para ensinarem melhor, de forma mais criativa e eficaz? E os alunos, aprenderiam mais? Aprenderiam melhor?”: estas foram as questões que os investigadores quiserem ver respondidas.

No fim do projeto, Moura Carvalho chegou à conclusão de que “nem alunos nem professores são massas homogéneas”: houve alunos que usaram muito os tablets em casa, para diversão, outros que os usaram pouco, mas de forma eficiente; professores que nem lhes tocaram, famílias que agradeceram a oportunidade e outras que proibiram os filhos de tocar nos aparelhos. Alunos houve que utilizaram a tecnologia a seu favor, outros que baixaram as notas devido ao uso dos equipamentos, tornando-se impossível estabelecer uma relação direta entre o acesso aos tablets e os resultados escolares.

No entanto, José Luís Ramos garante que “os alunos que mais utilizaram os tablets” foram também “os que mais aprenderam”. Dito isto, adianta, mesmo que a utilização das novas tecnologias possa criar problemas a alguns professores, “não há maneira de a escola proibir os dispositivos”, porque estes fazem parte da vida dos alunos.

E sugere: “Não é melhor ajudá-los a tirar mais partido dos tablets? A escola tem de se acomodar e preparar os alunos para enfrentarem a realidade que é a deles” porque, no fim de contas, “os alunos vão aprender mais e melhor quando algumas estratégias forem seguidas e outras foram eliminadas”.

“Os alunos que mais utilizaram
os tablets” foram também
“os que mais aprenderam”, diz o investigador José Luís Ramos.

Na escola, o projeto teve um “grande impacto”, garante Maria José Soares, a diretora do agrupamento que o pôs em prática. Não tem dúvidas de que os tablets “facilitam a aprendizagem”, e que “há maior motivação”. O entusiasmo foi tanto que já criaram um espaço inovador onde “o aluno pode ser o seu próprio foco de aprendizagem”, sem recurso ao professor, e tem tido muito sucesso.

Os resultados do projeto, publicados no estudo “Tablets no Ensino e na Aprendizagem. A sala de aula Gulbenkian: Entender o presente, preparar o futuro”, foram apresentados no dia 13 de março, às 18h, no auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian.

A investigação levada a cabo ao longo de dois anos letivos (2014/2015 e 2015/2016) mostrou que os alunos de duas turmas que participaram no projeto durante dois anos, “desde o seu início (7º e 10º anos) e que transitaram para os anos seguintes (8º e 11º anos, respetivamente), foram todos aprovados, à exceção de um aluno, tendo sido calculada uma taxa global, para estes alunos participantes, de sucesso escolar muito próxima dos 100%”, refere o estudo.

E ainda que tenha havido alunos que tenham baixado as notas, o investigador José Luís Ramos diz ter notado globalmente uma “maior motivação e uma atitude mais positiva para com a escola” entre a maioria dos alunos” envolvidos nesta “experiência”.

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