A indústria dos transportes de mercadorias é uma das que desperta maior interesse na revolução da mobilidade elétrica e a Nikola quer afirmar-se como protagonista.
Trata-se de um setor de dimensões gigantescas, que oferece um serviço insubstituível, servindo a todas as áreas de produção, com destaque para a atividade industrial e comercial.
É também um negócio de biliões e qualquer alteração significativa em custos operacionais irá provocar alterações substanciais no mercado.
Não é por isso de surpreender que surjam novas empresas a quererem entrar no mercado, com soluções inovadoras e, em alguns casos, que ameaçam alterar de forma radical o mercado.
Enquanto a aplicabilidade da condução autónoma se afigura ainda algo distante, o que para já pode ameaçar o status quo é a alternativa ao gasóleo enquanto combustível por defeito.
Duas soluções interessantes se prefiguram, ambas de empresas americanas. Uma é a proposta da Tesla com o seu Semi, um trator elétrico, que anuncia prestações e uma autonomia surpreendentes, mas cuja produção está ainda distante.
Se as premissas iniciais relativas à autonomia se cumprirem, as dificuldades estarão sobretudo ao nível do tempo de recarga das baterias, quando comparado com o tempo necessário para o reabastecimento dos camiões Diesel.
A outra solução é a da Nikola, com o seu One, um elegante trator que designam por híbrido hidrogénio/elétrico, com um sistema de célula de combustível.
Esta parece ser a solução ideal para os camiões de mercadorias de longo curso, já que o depósito de hidrogénio permitirá uma autonomia próxima daquela que os camiões Diesel apresentam, com um tempo de reabastecimento idêntico.
A grande diferença está no facto de o hidrogénio ser convertido em eletricidade, com todas as vantagens de binário e emissões zero dos motores elétricos.
A Nikola anuncia até 1000 cavalos de potência, um binario máximo instantâneo que pode chegar aos 2700 Nm. A autonomia anunciada vai dos 800 aos 1600 quilómetros e o abastecimento total de hidrogénio leva apenas 15 minutos.
O poder de aceleração é duplicado face a um camião diesel, o chassis pesa menos 900 quilos (o que permite mais carga em cada viagem). A Nikola estima que, por mês, esta diferença possa aumentar a facturação por camião em 30 000 dólares (cerca de 24 400 euros ao câmbio atual).
A eficiência energética dos motores elétricos é de 95% e da célula de combustível é de 70%, bem acima dos perto de 40% conseguidos pelos Diesel. Os números e as vantagens são avassaladores.
O desafio da Nikola não estará tanto no desenvolvimento do seu camião, mas mais nas infraestruturas necessárias para que este projeto possa funcionar, já que é necessário criar uma importante rede de postos de abastecimento de hidrogénio.
Para isto, a Nicola associou-se à Nel ASA para criar a maior rede de abastecimento de hidrogénio do mundo, com 16 estações. Duas já estão em funcionamento.
O plano é brilhante e consiste em usar eletricidade para produzir hidrogénio em estado líquido através do processo da electrolise, separando o hidrogénio da água. O hidrogénio é depois devidamente armazenado e pode ser colocado no depósito dos camiões Nikola (ou outros veículos) através de um sistema semelhante ao utilizado com as agulhetas nos postos de combustível de gasolina ou gasóleo.
No camião, um gerador eletroquímico produz eletricidade novamente. De forma muito resumida, uma reação química separa os átomos do hidrogénio dos eletrões. Os eletrões, com carga negativa, compõem a corrente, enquanto os átomos do hidrogénio, agora ionizados, juntam-se ao oxigénio, criando vapor de água, que sai pelo escape.
Como a capacidade energética do hidrogénio é muito superior à da gasolina ou gasóleo, cada camião Nikola usará no máximo entre 50 a 75 kg de hidrogênio por dia. Um camião abastecido armazena entre dois a três megawatts/hora (MWh) de energia.
Cada estação de produção e distribuição de energia produzirá, de início, oito toneladas de hidrogénio, com o potencial de aumentar a produção para 32 toneladas. A produção será tanto de hidrogénio a 700 bar (10 000 psi) como a 350 bar (5000 psi).
Os veículos Nikola abastecerão nestas estações sem pagar durante o primeiro milhão de milhas (1,6 milhões de quilómetros) o que equivalerá a cerca de dez anos de combustível grátis. Os postos de abastecimento Nikola estarão abertos aos utilizadores de veículos a hidrogénio de outros construtores, que pagarão o abastecimento.
O principal interesse desta solução prende-se com o facto de quer a produção quer o consumo do hidrogénio não terem emissões nocivas para o meio ambiente, embora exista sempre a questão da produção de eletricidade para dar início ao processo. Se for de energia renovável, então podemos falar de um ciclo 100% zero emissões.
A Nikola afirma já ter tido mais de 7000 reservas para o seu camião — custa 1500 dólares ou cerca de 1220 euros — que será entregue a clientes selecionados para testes reais durante o próximo ano.
Entretanto, vídeos como os que apresentamos, são importantes para manter o interesse dos acionistas e dos profissionais, que não podem arriscar perder o comboio desta nova revolução da sua indústria.
Pois é!
Mas para produzir hidrogénio é preciso muito mais energia do que a contida no hidrogénio produzido!
A totalidade da energia eléctrica produzida não é suficiente para produzir a quantidade de hidrogénio que substitua a dos fósseis!
O hidrogénio acabaria por ser produzido com combustíveis fósseis, isto é vestir o lobo com a mesma pele, mas muito mais pequena.
O hidrogénio é um gás altamente perigoso! É explosivo no ar nas proporções compreendidas entre 5 e 95%.
E que combustível iriam usar os aviões e os barcos?
E como seriam as forças armadas sem combustíveis fósseis?