Na Alemanha, o recente anúncio da operação de troca de ativos e participações entre as energéticas RWE e E.On vai permitir criar dois gigantes de referência no setor com ênfase nas renováveis. O valor do acordo está avaliado em 43 mil milhões de euros.
Assim, ao abrigo do acordo alcançado, a RWE concentrar-se-á na produção de energia, ao passo que a E.On assumirá a tarefa da distribuição da energia e de comercialização (retalho) das duas empresas.
A relevância é que a RWE passa a produzir não apenas energia convencional, mas também a renovável, por via da aquisição da parte da Innogy referente à produção energética, empresa renovável participada pela RWE (em 76,8%) e que tinha sido criada há dois anos. A E.On fica, por seu lado, com a divisão de retalho e distribuição da renovável Innogy.
Esta troca mútua de posições conduzirá ao posterior desmantelamento da Innogy.
A RWE passará também a fazer parte de 16,7% do capital na E.On.
Nova tendência no mercado?
“Durante décadas, a E.On e a RWE foram rivais duras; agora puseram-se de acordo numa espectacular transacção que reconfigurará o mercado europeu de energia”, considera o económico Handelsblatt.
O Financial Times considera que “o negócio representa uma transformação ambiciosa de algumas das empresas energéticas mais críticas da Europa”.
Peter Atherton, analista da Cornwall Insight, destaca o facto deste separar de águas entre produção e distribuição de energia romper com o modelo tradicional das grandes empresas de energia de integração vertical de todo o seu negócio, desde a criação de eletricidade, transporte e venda, podendo, deste modo, abrir uma nova tendência no mercado.
Após o negócio, a RWE terá cerca de 8GW de capacidade de produção de energia renovável (passando a ser a 3ª maior da Europa em renováveis) e outros 5GW em fontes não renováveis.
A E.On verá o seu número de clientes finais passar de 31 milhões para cerca de 50 milhões.
Transição para renováveis
O acordo é ainda a maior mudança operada nas estruturas de E.On e RWE, surgindo como uma resposta destas duas empresas, pressionadas que estavam pela movimento existente na Alemanha desde 2010, “Energiewende” (transição de energia), que visa a passagem da produção da energia dos combustíveis fósseis para as energias renováveis.
O abandono dos reatores nucleares por parte da Alemanha até 2022 é um elemento chave deste programa, tendo sido este compromisso assumido depois do acidente na fábrica japonesa de Fukushima, em março de 2011. Na Alemanha, as centrais atómicas produzem cerca de 15% da eletricidade do país.
Na Alemanha, mais de 30% da energia procede das renováveis, com esta proporção a dever alcançar 80% em 2050.
Para este negócio ser concretizado é necessário que os accionistas das sociedades envolvidas e as autoridades de concorrência dêem o seu “ok”.