A EQ é a nova marca da Mercedes-Benz para os veículos elétricos. Jörg Heinermann, responsável de vendas e marketing desta nova divisão da marca alemã, que esteve em Portugal como orador da World Shopper Conference Iberian, conferência realizada no Centro de Congressos do Estoril, esclarece, porém, que a EQ – e ao contrário do que se possa ser levado a pensar – não concretiza “a” mudança do fabricante rumo a uma nova direção, mas traduz antes uma das várias facetas de mudança que está a ser gizada pelo construtor.
Jörg Heinermann foi até fevereiro de 2016 e durante cerca de dois anos e meio o administrador-delegado da Mercedes-Benz Portugal. É um apaixonado pelo nosso país.
Heinermann explica que a indústria automóvel está em processo de disrupção e que o abraçar da mobilidade elétrica é apenas uma das formas de que se reveste toda esta profunda modificação de processos, produtos e mentalidades.
“Quando falamos em disrupção temos de estar aceitar que haverá grandes mudanças fruto da relevância assumida pela sustentabilidade, digitalização, urbanização e individualização. No caso da Daimler, assumimos, por isso, um plano virado para o futuro. Imbuídos do espírito desta disrupção, sintetizamos essa estratégia numa palavra: CASE”, de Connected (conectividade), Autonomous (automação), Shared (partilha de serviços e produtos) e Electric (eletrificação).
Autónomos vêm a seguir
Nesta nova era que nasce “a viatura elétrica ou e-mobility é apenas a primeira tecnologia que está a atingir o mercado”, diz o responsável da Mercedes-Benz EQ para quem a próxima tendência desta disrupção será a dos carros autónomos.
Em 2022, a Daimler terá mais de dez veículos 100% elétricos.
“A automação influenciará o próprio desenho dos veículos e na disposição das informações dentro do habitáculo da viatura. Basta pensarmos que, num automóvel 100% autónomo, o ocupante vai passar a sentar-se atrás e já não à frente”, refere Heinermann.
O diretor de vendas e marketing da Mercedes-Benz EQ, que falava para uma plateia composta por muitos profissionais do setor automóvel, insiste na importância de se ter a mentalidade aberta para novas formas de transporte, já que isso preparará as empresas para outras realidades que surjam e para apostarem na criação de novos serviços. Jörg Heinermann aproveitou para dar alguns exemplos: “No futuro, o carro, por ser autónomo, será ele próprio a deslocar-se, pelos seus próprios meios, para uma oficina para um serviço de manutenção programado; teremos igualmente robot-táxis e bus autónomos utilizados por uma grande percentagem de pessoas; teremos ainda camiões autónomos [em caravana, uns atrás dos outros, o chamado platooning]”.
Mobilidade partilhada para acabar com engarrafamentos
Outro elemento que está associado aos carros de condução autónoma é a mobilidade partilhada. “É a melhor solução para os engarrafamentos das grandes cidades. Temos de perceber que o cliente pretende é a mobilidade, podendo a mobilidade apresentar-se de diferentes meios”, declara este responsável da Daimler que apresenta o caso da nova geração do Classe A, cuja chave pode ser partilhada através do serviço Mercedes me Car Sharing App para que outras pessoas, para além do seu proprietário, possam guiá-lo.
“Toda esta evolução será acompanhada [de uma profusão] de novos serviços, associados, nalguns casos, a uma conta ou a um contrato de aluguer”, diz este especialista alemão.
Nesta evolução, a Daimler passará a ser muito mais do que um mero fabricante automóvel: “Seremos também transportadores. Ou seja, dentro de dez anos, a Daimler será seguramente uma das maiores marcas de transporte individual, uma das maiores marcas de transporte coletivo nas suas diferentes formas (incluindo tudo o que seja partilha de veículos) e um relevante fornecedor de serviços de transporte”, inclusive para terceiros, através de joint-ventures ou parcerias, afirma o nº1 do marketing da EQ.
Soluções adaptadas às necessidades de cada indivíduo
“Teremos de dar resposta às necessidades de mobilidade de cada cliente. Iremos vender mobilidade. O cliente decidirá depois qual a melhor forma de mobilidade para si”, refere.
“Teremos um ecossistema de mobilidade em que a Mercedes-Benz continuará a oferecer veículos de um segmento premium, para quem privilegia a exclusividade”, afirma Jörg Heinermann.
“Forneceremos a mesma qualidade de serviço que hoje colocamos enquanto produtores de carros, também para essas novas realidades. A garantia de que asseguramos sempre a mobilidade do cliente é um modo de vincarmos a nossa qualidade e imagem ainda que noutros domínios”, frisa este responsável germânico.
Como fabricante de veículos, Heinermann declara que, no futuro, “continuará a haver mercado para veículos de exclusividade” que primam por dar um toque de “personalização” aos seus clientes. “Até pode aumentar no futuro, como forma das pessoas demarcarem o seu status das demais”, projeta Heinermann: “O uso exclusivo nunca vai desaparecer. Tal como a paixão pelos clássicos”, diz.