Quando a Nissan lançou a primeira geração do Leaf, o seu estilo muito diferenciado dos outros modelos da marca, tinha um objetivo claro: agradar aos compradores pioneiros, que desejavam destacar-se claramente pela sua escolha vanguardista.
Claro que, em parte, havia razões técnicas para algumas soluções, como o formato dos faróis que desviava o fluxo de ar dos retrovisores, melhorando assim a aerodinâmica. Ou a altura do carro, maior que a norma, devido ao posicionamento da bateria, sob os assentos.
Mas os detalhes, tanto exteriores como interiores, aludiam claramente a uma ideia de futurismo que tornava o Leaf diferente de tudo o resto que andava na estrada. A estratégia resultou até que outro tipo de compradores, que preferem uma presença mais discreta, começou a aderir ao modelos elétricos.
Começaram a aparecer as versões eletrificadas de modelos comuns a gasolina ou gasóleo, como o Golf ou o Focus. A própria Nissan inverteu claramente esse caminho na segunda geração do Leaf, que agora se apresenta muito mais alinhado com o estilo da restante gama da marca. Muito mais discreto, com uma capacidade de atrair mais compradores que a primeira geração. Muito menos esquisito, muito mais normal.
Mas agora é preciso mais. É preciso passar da cabeça para o coração. É preciso convencer os compradores dos automóveis elétricos também por razões emocionais e não apenas racionais. É preciso atrair clientes para os modelos elétricos pela razão que sempre foi a primeira nos automóveis “petrolíferos”: o estilo. E que maneira mais fácil de o fazer do que seguir uma linha nostálgica?… Assim o julgam alguns dos maiores construtores.
Retro é o caminho
Há projetos tão descarados como o de um Jaguar E-Type que viu o seu motor de seis cilindros em linha substituído por um motor elétrico e uma bateria, mantendo tudo o resto intacto. Mas isso é pouco mais do que uma “brincadeira”.
Quando marcas como a Honda e a Volkswagen se preparam para lançar novos modelos elétricos, com carroçarias a fazer lembrar estéticas ou modelos do passado, é altura de prestar atenção, porque vem aí uma nova tendência, a dos elétricos nostálgicos.
A Honda começou já com dois modelos: o Urban EV, que é um utilitário de três portas; e o Sports EV que é uma variante em formato de mini-coupé. Ambos piscam claramente o olho a proporções e detalhes estilísticos dos anos sessenta e setenta. A receção desses modelos foi de tal maneira entusiástica que a marca nipónica já disse que as versões de produção em série não vão ser muito diferentes.
Uma nova marca?
Mais interessante ainda é o caso da VW, que começou por mostrar o concept-car I.D. Buzz, feito com base na sua nova plataforma exclusivamente elétrica, a MEB. Fixe bem estas três letras, pois esta plataforma vai ficar conhecida para a história como aquela que mais fez pela disseminação dos automóveis elétricos em todo o mundo.
A VW está a ser relativamente discreta com este assunto, ou talvez seja a atenção dos mídia que está demasiada virada para a Tesla, quando se fala de elétricos. Mas se ainda não reparou, a VW está a construir uma segunda marca paralela à dos seus modelos de combustão, conhecida como VW I.D. E quando digo paralela, incluo também os volumes de produção da VW, estimados nos milhões e não nas meras centenas de milhar, que é por onde anda a Tesla neste momento.
Esse concept-car I.D. Buzz segue as linhas do famoso “pão-de-forma” e o público reagiu tão bem que a VW não vai deixar de o fazer, mais ou menos como foi visto. Além do estilo nostálgico, talvez o “pão de forma” elétrico possa também recuperar a imagem dos monovolumes, que tão mal tratados têm sido pelos SUV, nos últimos tempos.
O regresso do rei
Mas o revivalismo elétrico da VW não se vai ficar por aqui, pois a marca já confirmou que está a preparar um Carocha elétrico. E isto, sim, é mesmo muito irónico. Vai ser a terceira vez que a VW tenta uma abordagem nostálgica ao Carocha. As duas primeiras usavam a mecânica de duas gerações do Golf, portanto com motor e tração à frente. Mas para manter o estilo o mais próximo possível do original, a filosofia do verdadeiro Carocha desapareu por completo: em vez de ser um familiar competente, o modelo passou a ser uma espécie de coupé com dimensões generosas, por fora e muito apertadas, por dentro.
O mercado nunca reagiu da maneira que a VW esperava e a segunda geração já deixou de ser fabricada. Agora, como a plataforma MEB permite fazer modelos elétricos com motor à frente ou atrás; e tração à frente, atrás ou às quatro rodas, a VW vai conseguir recuparar a habitabilidade do original, ao ponto de o Carocha elétrico estar previsto ser feito com quatro portas, coisa que o original nunca teve.
E também com motor e tração atrás, como o original, só que elétrico! É genial! Só falta saber se a Volkswagen irá disponibilizar uma função de sintetizador de som que imite pelos altifalantes o inimitável “ladrar” do motor de quatro cilindros opostos refrigerado a ar. Mas isso é o mais fácil.