Um Detroit Electric de 1917 apareceu à venda no site especializado em automóveis pré-Guerra PreWar Cars.
Trata-se do modelo de serviu de inspiração para os criadores da Walt Disney desenharem o automóvel da Vovó Donalda, (no original, Grandma Duck ou Elvira Duck).
Os automóveis elétricos de uso particular surgiram pouco tempo depois das primeiras experiências com motor de combustão e alcançaram grande popularidade nos primeiros dez anos do século XX.
Eram inúmeras as marcas americanas a disponibilizar modelos de dois, quatro e sete lugares, para além de versões de trabalho.
Por volta deste período, mais de 35% dos automóveis em circulação nos Estados Unidos, eram elétricos. A explicação para tal estava relacionada com características incómodas do funcionamento do motor de combustão e das infraestrutura rodoviárias.
Os automóveis a gasolina tinham alguns inconvenientes que ainda mantêm, como o ruído e o fumo, mas não eram estes que empurravam muitos clientes para os elétricos que várias empresas produziam.
Sem complicações
A grande vantagem dos elétricos era a facilidade de utilização, nomeadamente no arranque. Os automóveis com motor a gasolina não tinham, de uma maneira generalizada, motores de arranque. Para colocar o motor em funcionamento, era necessário utilizar uma manivela que actuava directamente na cambota e colocava o ciclo em funcionamento.
Para que esta operação fosse bem sucedida, era por vezes necessário afinar a mistura (ar/gasolina) para um acerto mais rico, atrasando ou avançando a ignição, por forma a garantir uma queima mais eficiente.
Por contraponto, para arrancar num automóvel elétrico, como agora, era só ligar um interruptor. As vantagens de manutenção eram também todas do lado do elétrico, que ganhou enorme simpatia das senhoras, que precisavam de operar um veículo automóvel sozinhas.
Estradas sem qualidade
Quanto às infraestruturas, era a falta delas que beneficiava os elétricos, ao contrário do que hoje se verifica. Não havia estradas, pelo que qualquer viagem de automóvel entre cidades, eram uma aventura muito desagradável. O primeiro inimigo era a poeira. Carroçaria aberta ou fachada, nada resistia ao pó.
O segundo eram as constantes paragens para trocar ou remendar pneus que, à falta negro de carbono (partículas de carvão), eram muito frágeis. A ausência de rede de abastecimento de gasolina também era um óbice à utilização dos automóveis com motor de combustão.
Deste modo, o automóvel era maioritariamente destinado a uma utilização urbana ou suburbana, perfeita para os automóveis elétricos da altura, que tinham uma velocidade máxima de 30 km/h e uma autonomia a que oscilava entre os 30 e os 80 km.
A generalização dos motores de arranque, o aparecimento de estradas asfaltadas e estações de serviço, tornaram os automóveis a gasolina mais versáteis e confinaram os elétricos a um nicho, que foi progressivamente enfraquecendo, até ao princípio dos anos 30.
Detroit Electric Company
Fundada no estado do Michigan, 1907, a Anderson Electric Car Company, tinha nascido como fabricante de carros de cavalos, atividade que manteve até 1911. Nessa altura, já produzia com bastante sucesso automóveis elétricos com a marca Detroit Electric. Em 1920, a empresa passou a chamar-se The Detroit Electric Car Company.
Foi o mais bem sucedido construtor de automóveis elétricos americanos antes da Tesla, com 12 300 automóveis e 535 camiões, produzidos até 1939.
Os seus automóveis tinham baterias de chumbo, mas podiam receber, como opção, baterias de ferro-níquel, produzidas pela Edison.
Para além da Detroit Electric, outras empresas americanas tiveram bastante sucesso com a produção de elétricos, como a Columbia, a Baker, a Brock, a Ideal, a Fritchle, a Waverley e a Studebaker, que teria também bastante sucesso com automóveis a gasolina.
Após 1920, os elétricos começaram a perder mercado. A crise financeira de 1929 arruinou os construtores que resistiram. E foi preciso esperar quase 90 anos pelo ressurgimento dos automóveis elétricos.
O preço de uma antiguidade
O exemplar colocado à venda por um particular no site PreWar Cars é de 191. Trata-se de um Model 68, com carroçaria fechada de quatro lugares, vis-a-vis. Durante 40 anos esteve em exposição no Smoky Mountain Car Museum, em Pigeon Forge, no Tennesses. Adquirido por um colecionador em 2006, foi então restaurado e funciona na perfeição.
Esta versão está equipada com 14 baterias de 8 volts, sete colocadas na secção dianteira e sete na secção traseira. Tem motor DC de aproximadamente 6 cv e uma velocidade máxima de 56 km/h e uma autonomia de 129 km.
Está localizado em Kansas City, no estado de Montana. O seu preço é de 110 000 dólares, cerca de 94 000 euros.