O problema do aquecimento global pode ser ainda mais grave do que se pensava. As mais recentes reflexões da comunidade científica vão no sentido de que o planeta está a apenas algumas décadas de distância do evento que desencadeará o que poderá ser o aquecimento global descontrolado.
Esse limiar será atingido quando a temperatura média global for apenas cerca de 2ºC maior do que a dos tempos pré-industriais, sugere a pesquisa publicada no jornal científico Proceedings of the National Academy of Sciences, publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.
A meio da tragédia
E o que os dados atuais revelam é que a temperatura global do mundo já está a meio desse limiar, ou seja, já só estamos a 1ºC de atingir esse ponto que pode ser de não retorno. Neste momento, estamos a subir a 0,17ºC por década.
O acordo climático de Paris estabeleceu ações para manter o aquecimento limitado a 1,5ºC a 2ºC até ao final do século, mas os autores do estudo alertam que são necessárias medidas mais radicais.
Os cientistas autores deste trabalho alertam que, quando esse registo for alcançado, criar-se-á um estado incontrolável de alterações climáticas suscitado por um mega efeito estufa a toda a escala planetária.
As consequências são assustadoras: severos riscos para a saúde, economias, estabilidade política e, por fim, os cientistas não descartam mesmo a habitabilidade do planeta para a espécie humana e para a maioria das espécies existentes.
Efeito dominó imprevisível
O planeta – advertem os peritos – entrará num efeito dominó que alterará a sua paisagem global.
A longo prazo, este efeito estufa hiperbolizado estabilizar-se-á numa média global de 4ºC a 5ºC acima dos níveis pré-industriais.
Se isso acontecer, as faixas do planeta em redor da zona do equador ficarão inabitáveis, com o nível do mar de até 60 metros mais alto do que hoje.
O estudo é conhecido quando a Europa se tem debatido com temperaturas extremas.
A pesquisa alude a “elementos de mudança” que podem transformar sistemas de armazenamento de carbono natural em poderosas fontes emissoras de gases de efeito estufa que irão agravar ainda mais a situação.
O professor Johan Rockstrom, um dos principais membros da equipa da Universidade de Estocolmo, na Suécia, e que participou neste estudo, declara que, acionado este “efeito dominó”, todos estes elementos passam a estar em desiquilíbrio, colocando a Terra em risco: “Os lugares na Terra tornar-se-ão inabitáveis se este efeito de estufa ainda mais agravado se tornar realidade”.
Terra ficará uma estufa
O efeito de estufa na Terra que há décadas se fala levará a que a própria Terra se transforme numa estufa. Os perigos do ponto de inflexão foram identificados como o descongelamento do permafrost, a libertação de metano aprisionado no leito oceânico e o enfraquecimento dos sumidouros de carbono terrestre e oceânico.
Outros elementos que podem entrar em descontrolo incluem o aumento da produção de dióxido de carbono pelas bactérias oceânicas, o desaparecimento da floresta amazónica, a falência das florestas temperadas de coníferas, a redução da cobertura de neve no hemisfério norte, a perda de gelo no mar ártico, a redução do gelo marinho antártico e o derretimento das calotas polares.
Esforço conjunto indispensável
“Esse caminho seria impulsionado por respostas biogeofísicas, intrínsecas e fortes, difíceis de influenciar pelas ações humanas, sendo um caminho que não poderia ser revertido, guiado ou substancialmente retardado”, afirmam os cientistas.
Os pesquisadores consideram importante a luta contra as alterações climáticas. Medidas que provoquem cortes profundos nas emissões de gases de efeito estufa, bem como esforços conjuntos para remover o dióxido de carbono da atmosfera, são necessários para evitar um estado a que chamam “Estufa Terrestre”.
Os investigadores entendem que a luta contra o aquecimento global pode ser feito preservando os sumidouros naturais de carbono e usando a tecnologia.
Link para artigo original, será possível arranjar?
60 m de aumento do nível da água do mar?
Considerando que no século XX os dados mais pessimistas concluem num aumento no nível médio do mar de 20cm em 100 anos, algo deve estar “ligeiramente” exagerado, não?
Bom dia, caro Pedro
Facultamos-lhe o link original do estudo (https://www.pnas.org/content/pnas/early/2018/07/31/1810141115.full.pdf), bem como a reflexão a propósito desse estudo feita pela Universidade de Estocolmo (www.stockholmresilience.org/research/research-news/2018-08-06-planet-at-risk-of-heading-towards-hothouse-earth-state.html).
Já se sabe há muito que o Planeta vai aquecer sem controlo… basta ir ao livro de Apocalipse, na Bíblia.