Na terça-feira passada, a marca alemã mostrou o seu SUV 100% elétrico EQC, num evento junto ao Time Out Market. Com um posicionamento bem definido, o modelo assinala o início de uma revolução no seio mais antigo construtor de automóveis.

Cheguei um pouco mais cedo ao antigo Mercado da Ribeira, junto ao Cais do Sodré. Estava muito trânsito naquela zona de Lisboa, mas uma silhueta imponente e vistosa distinguiu-se no meio da confusão.

O EQC é um SUV de quase 4,8 metros de comprimento, um pouco mais de 1,6 metros de altura e quase 2,5 toneladas. Mas a iluminação LED à frente e atrás, que sublinha as suas formas, fá-lo parecer maior e mais impactante, sobretudo numa noite fria ao pé do rio Tejo.

Vê-lo em circulação foi um prémio por chegar adiantado, porque o EQC ainda não está homologado em Portugal e desloca-se de camião para toda a parte. As centenas de metros que percorreu à minha frente, foram “à portuguesa”. É a semana do web summit, por isso, há coisas incríveis a acontecer um pouco por toda a cidade…

É melhor ao vivo

Nas fotos divulgadas há algumas semanas, parecia um automóvel mais banal. Mas, à queima-roupa, tem um design de qualidade. Realmente diferente mas, ainda assim, familiar. Os flancos dos SUV são sempre a área mais indistinta da carroçaria e o ECQ não é excepção. Mas a frente e traseira estão muito bem resolvidas.

O interior, para já, era off-limits, pelo que só temos as fotos já divulgadas, com os generosos ecrãs horizontais.

Não houve uma apresentação oficial, pelo que tivemos que andar a caçar a informação, primeiro no jardim e depois num jantar volante.

Ainda assim, foi possível constatar que tanto a equipa da Mercedes-Benz Portugal como os responsáveis alemães presentes estavam felizes com o novo modelo. Ninguém fugiu às nossas perguntas e a disponibilidade para tentar responder de forma mais completa possível foi notória.

Posicionamento inesperado

O primeiro EV da Mercedes-Benz é dirigido, em primeira mão, a quem já é cliente da marca. Várias fontes confirmaram que o objectivo principal é posicioná-lo em termos de preço, próximo do GLC 250 d 4Matic, a versão mais barata deste SUV. Este começa nos 65 400 euros.

A Mercedes-Benz está confiante de que o EQC, que tem um nível de equipamento de base muito superior e que apresenta prestações próximas da versão Mercedes-AMG GLC 43 (a partir de 91 200 euros), vai ser competitivo face a ambos os modelos. 

Em Portugal os preços deverão começar abaixo dos 70 000 euros. Quão abaixo, ninguém se compromete. Releva ainda a possibilidade de as empresas recuperarem o IVA, para além de outras vantagens no que diz respeito à tributação autónoma. Particulares e empresas poderão ainda, teoricamente, beneficiar do valor de incentivo de 2250 euros.

Este benefício é teórico, na medida em que a Mercedes-Benz Portugal começará a aceitar reservas em Abril de 2019, mas as primeiras entregas só serão feitas em outubro. Com o provável crescimento de vendas dos EV no próximo ano, o valor cabimentado no Orçamento do Estado já deverá estar esgotado por essa altura.

Com todas as vantagens fiscais deduzidas, o custo inicial do EQC para as empresas poderia rondar os 50 000 euros.

Surgirá também de início uma versão AMG Line, com equipamento e pormenores estéticos diferentes, mas sem alterações em termos técnicos. O Pack completo AMG line, nos modelos disponíveis atualmente custa cerca de 3500/4000 euros.

Equilíbrio entre competência e custo

O EQC vai ser lançado com um pack de baterias de 80 kWh, uma capacidade julgada adequada pelo construtor alemão para o seu primeiro SUV elétrico.

A Mercedes-Benz anuncia 400 km de autonomia segundo o ciclo WLTC (450 km de acordo com o caduco NEDC).

Há, no entanto, uma discrepância entre estes valores e o consumo energético anunciado de 22,2 kWh/100 km. (A Mercedes-Benz assume esta divergência, já que o EQC ainda não foi homologado). 

A este ritmo, uma autonomia de 400 km obrigaria a um pack de baterias de 88,8 kWh. Todas as estimativas que vimos apontam para que o modelo tenha 78 kWh utilizáveis, o que, se se confirmasse o consumo superior a 22 kWh/100 km, reduziria a autonomia a 350 km.

Quanto à velocidade de carregamento, o EQC carrega em DC até 110 kWh. O carregador AC embarcado suporta 7,4 kWh.

Este modelo vai ser vendido na Europa, Estados Unidos e China, com algumas pequenas diferenças. Na Europa terá ficha CCS.

O pack de baterias é climatizado, assegurando sempre uma temperatura de funcionamento otimizada.

Os dois motores elétricos, um por eixo, têm 300 kW (402 cv) de potência combinada e 765 Nm de binário. O EQC acelera dos 0-100 km/h em 5,1 segundos e atinge 190 km/h.

O mistério da grelha aberta

Abrimos através do facebook a possibilidade de os nossos leitores fazerem perguntas que tentaríamos esclarecer. Aquela que foi mais difícil de responder foi formulada por José St. Mota. “Porque precisa de uma grelha?”

A maior parte dos EV não tem necessidade de ter uma grelha aberta, que num motor de combustão está associada ao radiador. Por isso, os modelos ou não têm grelha ou ela está fechada, o que confere significativas vantagens aerodinâmicas.

Só Wolfgang Würth, Responsável Internacional de Comunicação do EQ, foi capaz de responder de forma satisfatória. 

Em primeiro lugar, a entrada de ar é necessária para refrigerar as baterias, quando estão a receber carga rápida. Depois, em movimento, o sistema de climatização das baterias também beneficia da entrada de ar dianteira.

Uma consequência positiva da existência da grelha aberta é que esta tem um desempenho superior em caso de acidente. Suponho que as vantagens serão no que diz respeito à proteção de peões.

Durabilidade das baterias e manutenção

Wolfgang Würth também respondeu às questões relacionadas com a degradação das baterias e às exigências de manutenção deste modelo tão especifico.

No primeiro caso, a garantia cobre os primeiros oito anos ou 160 000 km percorridos. As baterias cuja eficiência desça abaixo dos 75%, são substituídos.

Quanto à manutenção, se por um lado há intervenções que não são necessárias (como mudar o óleo), há outras novas, como a verificação do circuito de climatização das baterias, por exemplo. Outras mantêm-se, como as relativas ao sistema de ar condicionado. Mas no balanço geral, espera-se que o EQC tenha custos de manutenção mais baixos do que os modelos com motor de combustão. 

Existirão também pacotes de manutenção, que incluem ir buscar o veículo a casa ou ao escritório, para realizar os serviços de manutenção.

Outros novos modelos em breve

Wolfgang Würth referiu também que um EV compacto chegará entre 2020 e 2022. Muito provavelmente será designado EQA.

Würth parecia realmente entusiasmado com as novidades que a Mercedes-Benz irá anunciar em breve: “o EQC é o pontapé de saída de um conjunto alargado de Mercedes-Benz elétricos que vão chegar ao mercado até 2025. Esta é uma época fantástica para trabalhar na indústria. Desafiante, muito trabalhosa, mas fantástica. Isto é só o início…”

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