O Projeto Pegada Ecológica dos Municípios Portugueses, que demos conta aqui, fruto de uma parceria estratégica entre a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, a Global Footprint Network (GFN), a Universidade de Aveiro e seis municípios (Almada, Bragança, Castelo Branco, Guimarães, Lagoa e Vila Nova de Gaia) analisou o tipo de consumo das famílias, já que constitui, de forma agregada, a componente que mais influencia a Pegada Ecológica per capita.
No período de 2011 a 2016, a Pegada Ecológica dos municípios teve uma tendência decrescente de 2011 a 2014, ano em que voltou a subir os seus valores, refletindo a tendência de recuperação da crise económica a partir de 2014.
Ao todo, foram doze as categorias associadas ao consumo das famílias. O consumo de produtos alimentares é a atividade de consumo que mais se destaca, sendo responsável pela maior componente da Pegada Ecológica, seguido do consumo no setor dos transportes.
“Entre os países do Mediterrâneo, um estudo da GFN demonstra que Portugal é o país com maior Pegada per capita da Alimentação [dados de 2015, indicam 1,5 hectares globais per capita]. Este resultado fica também evidente no caso dos diferentes municípios, o que levou este estudo a querer aprofundar o peso da alimentação através da desagregação da informação em diferentes subcategorias de consumo: calculando a Pegada Ecológica da Alimentação”, referem os autores do estudo.
Responsável por esta elevada pegada da alimentação está o consumo de carne (que varia entre 23% e 28% nos seis municípios analisados) e de peixe e outro pescado (em torno de 26%). O consumo de proteína animal corresponde, assim, a mais de metade da Pegada da Alimentação.
Mais proteína, maior pressão sobre a biocapacidade
A organização ambientalista World Wildlife Fund (WWF) coloca Portugal no 66º lugar a nível mundial em termos de pegada ecológica “per capita” (dados de 2017). Segundo a WWF, Portugal precisa de 2,19 planetas para manter o seu atual estilo de vida.
“Sendo Portugal o país Europeu que mais peixe consome, de acordo com este recente estudo, esta relação entre consumo e impacto ambiental elevado fica evidente”, salienta a Zero.
“O consumo de bacalhau, atum e salmão – peixes muito consumidos em Portugal – afeta este valor elevado, bem como o consumo de carne vermelha, pelo impacto na utilização de recursos naturais para a sua produção”, refere Paulo Magalhães, da Zero.
Uma dieta excessivamente concentrada em proteínas coloca uma maior pressão sobre a biocapacidade, ou seja, a possibilidade dos ecossistemas conseguirem,ou não, produzir os recursos disponíveis para satisfazer essa procura.