Cristiano Premebida
Cristiano Premebida
Professor convidado da Universidade de Coimbra (UC) e investigador do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR-UC)

O cenário mais importante no Teste-Piloto que foi desenvolvido em Portugal, e raramente realizado em termos mundiais, foi a presença de dois carros autónomos em simultâneo. O desempenho dos carros foi muito positivo. O Teste-Piloto trouxe à ordem do dia a necessidade de proceder a estudos legislativos e a eventuais alterações no futuro.

Veículos autónomos e conectados – testes em ambiente real em Portugal

0
1787

Após meses de estudo, desenvolvimento e planeamento, no âmbito do projeto AUTOCITS (https://www.autocits.eu), Portugal teve a oportunidade e a ambição de realizar testes, em condições reais na autoestrada A9/CREL, com veículos equipados com tecnologia que permitiram a condução autónoma (nível 3 – SAE) e comunicação com a infraestrutura instalada na A9.

Foi um desafio e um passo importante para o avanço tecnológico na área dos veículos autónomos e conectados (em inglês, CAV – Connected Autonomous Vehicles). Permitam-me dizer que os testes foram um sucesso e contaram com a participação de várias entidades nacionais (ANSR, IPN, UC, Brisa, GNR, PSP, Bosch-Braga, A-to-Be) e internacionais (CTAG, UPM).

Os dados recolhidos serão agora tratados e analisados de forma a extrair conclusões e resultados quantitativos alcançados neste Teste-Piloto. Certamente haverá lições a tirar sendo que as principais serão aqui, concisamente, partilhadas.

Os testes realizados contaram com a participação de dois carros, um do CTAG e outro da UPM/Insia. Esses carros estavam equipados com camaras, LIDAR, GPS, unidades inerciais e computadores com software para processamento dos dados vindos dos sensores e para as tarefas de controlo lateral-longitudinal do carro. Também participou um carro “conectado”, da Bosch-Braga, equipado com tecnologia V2X (Vehicle-to-everything) embarcada.

Outra tecnologia que esteve disponível e que foi testada com os veículos autónomos e conectados (CAV), prende-se com sistemas de comunicação instalados na A9/CREL, pela Brisa e A-to-Be, com o propósito de enviar aos carros informação sobre “eventos simulados”, mas que podem ocorrer em condições reais, tais como: acidente; chuva intensa; objeto na estrada; presença de gelo.

Piloto com desafios adicionais

O troço da autoestrada onde se realizaram os testes proporcionou a existência de desafios adicionais, nomeadamente a existência de túnel, que afeta negativamente o sistema de localização (maioritariamente dependente de GPS). Apesar de todos os avanços tecnológicos, há ainda que continuar a empreender esforços no sentido de melhorar os sistemas necessários ao funcionamento da condução autónoma.

Os testes foram planeados por forma a garantir um elevado nível de segurança. Nesse sentido, a realização dos testes, com carros em modo autónomo, contou com o apoio das forças de segurança, concretamente da GNR, que formou uma caixa de segurança, de forma a impedir que os outros condutores invadissem a zona de testes.

Convém ainda referir que as equipas de engenharia que testaram os carros autónomos estiveram no terreno algumas semanas antes do Piloto para estudar, recolher dados relativos ao percurso e realizar testes de interoperabilidade entre sistemas.

Vários cenários foram previstos para a realização dos testes em modo autónomo, tendo por objetivo principal o estudo e análise da reação dos carros autónomos em função da informação comunicada pela infraestrutura (I2V – Infraestrutura para veículo).

O cenário mais importante no Piloto em Portugal, e raramente realizado em termos mundiais, foi com a presença de dois carros autónomos em simultâneo, nomeadamente um veículo à frente do outro.

Testes realizados de 15 a 18 de outubro

Os testes na A9/CREL foram realizados nos dias 15 a 18 de outubro. Durante os testes, todas as equipas envolvidas procederam à gravação dos dados relevantes para posterior análise e avaliação técnica.

Numa primeira análise, podemos concluir que o desempenho dos carros em modo autónomo foi muito positivo, nomeadamente na redução de velocidade como resposta à receção e processamento de informação dos eventos enviados pelas sete unidades de comunicação instaladas na A9. De forma atempada, os carros puderam adotar um comportamento seguro em zonas de maior risco.

Certamente que estes testes trarão um valioso contributo para afinar modelos e equipamentos. A realização dos mesmos trouxe à ordem do dia a necessidade de proceder a estudos legislativos e a eventuais alterações no futuro.

Agradecimentos: este artigo de opinião contou com a colaboração de Sofia Pires Bento (ANSR), Ricardo Araújo Fonseca (ANSR), Pedro Serra (IPN), Alberto Valejo (IPN), Conceição Magalhães (BRISA).

 

Artigo anteriorEnjoado na viagem? O carro já percebeu e está a resolver-lhe o problema
Próximo artigoPrograma de Sustentabilidade da Volvo conquista prémio