O Fiat 500e nasceu em 2013, mais por obrigação do que devoção. Para vender a sua gama de automóveis nos estados da Califórnia e do Óregon, a FCA (Fiat Chrysler Automobiles), foi necessário introduzir mais um veículo elétrico.

Como negócio, foi péssimo. O recentemente desaparecido CEO Sergio Marchionne dizia, com mágoa, que cada exemplar vendido representava um prejuízo de 14 000 dólares para a Fiat-Chrysler.

A sua comercialização exclusiva naqueles dois estados americanos torna-o raro, sobretudo fora dos EUA. Na Europa, os que existem são importados. 

Em Portugal, a ZEEV começou há cerca de um ano a importar, vender e realizar manutenção em exemplares usados. Este ensaio é de um desses automóveis.

Afinal o que é um Fiat 500e?

Trata-se de um Fiat 500 100% elétrico. É produzido na fábrica de Touluca no México. Tem um pack de baterias climatizadas — com refrigeração e aquecimento — de 24 kWh. O motor elétrico tem 111 cavalos e quase 200 Nm.

Nota-se que foi feito com pouca vontade?

De todo. Há muitos pormenores que mostram o cuidado colocado neste modelo específico. A equipa técnica responsável fez um trabalho minucioso, por exemplo, no túnel de vento. Tapando as entradas de ar, utilizando uma carenagem inferior e um spoiler traseiro superior, reduziram o cx de 0,36 para 0,31. A estética também é especial tem jantes de 15 polegadas com desenho específico. E há um pack Sport, com aplicações em cor de laranja, que torna este modelo ainda mais distinto.

É pequenote. Como é a vida a bordo?

Tal como no Fiat 500 com motor de combustão, a estética revivalista prolonga-se ao interior. O espaço é acanhado para quatro pessoas. E mesmo o passageiro da frente não tem assim muito espaço para as pernas. Atrás, as crianças mais compridas já não irão muito à vontade. A mala é minimalista também, mas os bancos traseiros rebatem.

Há um ecrã com várias informações mesmo à frente do condutor e o estado da bateria e autonomia estão sempre bem visíveis. Existe um sistema de navegação da TomTom que se liga no topo do tablier.

Os restantes comandos são convencionais, mas há botões para decidir o movimento: D, R, P e N. O 500e fica pronto a andar depois de rodarmos a chave de ignição. À antiga, portanto.

O revestimento dos bancos é em pele sintética. O volante, regulável, tem um diâmetro generoso. A posição de condução é prejudicada pelos bancos com assento muito alto. Um mal generalizado do 500, ligeiramente minimizado com os bancos desportivos Abarth, não disponíveis neste modelo.

E como veículo elétrico, é competente?

O 500e foi apresentado em 2013 e não teve alterações técnicas significativas desde então. O pack da bateria tem uma capacidade modesta quando comparada com modelos mais recentes. Mas o seu sistema de refrigeração e aquecimento continua atual.

O carregador interno permite apenas uma velocidade de carregamento de 6,6 kWh e não aceita carga rápida. Numa tomada doméstica carregar de zero a 100% demora cerca de 10 horas. Claro que ninguém faz isso. Dos 40 aos 90% são quatro horas.

O motor elétrico tem um consumo aferido pela EPA (Environmental Protection Agency) de 15 kWh/100 km em cidade e 18 kWh/100 km em utilização mista. São 160 ou 130 km de autonomia, respetivamente. Para uma utilização citadina, é perfeitamente aceitável.

E como é a condução?

Para começar, é de longe o mais silencioso dos Fiat 500 que experimentei. E também o mais confortável, graças aos pneus estreitos de perfil alto (185/55). Tem todas as vantagens de um EV, com apenas uma velocidade e um valor de binário significativo, disponível de imediato. Como termo de comparação, é semelhante ao do Abarth 500, mas este só alcança o valor máximo às 3000 rotações.

Então o 500e pode ser considerado um desportivo?

Não. O problema nem está nas prestações. Nos 0-50 km/h é pelo menos tão rápido quanto o Abarth. Faz 0-100 km/h em 9 segundos, o que continua a ser razoável. 

Mas para ser um BEV citadino competente, há algumas concessões que impedem um desempenho desportivo. Por exemplo, os travões. O 500e tem um sistema de regeneração da travagem muito suave — também menos eficiente do que outros modelos. Mas é na modularidade da travagem que falham em transmitir confiança, quando aceleramos um pouco mais.

A suspensão também tem uma afinação mais para o conforto, só que aqui, o peso das baterias, que permite baixar o centro de gravidade, dá uma boa ajuda.

O 500e parece sempre bem implantado no piso. Sem perder complacência. Só a precisão na entrada en curva é que podia ser melhor.

Os pneus Evergreen EH23, de perfil alto e flancos macios, que ajudam ao conforto em utilização normal, também deixam a desejar nesta situação. E são pneus de verão, pelo que, com piso molhado, como também houve neste ensaio, não aguentam o binário do motor. Quem paga são os controlos de tração e de estabilidade, que não têm mãos a medir. Mas para um BEV, este Fiat é do mais divertido que há em condução dinâmica.

Como assim? 

O motor tem sempre resposta pronta e o desafio passa a ser andar o mais depressa possível sem que o controlo de tração tenha que intervir. Se desligarmos o ESC, ainda temos alguma margem para brincar com o “torque steer” — quando as perdas de tração em aceleração “conduzem” o automóvel. Faz lembrar alguns dos pequenos desportivos dos anos oitenta, com demasiada potência para o seu próprio bem. Vem-me à memória o Fiat Uno Turbo ie, por exemplo, um modelo bastante amalucado, mas divertidíssimo.

Claro que o 500e tem outro nível de sofisticação. Boa parte dos seus proprietários nunca experimentarão esta faceta. Até porque a autonomia desaparece de forma vertiginosa. A este ritmo, os consumos devem ser superiores aos 30 kWh. Mas pode valer um bom sorriso depois de um dia de trabalho. Nunca se deve desprezar este mérito num automóvel. Mesmo que seja elétrico.

Onde é que podemos comprar um Fiat 500e?

Novo, só mesmo na Califórnia ou no Óregon. Custa entre 33 e 35 000 dólares, dependendo do equipamento. A Fiat não vende o 500e noutros mercados, mas fala-se que pode surgir uma versão mais moderna, em 2019. 

Até lá, a única hipótese é comprar um exemplar importado, como aqueles que a ZEEV vende. Os preços começam nos 19 500 euros. Em alguns exemplares As empresas podem descontar o IVA, que é de 23%.

Para fazer um test-drive gratuito pode inscrever-se aqui.

A opinião do Welectric

Com base no universalmente aclamado Fiat 500 — pelo menos, em termos de design — o modelo elétrico é um dos mais exclusivos e visualmente apelativos elétricos atualmente.

Os detalhes estéticos e gráficos desta versão conferem atenção garantida de um público que vai dos 7 aos 77.

A autonomia e a velocidade de carregamento limitam este modelo a uma utilização urbana. Mas a qualidade do seu pack de baterias oferece longevidade e eficiência, mesmo com cargas diárias.

Em utilização, é silencioso e confortável. O espaço no interior não é muito, mas sempre são quatro lugares utilizáveis. Pelo menos, em viagens urbanas.

Enquanto não sai o Morgan 3 Wheeler EV, o 500e continuará a ser o elétrico mais “cool” do mercado. Para quem consiga incluí-lo no seu dia-a-dia, oferece uma experiência fora do normal.

No nosso mercado só está disponível como usado importado, mas a ZEEV conhece o modelo muito bem, o que é uma garantia de acompanhamento no pós-venda. 

Se um elétrico com cerca de 130/160 quilómetros de autonomia é suficiente para o seu dia-a-dia, um 500e pode ser a escolha perfeita. Por enquanto, não há muitos elétricos que nos façam olhar para trás, depois de os estacionarmos (só se for para ver se o cabo ficou bem ligado…) O pequeno Fiat é seguramente um deles.

 


Ficha técnica

 

Motor: Magneto permanente síncrono, 83 kW (111 cv); 199Nm de binário instantâneo;

Baterias: Pack de baterias climatizadas de polímeros de Lítio-Ion, com 24 kWh de capacidade;

Carregamento: 6,6 kW AC. Sem carregamento em DC

Transmissão: rodas dianteiras. Tipo automático, uma velocidade.

Chassis: carroçaria monobloco, de 3 portas e 2 lugares

Dimensões: comprimento: 3571; altura: 1488mm; largura: 1627; distância entre eixos: 2300mm; Peso: 1352 kg

Velocidade Máxima: 138 km/h (limitada)

Aceleração 0-100 km/h: 9 s.

Eficiência: 18-15 kWh/100 km (utilização mista-cidade)

Autonomia: 130-160 km (EPA) (utilização mista-cidade)

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