Um evento como o Websummit permite-nos constatar que o futuro já chegou e a tecnologia e robótica são um incontornável elemento do futuro.
No que se refere em concreto à mobilidade, o facto de termos um palco dedicado a Auto/Tech & TalkRobot, onde pudemos ouvir ao longo dos três dias painéis compostos por intervenientes do sector automóvel, sector público e empresas de software, entre outros, é um claro sinal de que o debate para encontrar melhores soluções está a decorrer.
Todos sabemos que o veículo autónomo vai chegar. E nesse dia vamos deixar de pensar nas distâncias que percorremos porque simplesmente podemos utilizar esse tempo para trabalhar, relaxar a ver um vídeo ou até ter uma experiência conjunta como a que a Framestore já conseguiu proporcionar a crianças que iam ter mais uma visita de estudo. A Marte.
Mas também é certo que o veículo autónomo não será individual, como sugere já o Sedric.
E porquê? Porque os dados revelam que um automóvel é utilizado, em média, 4-5% do tempo ou, se quiserem, 95% do tempo o nosso automóvel está… estacionado. Já pensou como a cidade mudaria se o espaço ocupado pelos automóveis passasse a ser espaço público onde as pessoas pudessem passear em passeios mais largos, andar de bicicleta, ver árvores, encontrar amigos?
A compra de um automóvel sempre foi vista como sinónimo de liberdade quando na verdade consegue ser o oposto. Não contabilizamos – emocional e economicamente – o tempo que perdemos no trânsito e a encontrar estacionamento, tempo que roubamos ao lazer, à família, às actividades que nos dão verdadeiro prazer.
A questão actualmente tão debatida da mobilidade está intrinsecamente ligada às pessoas, à sustentabilidade e à evolução tecnológica a que assistimos.
Como referiu Pia Heidenmark Cook, do Ikea Group, estamos hoje a consumir 1,7 do nosso planeta. Tal significa que o desafio é a consciencialização de todos para a mudança de paradigma do consumidor de “Proprietário para Usuário”.
Não há melhor sinal dessa mudança do que o facto do número de jovens a tirar carta de condução estar a decrescer. A mobilidade aumentou e flexibilizou-se. Chama-se Uber, ViaVan, Lime, etc. O automóvel da nova geração está a ficar “digitalizado”. Para bem do nosso planeta, para bem da nossa forma de vida, a tecnologia joga um papel fundamental nesta matéria.
O que se pode retirar dos vários painéis presentes na WebSummit 2018 que discutiram a questão da mobilidade do futuro é que quem vai ganhar essa corrida da mobilidade não é a indústria automóvel ou uma rede expandida de transportes públicos.
Quem comanda as soluções do futuro da mobilidade são empresas focadas no software e não no hardware. O segredo está no chavão “Data & Analytics””. Quem tem os dados sobre as deslocações diárias individualizadas de cada um de nós, qual o caminho que escolhemos, a hora a que usualmente nos deslocamos de um ponto ao outro, são essas as empresas que estão em melhores condições para apresentar soluções que vão servir as pessoas. E a tecnologia é útil à Humanidade na medida em que serve as pessoas.
Soluções como a ViaVan, resultado de uma joint venture da Via com a Mercedes-Benz, são um bom exemplo. A tecnologia desenvolvida pela Via dirige-se aos agentes do mercado de transportes, permitindo ver na App “paragens de autocarro virtuais” e definir o ponto de recolha e saída, juntando outros utilizadores que vão usar a mesma rota.
Medida que, espera-se, seja complementar à rede de transportes públicos, trabalhando sempre em conjunto com as cidades e entidades públicas, pois posicionam-se como complementares à infraestrutura de transportes existente. Implementada em Março deste ano em Amsterdão, seguiu-se Londres e agora em Berlim, com a BerlKönig, assistiram ao maior investimento do sector público em soluções de “On Demand Shuttles”, i.e, serviços de transporte flexíveis, praticamente feitos à medida de cada utilizador.
Um investimento como este por parte de entidades públicas dá o claro sinal do actual panorama: o reconhecimento de que os transportes públicos não chegam a todo o lado, a criação das infraestruturas pressupõe gastos avultados e que só quem domina a GeoData consegue dar respostas eficientes.
A multimodalidade é, assim, a resposta. Todos os players terão de trabalhar em conjunto para chegar a soluções que sirvam as pessoas. E o que as pessoas querem é flexibilidade. Conseguir chegar de um ponto ao outro da forma mais fácil e eficiente, quer dum ponto de vista económico-financeiro, quer dum ponto de vista ambiental.
A pergunta que se coloca é a de saber quem detém, à data de hoje, toda a informação e contacto com o (potencial) usuário destes novos serviços de mobilidade, que monitoriza as nossas deslocações, fluxos, horas, de há anos para cá. Não é a indústria automóvel nem certamente as entidades públicas. Aliás, as discussões já pairam quanto à luta pelos dados que empresas como a Lime obtêm dos seus utilizadores e que os municípios querem conhecer.
Uns dos grandes actores deste sector serão, seguramente, uma Google ou Amazon, que nos seguem há anos e – pensamos nós – nos prestam o serviço gratuito de explicar como chegar de um ponto ao outro com aplicações como o Google Maps ou Waze.