Para todos os leitores que nutrem uma paixão por automóveis clássicos, uma era de dúvidas e contra-sensos aproxima-se a grande velocidade.
Multiplicam-se as cimeiras, conferências e acções em torno das alterações climáticas e respectivos programas a longo, médio e curto prazo, com vista a diminuir a emissão de gases poluentes e consequente aquecimento global, assuntos estes que estão na ordem do dia.
Se, por um lado, não há qualquer dúvida de que os nossos veículos do dia-a-dia vão sofrer alterações radicais num futuro próximo, surge uma questão de importância extrema: os automóveis clássicos, legado da mobilidade como a conhecemos hoje, terão de se confinar a um museu, sem ordem de saída ou sequer de aquecer o antigo motor de combustão?
As restrições à circulação de automóveis com motores convencionais já estão a ser postas em prática e tudo indica que nos próximos tempos vamos assistir a uma multiplicação das mesmas.
Haverá uma janela de exceção?
Se os nossos governos e as suas políticas não considerarem uma janela de exceção ou no mínimo de tolerância para com os veículos clássicos e de interesse histórico, podemos vir a ter um cenário onde a circulação destes se cinja a recintos fechados ou, na pior das hipóteses, à total proibição de circulação.
Irá depender bastante das “regras do jogo” e de como estas serão aplicadas, quer a nível da definição de espaços destinados à circulação destas viaturas, aos impostos que poderão ser aplicados aos veículos de combustão interna independentemente do seu interesse histórico, o preço dos combustíveis fósseis no futuro, entre uma infinidade de variáveis que só o futuro poderá desvendar.
Eletrificar a história?
Serve esta introdução, que já vai longa, para levantar a questão que alude o título deste artigo: alterar a motorização de um automóvel clássico, nomeadamente retirar o velho motor a gasolina ou gasóleo e colocar no seu lugar um moderno motor elétrico, será o passo natural a seguir e com vantagens associadas, ou será inaceitável roubar a originalidade a estes veículos, em que um transplante de coração retirará toda a alma e propósito ao veículo e, para tal, mais vale relegá-lo a um museu para a eternidade?
Como em quase tudo na vida, este é um tema que divide opiniões, e por certo haverão argumentos válidos de ambas as partes. O que é certo e sabido é que já muitas oficinas realizaram conversões em clássicos com vista à adaptação de motores elétcricos e actualmente até algumas marcas de automóveis já começaram a seguir esta tendência.
São exemplos disso a Jaguar ou a Aston Martin, com os seus programas de transplante ditos reversíveis, que permitem anular a modernização caso o proprietário do automóvel assim o deseje.
A eletrificação ou o museu?
Se alguns poderão dizer que é a evolução natural e que até será mais agradável a condução de um clássico com este novo tipo de motorização, afirmando que acrescenta mais à experiência do que propriamente a estraga, para mim o ponto de vista é simples. Um automóvel clássico só poderá ser considerado como tal se mantiver as suas características originais ou de época.
Até poderei fazer concessões a determinados componentes que permitam uma utilização mais facilitada dos automóveis antigos (p.e. ignição eletrónica, direcção assistida, ar condicionado), mas nunca à completa descaracterização dos mesmos.
Se chegarmos ao extremo da proibição de circulação? Prefiro guardar a lembrança de como eram os automóveis do passado e seguir em frente para as novas formas de mobilidade (que já têm e cada vez mais terão propostas apelativas). Visitar um museu de clássicos de vez em quando. Não faz sentido é vestir D. Afonso Henriques com jeans e t-shirt.
E a sua opinião sobre o tema? Faça-nos chegar através da caixa de comentários!
Boa noite, tive o prazer de guiar nos arredores de Londres um Porsche 911 de 1974 transformado e digo-lhes qual cheiro a gasolina qual que, pura adrenalina! So tenho bem a dizer e aos velhos do Restelo so digo, evoluam ou venda os carros a quem quer andar com eles todos os dias e nao fazer uma feira de vaidades!
Há espaço para as duas abordagens. Clássicos de coleção mantendo o sistema motriz convencional e outros, para utilização mais frequente e informal, convertidos em elétricos…
Ainda muito cara, a transformação de um carro à combustão para um carro elétrico já é uma realidade. Eu tenho o coração dividido, mas confesso que trocaria sim o motor à combustão por um elétrico em ao menos um de meus fuscas e ainda colocaria sim na Kombi o mesmo propulsor elétrico. Mas para aqueles carros de garagem, que só saem eventualmente para passeios e exposições, o charme do motor à combustão é algo de que não quero abrir mão. Enquanto houver gasolina, manterei os mesmos rodando, regulados e prontos para pegar a estrada.
Concordo. Algumas conversões em clássicos populares não trazem inconveniente ao movimento de preservação dos veículos históricos.
Um classico é e sempre será um clássico, não devendo ser alterado, pois assim estão a desvirtuar a viatura. será que iremos deixar de ouvir o roncar de um Porsche, de um Ford GT 40, de um Mercedes 300SL, dos “velhos” carros americanos cheios de cavalos. Gosto de os ver (porque tenho olhos) e gosto de os ouvir a cantar, porque tenho ouvidos.
De acordo. Antes de ser necessário converter os clássicos, há dezenas de milhões de veículos recentes, com pouco ou nenhum interesse em termos de imagem ou som para converter.