Adelino Dinis
Adelino Dinis
Jornalista e diretor do Watts On

O automóvel elétrico poderá rapidamente tornar-se o mais desejado pelos CEO que procurem uma imagem moderna e ambientalmente responsável. Se assim for, é provável que possamos assistir à queda em desgraça do Diesel, para já, no mercado premium.

Elétricos são o novo premium (mas pouca gente sabe…)

0
847

Nos últimos dois trimestres de 2018, o mercado norte-americano foi atingido por um fenómeno inédito. Pela primeira vez em várias décadas, um construtor americano conseguiu a liderança do sector premium. E, mais surpreendente ainda, conseguiu esse feito com um automóvel elétrico.

O Tesla Model 3, ainda sem a versão mais acessível, foi o modelo mais vendido na chamada categoria de luxo, com cerca de 138.000 unidades entregues.

E ainda ofereceu um trimestre de avanço aos seus concorrentes da Lexus, BMW, Mercedes-Benz e Audi, porque a sua produção só atingiu um volume de relevo no segundo trimestre de 2018.

Este resultado é ainda mais surpreendente se tivermos em conta que, nos EUA, os EV representam apenas uma quota de 1,12% do mercado.

Na Europa, as primeiras entregas do Model 3 já começaram este mês. Em Portugal, devem estar a começar, talvez já na próxima semana.

De início, os vários mercados europeus vão ter poucos automóveis para entrega e estarão disponíveis apenas os modelos mais caros, que arrancam, em Portugal, nos 61.200 euros. Mas é de esperar que, com a ajuda do Model 3, os veículos elétricos possam representar bastante mais de metade das vendas de automóveis na Noruega já este ano. As vendas de janeiro já são conhecidas e os EV e PHEV garantiram 80% das vendas. Na Holanda, espera-se que o Model 3 possa liderar a tabela de vendas em breve. Em ambos os mercados, os veículos elétricos têm uma presença superior bastante à média europeia.

Uma escolha sofisticada e exclusiva

A mudança está em curso, mas o que se está a alterar diante dos nossos olhos é o conceito de premium no mercado automóvel. O avanço tecnológico é sempre premiado com a atenção do público mais sofisticado. Até porque, de início, as tecnologias são dispendiosas e, por isso, mais exclusivas. 

Atualmente, as pessoas compram elétricos por vários motivos, mas a questão aspiracional é decisiva. A questão ambiental será secundária, mas contribui para uma sensação de superioridade (moral) em relação aos restantes membros da sociedade. Desde o início da história do automóvel que a vaidade é um excelente acelerador do vendas. Basta ver o sucesso dos diversos kits desportivos montados em vulgares modelos com motores de entrada de gama, sobretudo em Portugal.

O sucesso da Tesla depende tanto deste fator como da qualidade intrínseca (inegável, aliás) dos seus produtos.

Outras marcas, como a Nissan, a Hyundai e a Kia estão a posicionar os seus EV contando com o fator aspiracional em mente. Sabem que os veículos elétricos não são para todos, pelo menos, tão cedo. A economia de escala, neste caso, tem os seus limites, pelo que, o que compensa é apontar a um publico-alvo disposto a pagar mais para andar de elétrico. O Kauai Electric, por exemplo, custa mais do dobro das versões com motor de combustão. Não são dirigidos ao mesmo público. 

O empurrão das empresas

No caso concreto do Tesla Model 3, que sem dúvida, aproveita o factor aspiracional criado pelos mais dispendiosos Model S e X, resta saber como vão as empresas portuguesas reagir.

No papel, o Model 3 permite aos seus quadros, que anteriormente optavam por um BMW série 3/4/5, Mercedes Classe C ou E, Audi A4/A5/A6 aceder a um veículo mais exclusivo, sofisticado e com emissões zero locais, com custos operacionais mais baixos.

Pode haver alguma resistência à mudança mas, a julgar pelo que aconteceu no mercado americano, ela é perfeitamente possível. Sobretudo se alguma das principais gestoras de frota conseguir/quiser ter rapidamente o Model 3 no seu portfólio.

Se tudo isto se conjugar — quantidade suficiente e interesse das empresas — então, o sector premium também em Portugal vai mudar radicalmente.

O automóvel elétrico poderá tornar-se o mais desejado pelos CEO que procurem uma imagem moderna e ambientalmente responsável. Se assim for, assistiremos à queda em desgraça do Diesel, para já, no mercado premium. E, como o exemplo vem de cima, aos poucos, as ondas de choque virão por aí abaixo, influenciando todos os setores do mercado.

Artigo anteriorCascaiShopping com iluminação que também produz energia
Próximo artigoMini Clássico é o elétrico perfeito para a cidade