Depois dos colossais danos na imagem e na carteira que o escândalo do “Dieselgate” lhe causaram, a Volkswagen quer mudar o “chip”, investindo em veículos elétricos e definindo a meta de ter neutralidade carbónica enquanto empresa em 2050.

Assim, como forma de tentar atenuar de vez as feridas com a manipulação dos seus motores TDi, o grupo alemão pretende lançar cerca de 70 novos modelos elétricos até 2028, o que traduz uma revisão em alta dos primeiros planos de produção (que apontavam para 50 modelos).

Sabia que…
… a LG Chem, a SKI, a CATL e a Samsung serão os fornecedores de baterias para os elétricos VW?

Como resultado, o número projetado de veículos a serem feitos com base nas plataformas elétricas do Grupo na próxima década aumentará de 15 milhões para 22 milhões de unidades. Em 2030, a quota de elétricos no Grupo irá incrementar-se em, pelo menos, 40%.

Contudo, depois dos custos sociais (e financeiros) com a manipulação de emissões dos motores a gasóleo, este investimento em torno da eletrificação poderá, ironicamente, trazer-lhe também dissabores sociais, na medida em que irá implicar despedimentos junto dos seus mais de 600 mil trabalhadores mundiais, cuja quantificação ainda não foi dada a conhecer, mas que se admite que possa representar entre 5000 e 7000 empregos perdidos até 2023, cifras superiores aos estimados dois mil novos postos de trabalho que o desenvolvimento da eletrónica irá trazer ao construtor.

Menos tempo de produção

Segundo Herbert Diess, CEO da VW, “a realidade é que fabricar um veículo elétrico envolve cerca de 30% menos tempo do que para produzir um veículo propulsionado por um motor de combustão. Isto significa que teremos de reduzir em postos de trabalho”.

Diess promete encontrar soluções socialmente aceitáveis para acomodar a redução do número de colaboradores, explicando que, fruto de toda a estrutura criada, a empresa terá de se “tornar mais leve, mais flexível, mais rápida para poder acompanhar os novos concorrentes”.

“Temos de ganhar significativamente mais dinheiro com os nossos automóveis para que possamos investir no futuro”, sublinha Diess.

“Juntos [falando em Wolfsburgo para os empregados] chegámos a soluções importantes nos últimos três anos – incluindo a resolução de problemas pessoais difíceis, sobre o pacto para o futuro ou decisões sobre produtos. Estou otimista de que podemos fazer isso daqui para frente, também”, aponta Diess.

O homem-forte da VW assume que o grupo que dirige precisa de uma profunda atualização das suas Tecnologias de Informação (TI), calculando-se que sejam necessários qualquer coisa como €4,6 mil milhões de euros nesta área de TI nos próximos anos.

“Trata-se de preparar a VW o melhor que pudermos para uma nova era”, refere Diess.

“As atuais gerações não estão satisfeitas connosco, com os políticos e as empresas. Temos de dar as respostas certas. Devemos isso às próximas gerações”, declarou o CEO da marca.

Divergência com VDA

Ao mesmo tempo, de acordo com o jornal Welt Am Sonntag, o fabricante germânico está a admitir abandonar a poderosa Associação da Indústria Automomóvel Alemã (VDA), que agrupa os construtores alemães e da qual a VW faz parte.

Tudo porque o Grupo VW pretende que a VDA assuma de forma mais incisiva a causa dos automóveis elétricos (indo ao encontro da nova estratégia que o Grupo de Wolfsburg quer trilhar), em vez do seu discurso de “abertura tecnológica” de que várias opções de motorização para o futuro são válidas.

Segundo Herbert Diess, citado pelo Welt, “a associação deve afastar-se da estratégia de ‘abertura tecnológica’ e garantir que todas as forças estão concentradas exclusivamente no reforço dos veículos elétricos com baterias. O desenvolvimento e a promoção de veículos com células de combustível e motores a gás ou outras variantes ecológicas teriam que ser interrompidos”.

O responsável da VW explica que, ao manter as vias abertas para todas as tecnologias, a indústria fica sobrecarregada, exigindo-se-lhe um esforço financeiro suplementar.

Atraiçoado pelas palavras

Numa altura em que a VW tenta limpar a sua imagem depois dos dissabores do “Dieselgate”, todos os cuidados são poucos para evitar novos descuidos que façam cair em desgraça a imagem da marca junto da opinião pública. Mas desta vez, foi o próprio CEO a ser atraiçoado pelas suas próprias palavras, já que quando apresentava os resultados financeiros da empresa, Herbert Diess usou inadvertidamente a expressão “EBIT macht frei” para querer dizer que os lucros da empresa (o EBIT – Earnings Before Interests and Taxes) dariam uma maior liberdade para o desenvolvimento do negócio no futuro. Acontece que a expressão “EBIT macht frei” tem uma lamentável semelhança com “Arbeit Macht Frei”, o slogan que significa “o trabalho liberta” que foi estampado nos portões do campo de concentração de Auschwitz, na Polónia. O patrão da VW foi forçado a pedir desculpas, um constrangimento para uma marca, cujo um dos best-sellers (o Carocha) foi desenvolvido sob os auspícios de Adolf Hitler, em 1933. Diess veio pedir desculpa: “Se sem intenção causei ofensa, lamento profundamente. Queria apresentar as minhas desculpas sem qualquer tipo de reservas”.

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