Num exclusivo nacional, falámos ao telefone com Martina Buchhauser, Vice-presidente sénior do Departamento de Compras da Volvo Cars e membro do conselho executivo.

Martina supervisiona toda a cadeia de fornecimento de componentes e matérias-primas envolvidas na produção dos automóveis Volvo. Está no construtor sueco desde outubro de 2017. Ao longo da sua carreira, iniciada em meados dos anos 80, passou pela General Motors, MAN e BMW.

O tema da incorporação de materiais reciclados na produção automóvel é de grande importância para a sustentabilidade da indústria. A Volvo tem assumido vários compromissos nesta área e foi esse o tema principal da nossa entrevista.

A Volvo comprometeu-se a utilizar 25% de plásticos reciclados nos seus automóveis a partir de 2025. Como está a correr a preparação para esse objetivo?

Na Volvo Cars temos que nos concentrar em alcançar a sustentabilidade em tudo aquilo que fazemos. Este será um dos nossos pilares à medida em que nos transformamos numa companhia global de serviços de mobilidade. Ao mesmo tempo, criamos uma cadeia de fornecimento de matérias-primas e componentes e garantimos o fornecimento de baterias para os próximos anos. Foi nesse sentido que assumimos o compromisso de incorporar 25% de plásticos de material reciclado nos novos Volvo a partir de 2025.

Todos os novos materiais têm que ser bastante testados na indústria automóvel, o que requer também algum tempo. Desde que fizemos o anúncio em 2025, temos feito progressos com os nossos fornecedores dos químicos e também nos nossos fornecedores de primeira camada. Alguns deles colaboraram no nosso automóvel de demonstração, já com vários elementos incorporados [Martina refere-se a uma unidade especial do Volvo XC60 T8 que utilizou diversos plásticos reciclados, provenientes de redes de pesca e corda marítimas, garrafas de plástico e até bancos de Volvo antigos! Veja imagens deste exemplar na galeria de imagens – n.d.r.].

Estamos a trabalhar de forma muito profunda na cadeia de fornecimento, analisando a proveniência de todas as matérias primas e descobrindo onde podemos melhorar. Mas também pretendemos atrair novos parceiros, empresas e empreendedores. Queremos aprender com outras indústrias. Estamos abertos a colaborar com entidades avançadas em termos tecnológicos, mas que também queiram desafiar o status quo. Pessoas que levem muito a sério este desígnio e que queiram trabalhar connosco para concretizarmos esta ambição.

Por que é tão importante para a Volvo a incorporação de materiais reciclados nos seus seus novos modelos?

Primeiro que tudo, é importante para o planeta trabalharmos com matérias de fonte renovável ou recicladas. É um problema que o mundo inteiro enfrenta. Por isso estamos concentrados numa forma circular de produção. E não vamos ficar restringidos aos plásticos. Há outros materiais, como o alumínio, que podemos reutilizar. As sobras que temos podem ser reenviadas aos nossos fornecedores e utilizadas para fazer outros componentes.

No final, achamos que faz sentido em termos de negócio para a Volvo. Mas sabemos que também é importante para as pessoas. É uma expectativa e uma exigência dos nossos clientes.

Uma mudança tão significativa apresenta desafios em várias frentes, nomeadamente no que diz respeito à qualidade, disponibilidade e preço dos componentes produzidos…

Há sem dúvida a questão das especificações. Não podemos reduzir os nossos parâmetros de exigência em termos de segurança e durabilidade. Os componentes com material reciclado têm que ser seguros para os nossos clientes.

Martina Buchhauser, Senior Vice President Procurement Volvo Cars

Por esse motivo, no nosso veículo de demonstração há cerca de 160 componentes com materiais reciclados. Um processo que acompanhámos junto dos nossos fornecedores de primeira e segunda camadas.

Esse teste permitiu perceber se esses componentes cumpriam com os nossos requisitos e se ofereciam condições de durabilidade. Não vamos fazer qualquer espécie de compromisso nesta matéria.

Por outro lado, é nossa responsabilidade garantir que temos a quantidade certa de componentes para a produção.

Quanto ao preço, as novas tecnologias custam sempre um pouco mais no início, mas temos que trabalhar para trazer os valores para níveis aceitáveis. No fim de contas, não deve ser mais caro fazer o que está certo.

Os vossos fornecedores deram uma resposta positiva a este desafio?

Sim. Neste momento estamos a tomar decisões sobre as nossas novas plataformas. Nestes novos modelos já teremos a incorporação de materiais reciclados e as discussões estão muito avançadas com os nossos parceiros e fornecedores, com destaque para as empresas de químicos.

Mas continuo a fazer um apelo à ação, convidando outras pessoas e novos parceiros, para que nos ajudem a acelerar o processo de reutilização de plásticos.

Para além do plástico, há outros materiais que podem ser reutilizados?

Os polímeros (de plástico), o alumínio e o aço representam a maior percentagem de matérias-primas na construção de um automóvel. 

Pretendemos reutilizá-los a todos, sendo que é nos polímeros que já estamos mais adiantados. Já temos planos concretos no que diz respeito ao alumínio e já iniciámos conversações com os nossos fornecedores de aço. Também aqui antevemos a possibilidade de reutilizar os nossos desperdícios na produção de novos componentes.

Teremos no futuro a possibilidade de reciclar componentes de um automóvel em fim de vida para voltarem a ser utilizados noutro automóvel?

Acho que é uma questão muito importante, sobretudo no âmbito da economia circular, que é um dos nossos objetivos. Estes princípios podem ser aplicados em alguns componentes, mas também ao automóvel como um todo. Temos que pensar como podemos, enquanto empresa global de serviços de mobilidade, aumentar a reutilização das coisas.

O nosso serviço por subscrição Care by Volvo, bem como a nova marca de mobilidade “M” — em que as pessoas podem utilizar um veículo, por exemplo, por um fim de semana — podem garantir uma utilização mais eficiente do automóvel. Este será utilizado por mais pessoas e durante mais tempo. Podemos substituir alguns componentes que terão de ser mais resistentes, porque vão ter mais uso e terão, consequentemente, maior desgaste.

Todas estas questões são discutidas na Volvo Cars, no âmbito da economia circular e abrem caminhos muito interessantes.

Existe alguma preocupação com a reciclagem futura das baterias. A Volvo já tem planos concretos relativamente a esta questão?

Sim, já começámos a planear a nossa resposta a este assunto. Como é sabido, outra das nossas ambições é termos 50% dos nossos automóveis electrificados em 2025. Estamos ainda no início dessa transformação. De momento, começamos a identificar e preparar o fornecimento de baterias para os nossos novos modelos.

Relativamente à reciclagem especificamente das baterias, numa primeira fase, iremos utilizá-las para armazenar energia. Numa fase posterior, estabeleceremos uma cadeia de reciclagem dos componentes das baterias.

Mas estamos também a trabalhar no desenvolvimento de baterias que utilizam menor quantidade de componentes na sua composição. Menos componentes no fabrico das baterias será igual a menos componentes para reciclar.

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