A Infraestruturas de Portugal (IP) efetuou um levantamento dos desafios que se irão colocar nos próximos tempos ao universo dos transportes e vias de comunicação.
Esse trabalho de pensar o futuro foi reunido em 50 ideias, agrupadas em seis capítulos temáticos, que passam pela automação dos transportes, pela mobilidade elétrica, pelas viaturas autónomas e sensorização de veículos e pela aplicação da economia circular às infraestruturas, entre outros aspetos.
Toda esta recolha interna da IP foi coordenada por Eduardo Borges Pires e João Figueiredo, do Gabinete de Estudos e Inovação da IP, com os quais o Welectric conversou.
Uma das perspetivas que sobressai do documento “50 Desafios de Investigação, Desenvolvimento e Inovação” é o facto das alterações climáticas também irem impactar nas rodovias e ferrovias.
Objetivo: minimizar danos
“As alterações climáticas têm originado eventos climatéricos mais extremos e mais frequentes, assistindo-se a maiores variações de temperatura, ventos mais fortes, chuvas e cheias, fogos e tempestades. Torna-se assim primordial tornar as infraestruturas mais robustas e resilientes, antes, durante e após os eventos extremos, para minimizar os danos e para garantir uma acessibilidade mínima em caso de catástrofe”, apontam os especialistas da IP.
Nesse contexto, um dos desafios elencados é o desenvolvimento de “técnicas preditivas, que permitam mitigar os riscos de segurança da exploração ferroviária e rodoviária, em especial em pontos da infraestrutura identificados como críticos”.
Para tal, a IP pretende desenvolver modelos de degradação e de corrosão para obras de arte com mais de 100 anos, para via-férrea, pavimentos rodoviários e túneis que permitam conhecer, em tempo real, o seu período de vida útil residual ao longo do tempo, bem como o ciclo de manutenção preventina adequado.
Para analisar o estado de condição e ciclo de vida de cabos de pré-esforço embebidos em betão, a IP conta poder recorrer “a técnicas avançadas de observação remota, como o georadar e a tomografia por ultrassonografia, em oposição às metodologia mais tradicionais que recorrem a ensaios destrutivos como a abertura de janelas de inspeção ou a realização de furos para observação através de boroscópios ou a ensaios não destrutivos com recurso a raios-x ou raios gama”.
Colaboração e parceria com a comunidade académica, científica e empresarial
A IP pretende colocar o documento que elaborou à reflexão da comunidade científica, académica, tecnológica e empresarial com o intuito de recolher “inputs” e estabelecer parceiras que permitam desenvolver e concretizar alguns desses projetos. Para já, foram assinados três protocolos de colaboração com a UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; o CEiiA – Centro para Excelência e Inovação para a Indústria Automóvel; e a PTPC – Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção. Consoante os projetos, a IP oferece informação, orientação, acompanhamento e/ou infraestruturas para testes ou desenvolvimento.
Os técnicos da IP apostam, igualmente, na criação de “soluções de pavimentação que contribuam para maximizar a sua durabilidade e ainda para a redução da pegada de carbono, tanto na construção como reabilitação, seguindo os princípios da Economia Circular”.
No plano das infraestruturas inteligentes, a IP pretende desenvolver um sistema robotizado de deteção e reparação automática de juntas de alvenaria. “Este sistema deve permitir a deteção das juntas das alvenarias, a lavagem a jato de água e a injeção de forma regular e competente, com argamassa adequada”, explica.
Vias geradoras de energia renovável
Na área da sustentabilidade ambiental, a IP encara as vias de transportes como potenciais “geradoras de energia renovável”, aplicável a diferentes finalidades. A IP pretende analisar, em concreto, a implementação de “fornecimento dinâmico de energia aos veículos em circulação nas estradas, incluindo a sua aplicação a nível nacional”.
Para a IP, é importante a realização de estudos sobre novos materiais estruturais, quer para estruturas novas, quer para reforço de estruturas existentes, cuja produção não tenha uma componente tão elevada de consumo de energia. “Esta análise deverá ter em consideração o contexto da economia circular e os princípios de eficiência energética e resiliência ambiental dos materiais”, sublinha o manual da IP.
No espírito de uma economia circular, a IP quer ainda estudar soluções de reutilização, reciclagem ou transformação de travessas de betão bibloco, sem possibilidade de aplicação na rede ferroviária nacional e atualmente consideradas resíduo.