O fogo interfere na criação de riqueza, na fixação de pessoas no meio rural, na proteção das populações, na criação de um país mais coeso, entre várias outras coisas. Mas a verdade é que se o mundo rural não produzir, as cidades não terão alimento, não terão oxigénio, o ciclo hídrico não se regulará, os solos não se fixarão e as alterações climáticas terão um efeito ainda mais dramático para a humanidade.
Ano após ano, assistimos ao flagelo dos incêndios, a que se segue um corrupio de identificação dos problemas e das soluções para os resolver. Acontece que implementar as soluções necessárias é caro. É por isso essencial criar um plano concreto transversal aos diversos partidos políticos que permita implementar um conjunto de políticas e de ações, concebidas de forma partilhada por produtores, sociedade civil, cientistas e autoridades.
Sabemos que o foco do investimento nos incêndios tem sido o combate e a proteção das populações mas a única coisa que pode travar o número e a dimensão dos incêndios rurais é um plano de médio prazo para a nossa floresta que não esteja sujeito a ciclos políticos e que tenha compromissos transversais a todos os partidos para uma política integrada, ou corremos o risco de continuar a ser o campeão europeu dos incêndios, como evidenciou o mais recente relatório da WWF sobre incêndios no Mediterrâneo – “The Mediterranean Burns – WWF’s Mediterranean proposal for the prevention of rural fires” (WWF, 2019)
Este plano deve cobrir diferentes ângulos, mas deve sobretudo assegurar a existência de meios para a implementação das leis e das políticas públicas, a criação de um mosaico rural multifuncional e mais resistente ao fogo, incentivar por meio de uma política de impostos verdes as boas práticas de gestão do território rural e criar condições para criar novas atividades económicas que tornem o meio rural e as florestas, em particular, mais lucrativas para as comunidades que delas dependem.
Tal plano pode incluir-se num Novo Acordo para a Natureza e para as Pessoas, uma chamada da WWF para que pessoas, empresas e governos se mobilizem num acordo para uma significativa reversão da perda de natureza, protegendo e restaurando a biodiversidade global e revertendo as tendências devastadoras sublinhadas no “WWF’s Living Planet Report 2018” (WWF, 2018)
Posto isto, cabe-nos decidir até que ponto queremos que a floresta e o meio rural sejam um desígnio para o desenvolvimento económico e social de Portugal e se devemos exigir à sociedade civil e aos políticos nacionais um meio rural capaz de prover à cidade os serviços de aprovisionamento, regulação e suporte de que tanto precisamos. Caso contrário observaremos a máxima: “se o campo não planta, a cidade não janta”.
