Uma coligação de Organizações Não-Governamentais (ONG) de ambiente da Alemanha, Bélgica, Espanha, Estados Unidos da América, França, Holanda e Reino Unido e agora também envolvendo a Zero em Portugal tem vindo a desenvolver a campanha sobre os custos ambientais dos muitos quilómetros efetuados por veículos TVDE (transporte individual e remunerado de passageiros em veículos descaracterizados a partir de plataforma eletrónica), com particular ênfase na maior empresa, a Uber, sob a sigla #TrueCostOfUber.

Esta campanha tem como objetivo informar os cidadãos e as autoridades de grandes cidades como Lisboa dos custos da poluição acrescida por este tipo de transporte, apelando à necessidade de se utilizarem como veículos TVDE apenas automóveis de emissões zero. O objetivo é que na Europa essa meta seja atingida até 2025.

EV, proposta comercial atraente

Os veículos elétricos estão a tornar-se uma proposta comercial atraente para as operadoras de veículos de elevada quilometragem como a Uber, nas principais capitais da União Europeia como Lisboa, Paris, Berlim e Madrid revela um novo estudo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E) que também envolveu a Zero na abordagem aos dados referentes a Lisboa.

Em Portugal, o custo total de propriedade no caso dos TVDE é 19% inferior para os veículos 100% elétricos face a veículos diesel

Revelam os ambientalistas que os veículos 100% elétricos de tamanho médio são já, em média, 14% mais baratos do que os automóveis equivalentes a gasóleo, se forem efetuados carregamentos lentos durante a noite perto de casa e/ou carregamentos rápidos a taxas preferenciais.

“No caso de Portugal, o ganho é de 4 cêntimos por quilómetro entre um veículo 100% elétrico e um veículo a gasóleo, correspondendo a uma poupança de 19%, o que para 60 mil quilómetros percorridos por ano considerados no estudo permite uma poupança anual de 2.400 euros”, apontam os cálculos da Zero.

Escolher veículos 100% elétricos já é mais barato

Se se considerar o valor mais reduzido da eletricidade num carregamento noturno, em tarifa de período de vazio, o ganho é, então, muito superior.

Mediante isto, para as ONG não há grande dúvida: os mercados de táxi e transporte de passageiros têm todas as possibilidades de serem os primeiros a se tornarem totalmente elétricos.

“A economia dos veículos elétricos – mais caros na aquisição, mas muito mais baratos na operação – combina perfeitamente com empresas de elevada quilometragem e baixa margem, como os TVDE e táxis. Os motoristas de TVDE podem fazer até cinco vezes mais quilómetros que um condutor comum”, dizem os ecologistas que sublinham: “Esta é uma situação em que todos ganham: motoristas/empresas, cidadãos e o planeta”.

“Quanto mais cedo a Uber, outras plataformas e empresas do mercado TVDE e os táxis se tornarem 100% elétricos, mais cedo os cidadãos desfrutarão de um ar mais limpo e de cidades mais silenciosas, o planeta terá menores emissões a agravarem as alterações climáticas e os motoristas/empresas terão um maior rendimento. Se a Uber quiser liderar a mudança e fazer parte da solução nas cidades, a empresa deverá comprometer-se com a realização do total das suas viagens de forma 100% elétrica até 2025 nas principais capitais europeias”, desafiam os ambientalistas.

Infraestrutura de carregamento é fundamental

A associação Zero assume que o carregamento é uma barreira essencial para a captação de motoristas profissionais para recorrerem a veículos elétricos.

“Como o carregamento lento é mais barato, mas demora várias horas, as estações de carregamento lento e acessíveis ao público em áreas residenciais onde os motoristas moram são essenciais para reduzir significativamente os custos operacionais.

É essencial um maior número de postos de carregamento para garantir mais veículos 100% elétricos.

Paralelamente, são necessários carregadores rápidos dedicados para que os motoristas de veículos elétricos carreguem durante o dia ou noite, enquanto descansam ou esperam por clientes”, afirma Francisco Ferreira, presidente da Zero.

Os cálculos da T&E integrando todo o ciclo de vida dos veículos estimam que hoje os veículos elétricos reduzem em média em dois terços as emissões de dióxido de carbono em toda a Europa em comparação com carros a gasóleo.

Devido à elevada quilometragem dos motoristas TVDE, os benefícios climáticos de substituir um veículo com motor de combustão por um veículo 100% elétrico são ainda maiores – quase três vezes mais, conclui a T&E.

“Graças às metas climáticas da União Europeia, o mercado europeu de veículos elétricos novos alcançará 10% em 2021. Até lá, mais de 200 modelos diferentes de veículos elétricos estarão disponíveis para venda. Esses modelos serão ainda mais acessíveis, graças às recentes medidas de recuperação anunciadas nomeadamente pelos governos alemão e francês, que incluem novos incentivos à compra de veículos elétricos”, lembram os ecologistas.

Zonas Zero Emissões em Lisboa e Porto são decisivas

Na luta contra as alterações climáticas e a poluição do ar, “os residentes nas cidades e nas suas periferias precisam de viajar menos, pedalar mais e utilizar o autocarro ou o metro com maior frequência”, sintetiza a associação Zero.

Francisco Ferreira considera que os municípios têm, sem dúvida, um contributo a prestar para promover a rápida transição para veículos 100% elétricos: “As medidas mais promissoras incluem a exigência de que todos os serviços de táxi e TVDE passem a ser prestados em veículos inteiramente elétricos até, o mais tardar, 2030, e a definição de um calendário e de incentivos claros de mudança para serviços totalmente isentos de emissões”.

O papel dos municípios é fundamental.

Nesse cenário, as Zonas de Emissão Reduzidas são vistas como “um elemento fundamental mas devem, no centro das cidades, tender desde já para ser Zonas Zero Emissões, onde a entrada de veículos com motor de combustão interna seja uma verdadeira exceção”.

Explica a Zero: “A proposta cuja discussão e implementação está por agora suspensa em Lisboa relativamente à nova Zona de Emissões Reduzidas Avenida-Baixa-Chiado é fundamental ser implementada, mesmo que de modo faseado, mas sem demasiados atrasos. Também no Porto são essenciais medidas semelhantes já que os níveis de qualidade do ar na única estação de tráfego da cidade estão acima do permitido”.

Para fomentar a aceitação dos veículos elétricos, as cidades deverão criar uma infraestrutura dedicada de pontos de carregamento rápido, bem como apoiar a instalação de pontos de carregamento domésticos e de postos de carregamento lento nos bairros residenciais, insistem os ecologistas.

Empresas de TVDE têm responsabilidades na mudança

A Uber, Bolt e Kapten cresceram rapidamente nos últimos anos. Em Paris, os motoristas profissionais de TVDE triplicaram nos últimos quatro anos, de cerca de 10.000 em 2016 para cerca de 30.000 atualmente. Em Portugal, o número triplicou em 2019, atingindo quase 20.000 motoristas profissionais. Em Londres, o maior mercado de serviços TVDE na Europa, havia 88.000 motoristas ativos do tipo Uber em 2018.

Os ambientalistas consideram que para acelerar o processo de transição rumo a uma utilização generalizada de veículos elétricos na prestação de serviços TVDE, importa também que estas plataformas e as empresas e motoristas procedam a uma partilha regular e sistemática dos dados e factos relativos aos custos totais de utilização dos veículos, de modo a auxiliar os profissionais a fazer a escolha globalmente mais económica e não apenas baseada no baixo preço de aquisição: “A comunicação de informações úteis deveria ocorrer a uma escala mais alargada do que a atual, nomeadamente através de campanhas de sensibilização dedicadas, de modo a garantir que a informação do custo total de propriedade seja devidamente compreendida e tida em conta antes da compra de um automóvel novo”.

TVDE e táxis deverão ser 100% elétricos para reduzir impactes no clima e na qualidade do ar

Compromisso 100% elétrico deve ser generalizado

A Zero refere que, para além de táxis e TVDE, o compromisso de eliminação completa das emissões dos veículos motorizados deveria ser igualmente assumido por outras frotas comerciais. É o caso dos veículos de distribuição de mercadorias e das viaturas de serviço das empresas que obedecem a uma estrutura de custo total de propriedade semelhante e que também contribuem para um número desproporcionalmente elevado de quilómetros percorridos em estradas europeias.

“A eletrificação das frotas traria vantagens para a Europa em diversas frentes: qualidade do ar, clima, agenda do Pacto Ecológico Europeu, bem como para a própria indústria automóvel que tantos milhares de milhões de euros já investiu na mobilidade elétrica”, declaram as ONG ambientais.

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