Com o ano letivo a dar os primeiros passos, o Welectric foi conhecer um projeto inovador que usa a tecnologia para facilitar a aprendizagem das crianças.
BeeFluent é a primeira plataforma portuguesa que ajuda as crianças a evoluir na leitura, tendo sido desenvolvida pela startup Teckies.
Patrick Götz, responsável da empresa e que está empenhado em levar a tecnologia e robótica para as escolas (como pode ver aqui), refere que a lógica do projeto está em permitir que as crianças treinem de forma individualizada, algo que torna o processo de aprendizagem mais completo, simples e divertido, ajudando os alunos a consolidarem o que aprenderam nas aulas.
Com o apoio da agência The Square, Patrick Götz explicou ao Welectric que, com esta plataforma, os professores traçam planos personalizados de leitura, com exercícios pensados à medida de cada criança e tendo em conta as suas dificuldades: tudo isto, através de uma app que leva a leitura até casa de todas as crianças.
Welectric (W): A plataforma BeeFluent está pensada para crianças até que idade? Do ensino básico?
Patrick Götz (PG): A BeeFluent quer ajudar todas as crianças com dificuldades na leitura a evoluir na aprendizagem, independentemente das idades e do ciclo de estudos que frequentam, sendo uma plataforma completa e que pode ser aplicada às necessidades de cada um. Claro que quanto mais cedo forem identificadas e colmatadas as dificuldades de leitura, preferencialmente no 1.º ciclo, mais eficaz se revelará, por ser esta a altura em que as crianças têm maior facilidade para apreender novos conhecimentos. Sendo a BeeFluent uma plataforma web based, disponível em browser para todos os dispositivos que já são utilizados pela maioria da população, é também de fácil acesso para as crianças mais novas, permitindo-lhes trabalhar autonomamente, em casa, e até mesmo recorrer a algum apoio dos seus pais.
W: Pode ser aplicada a pessoas mais velhas?
PG: Os jovens com idade mais avançada são também um dos públicos da BeeFluent. Atualmente, existem, em Portugal, milhares de jovens que não aprenderam a ler devidamente ou que enfrentam problemas como dislexia, pelo que também estes casos podem beneficiar da solução. A aplicação pode até mesmo ser utilizada por pessoas adultas que tenham como objetivo aprender a ler uma língua estrangeira, através de exercícios adaptados e feedbacks de profissionais.
W: Em termos práticos, como funciona?
PG: Disponível para alunos e professores, a BeeFluent permite que, presencialmente ou mesmo à distância, os docentes tracem planos de leitura personalizados, que devem ser realizados de forma individual e autónoma. O processo para a concretização de um determinado exercício de leitura tem sete passos. Primeiro, o professor escreve um texto que considere indicado para o aluno, lê-o corretamente e sincroniza-o com a leitura, terminando com o envio do ficheiro de som. Assim que a criança o recebe, treina a leitura do excerto e, quando estiver satisfeita com o resultado, envia-o para o docente, que tratará de o avaliar e retornar ao aluno com o feedback adequado, em tempo real e útil. Desta forma, o docente acompanha a evolução do aluno, promovendo o desenvolvimento das suas competências de forma constante e rápida. Ao contrário das aulas presenciais, onde o docente reparte o seu tempo por dezenas de alunos, na BeeFluent é dada uma atenção exclusiva a cada caso, não sendo traçados objetivos comuns.
Os 7 passos dos exercícios BeeFluent
W: É o professor que cria os exercícios de leitura ou existe um leque de exercícios disponíveis na plataforma para o professor escolher aqueles que entende que mais se adaptam às necessidades do aluno e aos objetivos que pretende que o aluno alcance?
PG: A plataforma terá as duas opções, de forma a permitir ao professor trabalhar da maneira que lhe for mais conveniente. Os próprios professores irão criar de raiz os textos que querem integrar nos seus planos de leitura, que tenham em conta os objetivos que pretendem atingir com os seus alunos e os pontos na leitura que estes necessitam de exercitar. Depois de criados, estes exercícios serão acrescentado6s à base de dados da BeeFluent, para que sejam utilizados, posteriormente, por outros docentes, consoante a partilha que o professor lhe queira dar. Desta forma, pretendemos que sejam eles próprios a contribuir para o crescimento da plataforma e para a partilha entre professores.
W: Que tipo de exercícios em concreto são propostos para facilitar e tornar mais aliciante a aprendizagem? Pode dar exemplos?
PG: A BeeFluent pretende ser um complemento às aulas presenciais, ao levar a aprendizagem da leitura para casa das crianças, um espaço que, só por si, lhes é mais familiar e cómodo. Em casa, os alunos passam cada vez mais tempo a utilizar dispositivos eletrónicos, como computadores e tablets, o que pode ser visto como uma oportunidade de os utilizar como uma ferramenta de ensino. Assim, pretendemos adaptar-nos a esta realidade, promovendo um “jogo” de leitura em que os alunos são desafiados pelos professores a gravarem áudios e lerem determinados excertos. A isto, alia-se o facto de a plataforma ter um sistema de avatar, sendo possível a criança escolher o seu, o que se aproxima ainda mais da ideia de jogo. Também parte do professor criar este “ambiente” de “jogo”, uma vez que vai monitorizando o desenvolvimento do aluno, através de objetivos, etc. O professor tem ainda liberdade total no momento da criação dos textos, sendo-lhe permitido abordar os tópicos de interesse da criança, o que irá promover ainda mais o seu entusiasmo e atenção na realização do exercício. Por estarem em áudio e não apenas em texto, tornam-se também mais interessantes para o aluno, uma vez que este é um formato relacionado com os seus interesses e adaptado à sua geração.
W: O custo para se utilizar a App é de quanto?
PG: A utilização da BeeFluent é 100% gratuita para os alunos, uma vez que as nossas licenças de utilização anuais só podem ser adquiridas por entidades relacionadas com a educação, nomeadamente, escolas, municípios e professores. Na ótica das escolas, podem adquirir um registo e disponibilizá-lo a todos os seus alunos. Já os municípios, ao aderirem à BeeFluent, garantem acesso aos estudantes de todos os seus agrupamentos. A estes, juntam-se os professores ou explicadores, que conseguem lecionar de forma autónoma na aplicação, sem estarem ligados a uma instituição de ensino, e apoiar o desenvolvimento de um grupo limitado de jovens.
“Temos a pretensão de levar esta plataforma a toda a Europa”
W: Que tipo de escolas pensam que possam interessar-se por este vosso projeto?PG: A plataforma pode ser utilizada por alunos de várias idades e com necessidades de leitura, pelo que a consideramos útil para escolas, tanto públicas como privadas, e diferentes ciclos de estudo, desde o 1.º ao 12.º ano. No entanto, e tendo em conta o momento em que se aprende a ler, consideramos que o interesse partirá, principalmente, de escolas do primeiro ciclo.
Além disso, a BeeFluent adapta-se e pode ser utilizada em instituições com diferentes tipos de ensino, desde presencial, na medida em que é utilizada como uma ferramenta de trabalho adicional, a um modelo híbrido, que alia as aulas presenciais com o online. Com o modelo de ensino totalmente online, a plataforma assume ainda mais pertinência, uma vez que estimula uma maior relação com o professor, mesmo à distância.
W: A App está pensada para a aprendizagem de língua portuguesa. Mas pode ser também adaptada ao ensino de outras línguas? Têm esse desenvolvimento previsto?
PG: A BeeFluent permite não só apoiar a aprendizagem da língua portuguesa, mas também a de outros idiomas. Para já, os menus da plataforma existem em inglês e em português, mas, ao ser o professor a criar as atividades de leitura, estas podem ser partilhadas em qualquer língua. Além disso, temos previsto o desenvolvimento da BeeFluent para outros mercados.
W: Quais os próximos idiomas para os quais pensam disponibilizar esta plataforma BeeFluent?
PG: Temos a pretensão de levar esta plataforma a toda a Europa. Com esse objetivo desafiante em mente, o ideal é que o menu da aplicação, num futuro próximo, esteja também disponível nas restantes línguas mais faladas no continente, como espanhol, francês, alemão e italiano.
No entanto, não vemos, para já, este ponto como prioritário. Neste momento, estamos focados em consolidar a presença da plataforma em Portugal, recolher feedback por parte dos seus utilizadores, tanto professores como alunos, e investir no seu constante desenvolvimento e melhoria. Assim, quando escalarmos para outros países, a ferramenta estará já adaptada o mais possível às necessidades dos vários mercados.
“Jovens que não aprenderam a ler devidamente ou que enfrentam problemas como dislexia, também casos podem beneficiar da solução”
W: Estão a trabalhar em plataformas idênticas, mas para a aprendizagem de matemática, por exemplo?
PG: Já nos propuseram esse desafio. No entanto, neste momento, estamos focados nesta plataforma e no seu desenvolvimento apenas para o ensino da leitura. No entanto, vemos a sua aplicação às restantes áreas de ensino, como a matemática, como uma hipótese a considerar no futuro. Para nós, as plataformas de apoio à educação, como é exemplo a BeeFluent, são agora ainda mais importantes, principalmente neste momento pandémico, que veio trazer mudanças ao modelo tradicional de ensino. Aliás, no futuro, consideramos que a tecnologia e a robótica andarão cada vez mais de braço dado com a educação, ao facilitarem e complementarem os vários processos de ensino e o trabalho dos professores, mas tendo ainda um contributo positivo na introdução dos alunos às tendências tecnológicas.