Uma equipa de cientistas produziu fibras de nylon piezoelétrico (com propriedades eletrónicas desejadas), abrindo caminho para a utilização deste tecido em têxteis eletrónicos inteligentes e vestíveis (ou e-têxteis).

A equipa que realizou este desenvolvimento inclui os investigadores Saleem Anwar, Morteza Hassanpour Amiri, Shuai Jiang, Mohammad Mahdi Abolhasani, Paulo R. F. Rocha e Kamal Asadi.

Entre os investigadores que conseguiram este avanço conta-se o português Paulo Rocha, do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra (UC).

Introduzido pela primeira vez na década de 1940 em meias, o nylon é uma das fibras sintéticas mais usadas em têxteis.

No entanto, a produção de e-têxteis à base deste material permaneceu indefinida até hoje devido à dificuldade de se atingir a fase piezoelétrica nas fibras de nylon.

“A procura de têxteis eletrónicos e inteligentes tem vindo a crescer, devido à viabilidade comercial e ao interesse dos consumidores. Contudo, a indústria têxtil enfrenta, atualmente, o desafio de encontrar fibras de materiais eletrónicos baratos e prontamente disponíveis que sejam adequadas às roupas modernas”, contextualiza Paulo Rocha.

O artigo científico está aqui.

Por que não usar esta fonte de energia?

Os materiais piezoelétricos, explica este cientista, “são amplamente usados em aplicações de sensores e estão entre os candidatos viáveis para a captação de energia de vibrações mecânicas, como o movimento corporal. Em média, o nosso corpo produz cerca de 100W. Então por que não usar esta fonte de energia?”, sugere o cientista da Universidade de Coimbra.

Paulo Rocha é investigador do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra

Este estudo, liderado por Kamal Asadi, investigador do Instituto Max-Planck, na Alemanha, e professor da Universidade de Bath, no Reino Unido, centrou-se no nylon – que é um polímero piezoelétrico – justamente por ser muito utilizado pela indústria têxtil, mas cuja funcionalidade piezoelétrica na forma de fibra não foi alcançada desde a sua invenção.

“Pela primeira vez, demonstramos a fase piezoelétrica em fibras de nylon e mostramos que essas fibras podem ser usadas para a criação e deteção de eletricidade. Considerando o facto de que os nylons são materiais muito procurados na indústria têxtil, a demonstração de fibras de nylon piezoelétrico será um avanço substancial na indústria”, afirma Paulo Rocha.

Como foi possível?

A produção das primeiras fibras de nylon piezoelétrico do mundo foi possível através da engenharia de “uma mistura de solventes e técnica de eletrofiação [técnica que permite a produção de nanofibras], que permitiu a fabricação de fibras com diâmetro bem controlado na fase cristalina piezoelétrica desejada. As fibras de nylon piezoelétrico apresentam uma resposta eletromecânica muito forte quando recebem impactos mecânicos”, explica o investigador português.

Além disso, “propomos um método para aumentar ainda mais a atividade piezoelétrica das fibras de nylon”, descreve o investigador do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

“A disponibilidade de baixo custo e a presença de uma indústria estabelecida permitiriam o aumento da escala das fibras de nylon piezoelétrico em direção aos aparelhos inteligentes acessíveis”, realça Paulo Rocha, ou seja, a descoberta, já publicada na revista científica Advanced Functional Materials, apresenta infinitas possibilidades, até mesmo a geração de energia portátil.

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