As “cidades dos 15 minutos” são o modelo de cidade de futuro que os responsáveis pelo planeamento das cidades deverão ter em conta. A ideia foi deixada por Miguel de Castro Neto, Subdiretor, Associate Dean NOVA Cidade – Urban Analytics Lab Coordinator da NOVA Information Management School no arranque da 3ª edição do MobLab Congress, evento de debate e troca de ideias sobre as tendências de mobilidade mais recentes que este ano, devido à pandemia, realizou-se em formato 100% digital.
Num evento acompanhado online pelo Welectric, este especialista explicou que “a cidade dos 15 minutos” significa que qualquer cidadão, deslocando-se a pé ou em bicicleta (e não de automóvel), consiga chegar e aceder num quarto de hora aos serviços mais importantes, como ensino, saúde ou o próprio trabalho.
“Essa é a grande ambição que deve presidir à conceção das grandes cidades”, afirma este investigador para quem a “cidade dos 15 minutos” é o arquétipo de uma cidade eficiente, feita a pensar nos seus habitantes.
Este conceito pressupõe criar espaços mais sustentáveis e devolver as cidades às pessoas, tendo já aplicações concretas nalgumas cidades de grande volumetria.
Miguel de Castro Neto citou mesmo os exemplos de Melbourne (Austrália), Ottawa (Canadá), Detroit (EUA) e Paris (França) como metrópoles onde este conceito de “quarto de hora” foi já introduzido.
“é indispensável repensar o próprio meio urbano”
Na apresentação que fez no MobLab Congress, Miguel de Castro Neto salientou, porém, que para o alcançar do objetivo de favorecer a acessibilidade nas cidades através de meios suaves, é indispensável repensar o próprio meio urbano.
“Melhorar a conectividade passa por olhar a cidade como uma plataforma”, defende Miguel de Castro Neto que destaca a importância da informação para sustentar as políticas que venham a ser tomadas.
Mobilidade no contexto de uma cidade inteligente
Novas respostas
“As cidades produzem 50% dos resíduos globais, consumindo ainda 75% da energia mundial. Considerando ainda que em 2050, 70% da população mundial viverá nas cidades e que as cidades produzem mais de 80% do total de emissões de CO2 temos de desenhar formas que permitam responder a esses desafios”, diz Miguel de Castro Neto.
Para este especialista, uma das ineficiências das cidades está na primazia dada ao automóvel durante décadas, com todas as externalidades que isso acarretou.
Castro Neto deu o exemplo de uma análise feita pela Deloitte no seu Índice de Mobilidade nas Cidades, em que se evidencia que em Lisboa quase 60% das deslocações sejam efetuadas em veículos particulares e apenas 16% usa o transporte público.
Este investigador refere que o assegurar da mobilidade deve ser enquadrado no contexto de uma cidade inteligente: “Uma mobilidade inteligente é a resposta para muitas das ineficiências que existem nas cidades”.
Para este especialista, a lógica é que os decisores tenham acesso a “sensores que recolham dados que permitam tomar medidas públicas, usando dados para a sua implementação, acompanhamento e verificação contínua”.
Tecnologia para garantir eficiência
Para Castro Neto, o uso da melhor tecnologia disponível é, por isso, determinante para garantir um planeamento mais eficiente do espaço urbano, algo que “está ligado ao processo de transformação digital que está em curso”: “[A tecnologia] é um meio para chegar a um fim, cujo foco deve ser o cidadão” e para erguer uma “nova lógica de mobilidade” que embora já exista ainda está longe da sua plena concretização, diz o investigador.
Um bom exemplo do uso da tecnologia e do aproveitamento dos dados de trânsito no espírito de uma cidade inteligente destacado por Castro Neto nesta conferência é a gestão de tráfego e da semaforização feita em tempo real e em função do trânsito (e do tipo de trânsito) existente em cada momento.
“Temos tudo ao nosso alcance, temos é de tirar partido dos dados e do analytics”
Segundo este responsável da NOVA Information Management School, os veículos conectados, uns com os outros, com a infraestrutura e com os sistemas centrais, são outro exemplo da inovação que vai, igual modo, permitir melhorar a gestão de tráfego.
A palavra-chave é integrar
“A cidade como plataforma na mobilidade permite ainda informar em tempo real os visitantes; disponibilizar aplicações de apoio ao planeamento de viagens; integrar soluções de transportes multimodais mais completas e satisfatórias segundo as necessidades de cada utilizador. Falar da cidade como uma plataforma integrada de mobilidade é falar também das soluções partilhadas no espírito de uma economia circular”, declara Castro Neto.
“Alterar o paradigma de mobilidade passa igualmente por termos ‘smart parking’ e sistemas unificados de pagamento das deslocações que facilitem essa mesma mobilidade, em vez de teremos muitas formas de pagamento”, acrescenta este especialista.
Ao nível das cidades inteligentes, Castro Neto sublinha o papel que os veículos autónomos irão ter na revolução da mobilidade: “Ao invés de sermos nós a procuramos um veículo para nos deslocarmos, serão os veículos, incluindo bicicletas, a vir ter connosco”.
Este estudioso das questões da mobilidade apontou também o uso de robots e drones para o transporte de encomendas como solução para retirar pressão sobre a mobilidade urbana e para tornar mais eficientes as cidades.
Este investigador lembra que a missão “cidades inteligentes e com impacto neutro no clima” é incentivada pela Comissão Europeia que pretende que se alcance o limiar de 100 cidades na União Europeia com impacto neutro no clima até 2030, disponibilizando para tal vários instrumentos financeiros.
“A conectividade ao serviço da mobilidade sublinha a capacidade de criação de valor com base nas cidades. Assim, nós saibamos aproveitar os dados e tenhamos nós a capacidade de concretizar essa oportunidade”, declarou em jeito de conclusão.
Pandemia veio impactar a mobilidade e veio colocar novos desafios
O investigador da NOVA Information Management School focou a redução da poluição que o confinamento ditado pela pandemia trouxe, vendo isso como uma chamada de atenção e até mesmo uma “call to action” para tudo o que podemos usufruir “nas cidades se não houvesse tanto trânsito rodoviário”. Perante a plateia virtual que o escutava, Miguel de Castro Neto lembrou, todavia, que, com o desconfinamento, a pandemia veio colocar novos desafios, dada a maior dificuldade em assegurar o distanciamento físico entre as pessoas no transporte coletivo: “Depois de uma primeira fase que levou à diminuição de tráfego, a pandemia pode agora estar a contribuir para algo que não seria desejável que é o aumento do uso do transporte particular, algo que não é tão expressivo devido ao teletrabalho”, alertou este especialista.