Nos últimos anos os equipamentos elétricos e eletrónicos tornaram-se uma parte essencial do nosso quotidiano, quer como instrumentos de trabalho quer na área de lazer e até mesmo no modo como nos relacionamos com os outros. A maioria dos consumidores está cercado de eletrodomésticos em casa, de smartphones, computadores e equipamentos de entretenimento.
Segundo dados das entidades gestoras do fluxo de equipamentos elétricos e eletrónicos em Portugal foram colocados no mercado português mais de 240 mil toneladas de novos equipamentos em 2019, que representa um acréscimo de mais de 50 mil toneladas face a 2018 (fonte: Eletrão, ERP Portugal e Weeecycle).
Este tipo de equipamentos são geralmente produzidos com materiais duráveis, como plásticos e metais, no entanto, na maioria dos casos, eles são usados por um período de tempo relativamente curto antes de não serem mais considerados valiosos ou úteis pelos consumidores.
Obsolescência prematura
Com efeito, os produtores de equipamentos, em especial os da área IT, rapidamente criam novas versões mais desenvolvidas ou com novas funcionalidades que tornam os equipamentos rapidamente obsoletos e, em alguns casos, as novas aplicações desenvolvidas deixam de ser compatíveis com os equipamentos mais antigos, como sucede por exemplo com smartphones ou equipamentos de entretenimento.
Noutras situações, verifica-se que os equipamentos avariam antes do tempo considerado usual e não têm possibilidade de reparação por ausência de peças ou pelo valor da reparação ser elevado face a um equipamento novo similar (fonte: Prompt), sendo uma situação de obsolescência prematura contra a qual a Deco Proteste tem vindo a alertar.
Com efeito, os resíduos elétricos e eletrónicos são o fluxo de resíduos com crescimento mais rápido em todo o mundo. A nível europeu prevê-se que, em 2020, os resíduos elétricos e eletrónicos gerados atinjam os 12 milhões de toneladas, estimando-se um continuo crescimento que pode atingir, em 2030, e a nivel mundial mais de 74 milhões de toneladas, o que equivale a cerca de 7390 torres Eiffel (fonte: The Global E-waste Monitor, 2020).
Reciclagem desafiante
Por outro lado, verifica-se que dos equipamentos elétricos e eletrónicos descartados por empresas e consumidores a nível europeu apenas cerca de 35% acabaram em sistemas oficiais de recolha e reciclagem. Os restantes 65% foram exportados, reciclados em condições não conformes ou ilegais, enviados para deposição final junto com o lixo comum ou ficaram guardados em casa dos consumidores mesmo já não estando a ser usados. Do total dos resíduos exportados cerca de 70% eram produtos que ainda funcionavam e, por isso, poderiam ter sido aproveitados (fonte: Countering WEEE Illegal Trade (CWIT), EU FP7 Project).
Acresce que os equipamentos elétricos e eletrónicos têm componentes valiosos, como placas de circuito impresso, metais e materiais preciosos e/ou raros. Quando estes equipamentos não são recolhidos e reciclados, resulta numa séria perda de materiais e recursos para processadores de resíduos em conformidade na Europa. Esta perda anual estimada é avaliada entre € 800 milhões e € 1,7 bilhão (fonte: Countering WEEE Illegal Trade (CWIT), EU FP7 Project).
Economia circular como solução
Este sistema de economia linear dos equipamentos elétricos e eletrónicos apresenta impactos ambientais e de saúde tanto na produção como no final de vida. Com efeito, na produção dos equipamentos são usadas grandes quantidades de energia e materiais provenientes da indústria extrativa.
Quando, no final de vida, a reciclagem não é efetuada de modo apropriado em unidades de tratamento e valorização oficiais, pode existir a exposição das pessoas e do meio ambiente a produtos químicos tóxicos, como gases com efeito de estufa, gases CFCs, metais pesados e retardadores de chama.
Segundo dados da entidade gestora Eletrão, cerca de 80% das doenças reportadas nos países em desenvolvimento são resultado da exposição a substâncias tóxicas presentes neste tipo de resíduos.
Considera-se por isso fundamental a real aposta numa economia circular dos equipamentos elétricos e eletrónicos de consumo que têm elevado potencial para beneficiar a economia, a sociedade e o ambiente.
Torna-se essencial que os produtores garantam um maior tempo de vida útil dos equipamentos, de modo a que estes possam ser reutilizados, e a existência de peças para substituição, em reparadores acreditados, de modo a que os equipamentos possam ser alvo de reparação evitando-se a compra desnecessária de novos produtos.
Nas situações em que não seja possível reutilizar ou reparar, é essencial assegurar o encaminhamento para unidades de reciclagem de modo a que os materiais poluentes sejam descontaminados e os restantes materiais sejam reaproveitados para a produção de novos equipamentos elétricos e eletrónicos, como é o caso dos materiais preciosos, ou outro tipo de produtos.