Perante duas áreas tão distintas – Moda e Ecologia – como poderemos conciliá-las num conceito?
“A consciência ecológica levanta-nos um problema duma profundidade e de uma vastidão extraordinárias. Temos que defrontar ao mesmo tempo o problema da Vida no planeta Terra, o problema da sociedade moderna e o problema do destino do Homem. Isto obriga-nos a colocar em questão a própria orientação da civilização ocidental. Na aurora do terceiro milénio, é preciso compreender que revolucionar, desenvolver, inventar, sobreviver, viver, morrer, anda tudo inseparavelmente ligado.” Edgar Morin
A Ecologia e a sua evolução
É em 1866, com o biólogo alemão Ernest Haeckel (na obra Morfologia Geral dos Organismos), que surge o termo ECOLOGIA, da palavra grega oikos (casa) e logia (ciência) criando o termo ecologia como “ciência da casa”. Esta nova área estaria ligada ao campo da biologia e teria a função e o objetivo de estudar as relações entre as espécies animais e o seu ambiente orgânico e inorgânico.
Com o evoluir do conceito, o pensamento ecológico estruturou-se em três grandes áreas – a Ecologia natural, a primeira a surgir e que se dedica a estudar o funcionamento dos sistemas naturais; – a Ecologia social, que nasce a partir do momento em que a reflexão ecológica passa a abarcar os múltiplos aspetos da relação entre os homens e o meio ambiente; – o Conservacionismo, que surge precisamente da perceção da destruição ambiental pela ação humana.
A origem da Moda
A palavra MODA provém do termo latino modus, através do francês mode e costuma referir-se especificamente aos diversos estilos de vestuário que prevalecem numa dada sociedade e numa época histórica específica. A Moda expressa, por isso, os valores da sociedade – usos, hábitos e costumes – num determinado momento sendo considerada um fenómeno sociocultural.
Se pensarmos no que significa atualmente a palavra MODA, esta noção só aparece nos meados do século XIX, com o uso generalizado da crinolina e dos espartilhos, em diversos países. Se pensarmos numa perspetiva etnocêntrica, a noção de moda remonta ao final da pré-história em que os adornos em metal, as peles, penas e ossos de animais se tornavam um sinónimo de poder e status social dentro da tribo. Na antiguidade clássica, com a Grécia e Roma e até um pouco antes na Babilónia e no Egipto, é absolutamente fascinante a ideia de moda e beleza presente nestas civilizações.
Uma permanente mudança
Na verdade, Eco Fashion é um conceito complexo que nos obriga a uma reflexão sobre o mundo em que vivemos, a capacidade de escolha que fazemos, as opções de vida que temos e, acima de tudo como nos queremos apresentar perante o “outro”.
A forma como nós comunicamos visualmente, e da qual o vestuário, calçado e acessórios são um fator fundamental, é a forma como os outros nos apreendem visualmente, nos entendem, nos abordam e nos classificam. Esta comunicação não-verbal da qual o vestuário e acessórios são a primeira impressão é realmente a peça-chave num mundo que atualmente funciona mais pelo que parece e menos pelo que é.
Daí que Eco Fashion seja uma abordagem fundamental, num mundo em permanente mudança, com uma preocupação cada vez maior com o ambiente, mas com uma estética cada vez mais apurada. Neste sentido, a conjugação de princípios básicos de Eco Design com os princípios da Moda poderá resultar em produtos inovadores, ecológicos e esteticamente muito interessantes.
Princípios gerais do Eco Design
Quando referimos Eco Fashion, remetemo-nos para os princípios do Eco Design, mas com a especificidade de design de produto da área de vestuário, acessórios, adereços, ou seja, toda a gama de produtos associados ao termo Moda em que o fator de sazonalidade é preponderante.
Assim, quando falamos de Eco Design poderemos falar dos princípios gerais:
- Reciclagem – usar, sempre que possível, materiais reciclados e recicláveis, evitando desta forma usar materiais que desgastem mais os recursos da Terra;
- Reutilização – reutilizar materiais de produtos que já não estejam em condições de serem usados;
- Reduzir – usar o mínimo possível de materiais na construção e produção;
- Reduzir o impacto nos cursos de água ao descartar produtos químicos tratados e com segurança;
- Reduzir – Redução de emissão de carbono e de uso de água na produção;
- Desperdício Zero – criar e desenhar de acordo com o maior aproveitamento de materiais, criando o mínimo resíduo possível ou nenhum;
- Reaproveitamento – reutilizar todos os desperdícios gerados pelo corte;
- Recuperação – recuperar peças não utilizadas, atribuindo-lhes novas funções;
- Utilizar materiais naturais e que possam ser devolvidos à natureza sem a poluírem.
O Eco Design aplicado à moda
E quando falamos de Eco Fashion, falamos de princípios específicos da área da Moda, no que respeita a marcas e ao que elas representam:
- Que são preocupadas com o ambiente e que utilizem os princípios da sustentabilidade e do eco design;
- Que desenhem peças impactantes e com um design identitário e com que se identifique;
- Que produzem peças com qualidade e que durem bastante tempo;
- Que conheçam os seus fornecedores e que escolham criteriosamente os materiais com que trabalham;
- Que produzem em países que respeitem as leis de trabalho, da segurança social, o pagamento justo e as condições de trabalho;
- Que trabalhem com artesãos, promovendo a cultura e o património local/nacional;
- Que trabalhem com empresas e indústria local, promovendo a economia local e apoiando as micro e pequenas empresas;
- Que tenham transparência nos processos de produção, permitindo a rastreabilidade dos materiais usados na produção;
- Que tenham princípios de reutilização, recuperação, reciclagem e desperdício zero.
Embora possamos pensar que a Ecologia e a Moda são áreas dispares e que poderão entrar em conflito, estas são absolutamente complementares e poderão ter uma articulação profunda. Esta articulação deverá começar no momento da criação em que o designer, tendo os princípios de Eco Design como básicos para o seu pensamento criativo, desenhe e desenvolva os produtos. O resultado desta articulação ficará patente nos produtos em que a contemporaneidade do design e da moda se alia aos princípios da ecologia.
Segundo a Vivienne Westwood, “compre menos, escolha bem e faça durar”.

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