Vanda Gonçalves
Managing Director na Accenture Portugal – responsável pelo setor de serviços financeiros, na área de Tecnologia

Entre 2013 e 2019, as empresas com desempenho ESG mais elevado terem apresentado margens operacionais 4,7 vezes mais elevadas do que as empresas com desempenho ESG menor. As empresas com desempenho ESG mais elevado geraram maior retorno anual para o acionista, superando os seus pares em cerca de 2,3 vezes.

Uma Cloud mais verde é decisiva para um futuro melhor

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Todos concordamos que o clima está a mudar e que devem ser tomadas ações. O Fórum Económico Mundial, no seu relatório referente aos riscos globais, classificou o “fracasso da mitigação das mudanças climáticas” como o risco número um em termos de impacto e número dois em termos de probabilidade. 

Por outro lado, à medida que tecnologias avançadas como a inteligência artificial (IA), o machine learning, a realidade aumentada e o 5G se tornam mais populares, há um aumento exponencial de dados armazenados, o que significa maior consumo de energia. Uma pesquisa recente da Accenture demonstra que, por exemplo, ao treinar um modelo de IA simples para identificar flores, o aumento da precisão de 96% para 98% resultou num aumento do consumo de energia de quase sete vezes. 

Muitas empresas ainda optam por alugar ou construir data centers em grande escala, o que consome muita energia e é mais facilmente percecionado quando percebemos que, quando combinados numa base mundial, os datas centers consomem quase a mesma quantidade de eletricidade que Espanha. E o número destes centros em grande escala continua a aumentar 14% ao ano. 

Isto requer, inevitavelmente, a necessidade urgente de gerir, processar e armazenar petabytes de dados com responsabilidade. No entanto, essa necessidade só se tornará premente à medida que cada empresa se transformar numa empresa cloud first. 

A Cloud pública e a Sustentabilidade

As empresas têm gerado benefícios financeiros, de segurança e de agilidade por utilização da cloud, mas a sustentabilidade está a tornar-se igualmente imperativa. De acordo com o último estudo UNGC-Accenture Strategy CEO, mais de 99% dos CEOs de grandes empresas concordam que “questões de sustentabilidade são importantes para o sucesso futuro de seus negócios”. Dois terços veem as tecnologias da quarta revolução industrial (4IR) como um fator crítico para acelerar o impacto socioeconómico. 59% dos CEOs dizem que estão, atualmente, a implementar energia renovável e de baixo carbono nas suas operações, enquanto 44% visualizam um futuro líquido zero para a sua empresa nos próximos dez anos.

Ao selecionar um fornecedor de cloud pública, com migrações inteligentes e sustentáveis para uma cloud mais verde, as organizações podem melhorar significativamente a eficiência energética. A análise da Accenture sugere que as migrações para a cloud pública podem reduzir as emissões globais de dióxido de carbono globalmente em 59 milhões de toneladas por ano, o equivalente a retirar 22 milhões de carros das estradas. A magnitude desta redução pode percorrer um longo caminho no cumprimento dos compromissos com as mudanças climáticas, especialmente para negócios com uso intensivo de dados.

Desempenho ESG elevado gera maior retorno

O valor de mitigar as mudanças climáticas é real. Segundo esta pesquisa, o desempenho ESG (environmental, social, and governance) tem importância, o que é sustentado pelo facto de entre 2013 e 2019, as empresas com desempenho ESG mais elevado terem apresentado margens operacionais 4,7 vezes mais elevadas do que as empresas com desempenho ESG menor. As empresas com desempenho ESG mais elevado geraram maior retorno anual para o acionista, superando os seus pares em cerca de 2,3 vezes. 

Na nossa experiência Accenture de suporte a migrações cloud em centenas de clientes, temos testemunhado como uma cloud sustentável ajuda as empresas a alcançar as suas metas financeiras, tendo assistido a poupanças que atingem 30% a 40% do custo total de propriedade.  Igualmente importante é o facto das migrações para a cloud também desbloquearem novas oportunidades, como transições para energia limpa habilitadas por análises geográficas baseadas em cloud, reduções de desperdício de material decorrentes de melhores insights de dados e R&D médico direcionado como resultado de plataformas analíticas mais rápidas.

Nem todas as abordagens de migração para a cloud são criadas da mesma forma quando se trata de sustentabilidade e um modelo certamente não serve para todos. A gama de benefícios possíveis depende do foco da empresa em torno de três aspetos fundamentais: selecionar com um propósito; construir com ambição e inovar mais. 

Redução de emissões de até 98%

O primeiro passo fundamental passa por escolher um fornecedor de cloud com uma mentalidade de eficiência energética, ou seja, que tenha compromissos de sustentabilidade corporativa que afetam a forma como planeiam, constroem, alimentam, operam e desativam os seus data centers.

É igualmente importante que se projetem as aplicações para operar na cloud. Quando comparada à infraestrutura convencional, a migração para infraestrutura como serviço (IaaS) pode reduzir as emissões de CO2 em 84% e essas reduções podem, ainda, ser aumentadas até 98%, quando se projeta aplicações especificamente para  cloud, ou seja, o desenvolvimento de software pode fornecer ainda mais melhorias. A pesquisa da Accenture Labs revelou que, para certos tipos de técnicas de programação, a escolha da linguagem de codificação pode impactar o consumo de energia em até 50 vezes.

Por fim, a última recomendação tem a ver com as operações circulares. Os fornecedores de cloud têm escala única e incentivos financeiros para adotar operações circulares e produtos sustentáveis. Podem projetar hardware para longevidade, modularidade e circularidade e isso dá aos consumidores da cloud a capacidade de rastrear rigorosamente as cadeias de valor, tanto upstream quanto downstream, e recuperar valor de materiais não utilizados e fluxos de resíduos industriais.

Na Accenture, praticamos o que defendemos e, atualmente, executamos 95% das nossas aplicações na cloud. A migração gerou US $ 14,5 milhões em benefícios após o terceiro ano, ao que se somou uma economia de US $ 3 milhões em custos anualizados devido ao adequado dimensionamento do consumo de serviço.

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