
Após se prolongar por mais um dia para tentar obter consensos de última hora, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, COP26, chegou a um acordo final. No entanto, o acordo sabe a pouco, constituindo uma grande desilusão.
De resto, esse desapontamento estava espelhado no rosto e na voz do presidente da conferência climática COP26.
Alok Sharma pediu mesmo desculpa de forma emocionada pela forma como as negociações de última hora decorreram para ser possível aprovar o texto final.
“Peço desculpa pela forma como este processo foi desenvolvido. Peço imensa desculpa. Também percebo a profunda desilusão. Mas também é crucial que protejamos este acordo”, afirmou Alok Sharma, na sessão final, parando, inclusive, por uns segundos a sua intervenção.
Cedência à Índia e à China
A grande desilusão vem, sobretudo, do facto de a COP26, que contou com a participação de cerca de 200 países, ter adotado formalmente uma declaração final, com uma alteração de última hora proposta pela Índia e pela China que suaviza o apelo ao fim do uso de carvão.

Estas duas nações pediram para mudar a formulação de um parágrafo em que se defendia o fim progressivo do uso de carvão para produção de energia.
Índia e China quiseram substituir o fim progressivo – “phase out”, em inglês – por uma redução progressiva – “phase down”, na expressão inglesa.

A aceitação da expressão foi o que permitiu que se chegasse a um acordo final. Porém, a proposta da Índia e da China, que espelha pouca determinação e acabou por ficar consagrada no texto final, teve manifestações de desagrado de várias delegações, designadamente da Suíça e da União Europeia, para além de outros países que estão a sofrer já os efeitos das alterações climáticas.
Outra frase ambígua no rexto da COP26…
Outro ponto do texto final que constitui uma desilusão é o que se refere ao facto de o “apoio aos países mais pobres e vulneráveis” dever ser feito “em linha com as suas circunstâncias nacionais”, uma frase ambígua que deixa margem para os países fazerem as interpretações que entenderem, de acordo com os seus interesses particulares, em cada momento.
De resto, comentando o acordo final, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que o conteúdo reflete os “interesses, contradições e momento da vontade política do mundo hoje”. António Guterres entende que a COP26 foi um “passo importante, mas não o suficiente”, defendendo ser “hora de entrar em modo de emergência” e entregar compromissos como o fim de subsídios para os combustíveis fósseis e a eliminação do carvão.
The #COP26 outcome is a compromise, reflecting the interests, contradictions & state of political will in the world today.
It’s an important step, but it’s not enough.
It’s time to go into emergency mode.The climate battle is the fight of our lives & that fight must be won. pic.twitter.com/NluZWgOJ9p
— António Guterres (@antonioguterres) November 13, 2021
O documento reafirma o objetivo de limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC (graus celsius), decidido há seis anos no Acordo de Paris.
O acordo final da cimeira COP26 reconhece que limitar o aquecimento global a 1,5ºC exige “reduções rápidas, profundas e sustentadas das emissões globais de gases com efeito de estufa, incluindo a redução das emissões globais de dióxido de carbono em 45% até 2030 em relação ao nível de 2010 e para zero por volta de meados do século, bem como reduções profundas de outros gases com efeito de estufa”.
Para tentar suavizar o desapontamento que a COP26 gerou, Ursula Von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, preferiu olhar para o “meio copo cheio”, destacando o facto de alguns dos principais países responsáveis pela emissão de gases poluentes terem anunciado novas metas de redução. Nesse sentido, diz Ursula Von der Leyen, “a COP26 é um passo na direção certa. 1,5 graus centígrados ainda é possível alcançar, mas o trabalho está longe de terminar”.