Embora o Pacto Ecológico Europeu se centre na redução drástica da utilização de carbono fóssil, a economia da Europa continuará a necessitar de carbono como matéria-prima para processos industriais, como a produção de combustíveis sintéticos, plásticos, borracha, produtos químicos e outros materiais avançados.
“O carbono continuará a ser necessário em alguns setores económicos até 2050: continuaremos a precisar de carbono para, por exemplo, produzir combustíveis para a aviação, produtos químicos ou plásticos sustentáveis. Este carbono não deverá, não entanto, provir de fontes fósseis, mas ser reciclado na nossa economia, a partir de fluxos de resíduos, de fontes sustentáveis de biomassa ou obtido diretamente da atmosfera. A economia circular e a bioeconomia sustentável permitir-nos-ão alcançar este objetivo, promovendo soluções tecnológicas para a captura e a utilização de carbono (CUC) e a produção de produtos sustentáveis obtidos a partir de carbono não fóssil”, refere Bruxelas.
Este carbono será cada vez mais fornecido pela bioeconomia e por soluções tecnológicas que permitem captar, utilizar e armazenar CO2.
Nesse sentido, a Comissão Europeia vai procurar que, até 2030, pelo menos 20% do carbono utilizado nos produtos químicos e plásticos provenha de fontes não fósseis sustentáveis.
Tendo este enquadramento presente, a Comissão Europeia adotou uma comunicação sobre os ciclos do carbono sustentáveis, que indica como aumentar as remoções de carbono da atmosfera.
“Precisamos de aumentar as remoções de carbono”, diz Bruxelas.
“Até 2050, cada tonelada de equivalente de CO2 emitida na atmosfera terá de ser neutralizada pela remoção de uma tonelada de CO2. No entanto, a quantidade de carbono que os ecossistemas da Europa removem anualmente da atmosfera está a diminuir, e isto numa altura em que praticamente não existem soluções industriais para a remoção de carbono”, acentua a Comissão Europeia.
Bruxelas especifica que, “se continuarmos a seguir esta trajetória não poderemos, até 2050, remover carbono em quantidades suficientes para neutralizar as inevitáveis emissões de gases com efeito de estufa produzidas por setores como a agricultura, a indústria ou o transporte aéreo. Precisamos, pois, de uma estratégia que nos permita apoiar o desenvolvimento e a aplicação de soluções de remoção de carbono a uma escala comensurável com as nossas ambições climáticas”.
Qual é a estratégia mais eficaz para remover o carbono da atmosfera?
O carbono pode ser removido da atmosfera e sequestrado de forma sustentável através de soluções tecnológicas ou baseadas na natureza.
“Uma melhor gestão dos solos, que promova a captura de carbono e/ou reduza a libertação de carbono para a atmosfera, figura entre as práticas de fixação de carbono nos solos agrícolas, uma vez que contribui para aumentar a quantidade de carbono sequestrado nos ecossistemas”, referem os responsáveis europeus.
“As soluções tecnológicas visam capturar o carbono libertado durante o processo de produção ou diretamente do ar e transportá-lo do seu ponto de origem para um local de armazenamento adequado onde possa ser armazenado durante um longo período de tempo”, explica a Comissão Europeia.
“Tanto a fixação de carbono nos solos agrícolas como as soluções industriais são necessárias para eliminar, da atmosfera, várias centenas de milhões de toneladas de CO2 por ano e desempenharão um papel importante na consecução do objetivo de neutralidade climática da UE até 2050”, aponta Bruxelas.
O objetivo de neutralidade climática da UE poderá requerer a captura de entre 300 e 500 milhões de toneladas de dióxido de carbono a partir dessas fontes até 2050.
O carbono capturado na Europa será utilizado para produzir combustíveis sintéticos, plásticos, borrachas, produtos químicos e outros materiais que utilizam o carbono como matéria-prima.
Para contrabalançar o impacto das nossas emissões de CO2, a UE deverá reduzir drasticamente a sua dependência do carbono fóssil, aumentar a fixação de carbono nos solos agrícolas com vista a armazenar mais carbono na natureza e promover soluções industriais para remover e reciclar o carbono de forma sustentável e verificável.
Para a Europa alcançar a neutralidade climática até 2050, é essencial remover e armazenar mais carbono da atmosfera, dos oceanos e das zonas húmidas costeiras.
O vice presidente executivo do Pacto Ecológico Europeu, Frans Timmermans, diz que “as remoções de carbono são vitais para que os nossos compromissos em matéria de clima continuem a ser exequíveis. Paralelamente às reduções drásticas das emissões, precisamos de soluções sustentáveis para remover e reciclar o carbono, o que tornará a nossa economia mais resiliente e nos ajudará a fazer face às crises do clima da biodiversidade. Hoje definimos os princípios e objetivos principais do nosso trabalho para preparar as regras necessárias. Estas regras garantirão que as remoções de carbono sejam credíveis e tenham o efeito desejado, e contribuirão para criar novas oportunidades de negócio no domínio da fixação de carbono nos solos agrícolas para os agricultores, os silvicultores e outros gestores de terras”.
Agricultura e silvicultura, aliadas da Europa
Janusz Wojciechowski, comissário europeu da Agricultura, acrescenta que a “agricultura e a silvicultura são nossas aliadas na luta contra as alterações climáticas, porquanto atenuam o impacto destas últimas mediante a remoção de carbono da atmosfera. A fixação de carbono nos solos agrícolas reforçará o contributo dos agricultores e dos silvicultores para a descarbonização da nossa economia, proporcionando um rendimento adicional aos agricultores ao mesmo tempo que protege a biodiversidade, torna as explorações agrícolas mais resistentes às catástrofes naturais e garante a segurança alimentar. A investigação e a inovação contribuirão igualmente para este objetivo, proporcionando novas soluções aos agricultores e aos silvicultores”.
Até 2030, as iniciativas no domínio da fixação de carbono nos solos agrícolas deverão contribuir para o armazenamento de 42 Mt de CO2 nos sumidouros naturais de carbono na Europa.