A vida urbana apresenta hoje vários desafios para os cidadãos – desde a segurança pública aos transportes, passando pelas instalações culturais e as preocupações sobre os temas da sustentabilidade. De acordo com o estudo Street Smart – Putting the citizen at the center of smart city initiatives dedicado ao tema das cidades inteligentes, um terço dos cidadãos estão a considerar deixar a sua cidade devido à falta de melhores condições no que toca ao trânsito, ao elevado custo com a habitação e serviços, à falta de emprego ou à alta taxa de poluição.
Neste contexto, as iniciativas no âmbito das cidades inteligentes ajudam a conquistar a fidelidade dos respetivos habitantes e contribuem para oferecer uma nova forma de estar que melhora a qualidade de vida de todos. Nos principais serviços urbanos estas iniciativas já demonstraram o seu valor, entre a gestão inteligente de transportes públicos (através de apps que informam em tempo real a localização dos mesmos) e estacionamento (com apps para permitirem o pagamento sem recurso a dinheiro físico), até à prevenção e gestão de inundações e à segurança pública (tecnologias de vigilância inteligente com capacidade para identificar proactivamente comportamentos suspeitos), por exemplo. Além disso, 58% dos cidadãos acreditam também que uma cidade inteligente permitirá a implementação de melhores políticas de sustentabilidade capazes de assegurarem a redução efetiva dos consumos dos recursos.
As cidades que forem capazes de oferecer soluções inteligentes podem evitar a migração de pessoas e empresas, mantendo assim a sua competitividade e a capacidade de gerarem receitas. Este aspeto ganha ainda mais relevo no contexto da importância crescente que o trabalho remoto adquiriu com a pandemia, fazendo com que um grupo crescente de pessoas tenha maior liberdade e disponibilidade para migrar mais facilmente para comunidades que lhes ofereçam um estilo de vida mais moderno e com melhor qualidade.
Assim, os responsáveis pelas autarquias devem concentrar-se agora nos principais casos de uso em que os cidadãos irão reconhecer valor, principalmente naqueles que oferecem soluções mais rapidamente para os problemas considerados como os mais críticos. No estudo, acima referido, foram destacados 44 casos que foram avaliados em relação a dois critérios: a probabilidade de os cidadãos usarem a solução; e se estão dispostos a pagar mais pela sua utilização. Os que mais se destacam estão principalmente focados na mobilidade e nos serviços de fornecimento de telecomunicações (WiFi Spots), eletricidade e água. Mais de um terço (36%) está mesmo disposto a pagar mais para viver numa cidade inteligente. E este número é ainda mais elevado entre a geração dos millennials (44%), Geração Z (41%) e os cidadãos com rendimentos mais elevados (43%).
Mas o progresso na implementação de soluções inteligentes é ainda tímido. O estudo descobriu que apenas uma pequena minoria das cidades (9%) está em estágios avançados de implementação de iniciativas neste contexto, com apenas 22% a implementar um pequeno conjunto de iniciativas. Para acelerar o ritmo é fundamental trabalhar em três frentes:
1. A criação de uma visão atraente de cidade inteligente assente na sustentabilidade e na resiliência.
2. Garantir a proteção dos dados e a confiança dos cidadãos quanto à forma como estes são tratados e usados.
3. Construir uma cultura de inovação, colaboração e empreendedorismo entre a autarquia, os cidadãos e entidades externas, tais como startups, instituições académicas ou fundos de capital de risco.
Com este foco, e um conjunto de casos bem identificados de acordo com o contexto de cada comunidade, é apenas uma questão de tempo até o investimento começar a mostrar resultados.
Foto de destaque por Brandon Nelson