Em Portugal, o Grupo Auchan tem 31 hipermercados, quatro supermercados, 31 lojas My Auchan e 29 gasolineiras. Catorze das lojas  já possuem certificação ambiental e nove têm também carregadores para veículos elétricos. Pedro Cid, Diretor-Geral da Auchan Retail Portugal, refere que este investimento na sustentabilidade ambiental é para prosseguir, com mais lojas a prepararem-se para receber painéis fotovoltaicos que permitirão satisfazer, internamente, 10% de todas as necessidades energéticas do grupo a nível nacional. Esta foi uma das ideias avançadas pelo “homem-forte” da Auchan no nesta “Welectric Talk”, que pretende abordar questões relacionadas com as smart cities, a sustentabilidade, a energia e a mobilidade.

Neste mais recente videocast, Pedro Cid destaca a parceria que o Grupo Auchan tem feito com os especialistas em energia da Helexia para permitir produzir energia limpa sem desperdício: “A Helexia tem tido um papel fundamental, não só na nossa formação, como no nosso aconselhamento”. Para Pedro Cid, a sinergia com a Helexia tem trazido vantagens económicas e permitido também a “transformação do conhecimento”, levando a “novas formas de atuar” que permitem chegar a “modelos de negócio bem mais interessantes”. 

Hipermercado produz 25% da energia necessária

O diretor-Geral da Auchan Portugal dá o exemplo da loja de Paço d’Arcos, o último hipermercado da Auchan a ser inaugurado e que é também a nova sede da empresa, que dispõe de painéis fotovoltaicos, quer no hipermercado, quer no serviço de apoio, os quais produzem “só naquele espaço cerca de 25% da energia necessária. Isto é uma coisa fabulosa para nós, não só em termos de custo, mas em termos de ambiente e do nós estamos a construir para o futuro; é extremamente positivo”. Dentro dos processos que a Auchan tem em curso com a Helexia, Pedro Cid afirma que, ao nível das lojas com painéis fotovoltaicos, serão feitos mais investimentos: “Vamos fazer mais oito ou nove neste primeiro semestre e dando seguimento ao que foi lançado o ano passado, vamos chegar ao final deste ano e início de 2023 em que conseguiremos produzir internamente sensivelmente 10% das nossas necessidades [energéticas, n.d.r.],que se traduzem em números muito grandes, algo como 9 mil milhões de MW”. O responsável do Grupo Auchan entende que este aproveitamento do potencial solar traz “um equilíbrio muito positivo” à atividade da empresa, não só em termos ambientais, mas também de custo, dado o elevado preço da energia.

Pedro Cid salienta que as vantagens económicas do fotovoltaico para o negócio da Auchan explicam-se pela rapidez com que se paga: “Os investimentos que fazemos no nosso core business têm que ser pagos, grosso modo, entre 7 e 9 anos. O payback será sempre dentro disso. Todos os investimentos que estamos a fazer, quer com a Helexia, quer por nós próprio, nos painéis fotovoltaicos têm um payback de três anos e meio/quatro anos. Neste momento, até é menor com o preço a que está a energia. A questão é quanto mais sobe o preço, mais fácil se torna esta rentabilidade, por isso, é, sem dúvida, um investimento que faz sentido que entra dentro do nosso modelo de negócios e até ajuda o negócio”.

O tripé da sustentabilidade

Pedro Cid destaca a importância de, atualmente, a sustentabilidade económica estar ligada à sustentabilidade ambiental e à sustentabilidade social. O alcançar desse equilíbrio implica, na visão do responsável da Auchan, “uma revolução muito grande” nas pessoas e nas empresas. “A sustentabilidade ambiental e social cria valor, algo que durante muitos anos, era visto como uma fonte de custo. Hoje encontramos, mais do que soluções, muitas oportunidades para transformar esta sustentabilidade e este equilíbrio ambiental em valor – isso é possível, é necessário e é obrigatório, não só enquanto empresários, mas enquanto seres humanos, de fazer isto pelo país, pelo mundo e pelas novas gerações”. 

O responsável português do Grupo Auchan afirma que, ao nível dos produtos de marca própria Auchan, a filosofia é de que “tudo o que é utilização de plástico tem que ser reutilizável” e tem “que ter uma segunda vida”. Pedro Cid, que dá como exemplo na Auchan os plásticos de entrega online que são 100% reciclados “dos nossos filmes, ou seja, do plástico que entra cada vez que entra mercadoria em casa”, considera que, a respeito dos recursos escassos e de como é que podem ser utilizados sem ser em excesso, “hoje a sociedade e grande parte dos fornecedores têm esta visão e esta vontade”. 

Uma das inovações evidenciadas por Pedro Cid que o Grupo Auchan trouxe para o mundo do retalho foi a venda de roupa em segunda mão, através do projeto ‘ReUse’: “Individualmente, durante muitos anos, os artigos em segunda mão que as pessoas compravam limitavam-se aos carros e às casas, pouco mais do que isto. Hoje, há esta consciência, em todos, de que podemos tornar mais simples a utilização de muitos artigos que temos em casa e que utilizamos duas, três ou quatro vezes”, fazendo com que tenhamos “o dinheiro parado e o recurso parado”. 

O sucesso dos produtos em segunda-mão

O projeto da Auchan de roupa em segunda-mão começou com uma start-up portuguesa, a MyCloma, sendo “um verdadeiro sucesso, em três aspetos: o primeiro a reutilização do recurso da roupa; o segundo é dar oportunidade a muitas pessoas de poder ter artigos de outra forma não teriam, porque o preço é muito mais baixo. É verdade que é em segunda-mão, mas nós quando vestimos uma camisa no dia seguinte ela já é em segunda mão e depois de lavada é igual; e o terceiro aspeto, estamos a entrar no mercado em que as novas gerações dão muita importância e faz todo sentido”. Dentro desse espírito, o Diretor-Geral da Auchan Retail aponta o acordo com a Cash Converter, outra empresa que trabalha artigos em segunda mão, que em cerca de mês e meio de vigência “tem tido uma receção fabulosa dos nossos clientes, porque dá a oportunidade de poder ter um artigo que em segunda mão pode custar menos 30 ou 50% do preço em condições perfeitas e com garantias”. Essa parceria de economia circular com a Cash Converters envolve a loja da Maia e através dela podem adquirir-se telemóveis, artigos de jardim, de cozinha, de fotografia, gira discos, discos usados: “Tudo o que que seja possível continuar a utilizar um recurso que já produzimos e não implique ter que fazer novos”. 

“O modelo de negócio de só criar de novo, é insustentável, pois os recursos acabam. Esta questão da economia circular, de poder reutilizar, de poder dar acesso a outras pessoas, é um novo modelo de negócio que cria valor, não é um custo”, Pedro Cid.

Logística otimizada

Pedro Cid referiu ainda que para reduzir o impacto ambiental do transporte de mercadorias, o Grupo Auchan tem trabalhado com as equipas de supply chain e das lojas “para a otimização de rotas. Há lojas que podem receber mercadoria uma vez por dia, há outras que podem receber a mercadoria de dois em dois dias. Nós adaptamos estas rotas para que a principal mensagem seja a de que um carro não pode andar vazio” nas viagens que faz, pois isso é um desperdício. Cid acrescenta que a Auchan faz a medição da pegada de carbono no transporte de mercadorias, estabelecendo metas internas. Sobre a eletrificação da frota, a Auchan declara que será adotada “por tipos de rotas. A primeira será a que entra nas grandes cidades e que fornece as nossas lojas pequenas. Estou convencido que, em um ano, teremos todos estes carros eletrificados”. Para Pedro Cid, ainda assim, a eletrificação “não é uma solução a curto prazo para todo o parque, nem temos condições para mudar tudo e mandar os outros camiões para a sucata. Esta questão da utilização dos recursos também tem que ter aqui algum equilíbrio”. 

Em termos do impacto ambiental, Pedro Cid olha com alguma prudência para “esta nova fase de Quick Commerce, dado que, no seu entender, a possibilidade de se receberem encomendas em 20 minutos, pode estimular o consumismo: “É verdade que essas entregas podem ser feitas com meios como as bicicletas ou a pé, mas isso é muito reduzido, pois a maior parte delas são feitas com carro, com motos, em que a pegada de carbono aumenta, por isso tem que haver um equilíbrio”.

Pedro Cid, Diretor-Geral da Auchan Retail Portugal

“Comprei um eletrodoméstico usado”

Nesta entrevista, desafiado a contar qual o contributo, enquanto cidadão, para esta “revolução ambiental”, Pedro Cid, que além de reciclar, falou do seu hábito de comprar alimentos em avulso: “Adoro cozinhar e tudo o que eu consigo comprar avulso eu não compro em embalagens”. Em termos de economia circular, Pedro Cid revela a sua experiência recente de partilha e de compra de eletrodomésticos usados: “Tenho vários eletrodomésticos que devo ter utilizado apenas duas ou três vezes. Tenho mesmo um que nunca foi utilizado. Há cerca de três meses uma colega disse que queria comprar um e eu falei-lhe que tinha um exemplar em casa que eu achava que teria usado uma ou duas vezes. ‘Eu vou emprestar-te e fazemos o seguinte: ele custou-me 40 euros, dás-me 20 e vamos utilizando a meias quando precisares’. E quando cheguei a casa para o apanhar vi que não tinha sido utilizado uma vez. 

Há cerca de um mês comprei um eletrodoméstico em segunda mão, coisa que nunca pensei vir a fazer. Comprei, não por uma questão de necessidade, mas como exemplo e para tentar mudar o chip – não faz diferença nenhuma, pois está lavado, tem garantia e está em condições”.

Pedro Cid entende que “são pequenas coisas que vão fazer esta revolução”. No remate da conversa desta “Welectric Talks” e desafiado a responder se também prova comidas alternativas à base de insetos que o Auchan comercializa, Pedro Cid respondeu afirmativamente e explicou que se trata de “uma área extremamente interessante desenvolvida por uma parte da equipa da Auchan em que nós denominamos como ‘Future Taste’, para mostrar as pessoas. Enquanto comerciante, o nosso negócio é encontrar causas mais sustentáveis e dar esta oportunidade dos nossos clientes de poderem saber o que há”.

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