O terceiro videocast “Welectric Talks, Powered by Helexia” juntou utilizadores de veículos elétricos (através da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos), operadores de postos de carregamento e comercializadores de energia (através da APOCME – Associação Portuguesa de Operadores e Comercializadores de Mobilidade Elétrica), developers de soluções de informação e pagamento de postos de carregamento (através da app Miio) e a entidade gestora da mobilidade elétrica no nosso país (através da Mobi.e) – quatro representantes dos principais pilares do ecossistema da mobilidade elétrica nacional que expuseram as suas ideias sobre como podemos melhorar a rede atual de carregamento.
Na análise feita ao estado da rede, o Presidente da Mobi.e, Luís Barroso, começou por considerar “que a oferta [de postos] que temos é excelente para a procura que ainda existe”, explicando a sua ideia com números: nos momentos de uso mais intensivo da rede Mobi.e, apenas 25% dos postos estão a ser usados.
Em alturas de pico, só atingimos 25% de utilização da rede, atualmente.
“Em termos da nossa monitorização da utilização da rede, em momentos máximos de pico de utilização, nós estamos com 75% da rede em todo o país disponível, portanto, só atingimos em alturas de pico 25%”, afirma Luís Barroso que acrescenta, em consequência, que “hoje é muito mais fácil encontrar pontos de carregamento livres para carregar”.
Apesar desta avaliação positiva, Luís Barroso referiu que a rede pública vai ainda melhorar e aumentar a sua oferta. E voltou a dar números para concretizar as suas ideias: “Temos objetivos muito bem definidos. O Plano de Recuperação e Resiliência definiu como objetivo atingirmos até 2025 um total de 20 mil pontos de pagamento. Neste momento andamos à roda dos 5.000”.
“É mais complicado instalarmos um ponto por carregamento do que adquirimos uma viatura elétrica e, portanto, temos que nos antecipar [ao crescimento das vendas de EV]”, diz mobi.e.
Luís Barroso salienta que “aquilo que fizemos em 10 anos praticamente foi constituir 5.000 pontos de carregamento. Nos próximos três anos temos de fazer três vezes mais. Portanto, os desafios vão ser muito maiores ainda com mais uma particularidade: é que no último ano crescemos extraordinariamente – foi o melhor ano de sempre em termos de crescimento da infraestrutura de carregamento”, tendo esse crescimento sido “dentro de espaços de acesso público, mas de matriz privada”, caso de centros comerciais e junto de hipermercados.
“Para respondermos a este desafio vamos ter que ir para a rua e na rua, a Mobi.e tem muita experiência porque tem sido o principal instalador e as dificuldades são muitas ao nível de licenciamentos”, alerta o responsável da entidade gestora: “Vamos ter que afinar muito esta bitola para chegarmos aos nossos objetivos que eu acredito que iremos chegar como temos vindo a atingir”.
“O futuro é elétrico em termos de mobilidade e de forma transversal, não apenas ligeiros, mas também comerciais e transportes públicos. Isso vai trazer-nos obviamente maiores desafios do que foi até agora”, declara Luís Barroso.
“Temos um objetivo: 20 mil pontos de carregamento até 2025”, diz Luís Barroso, da Mobi.e., com “investimentos pontuais à medida que fomos detetando necessidades para o fazer, mas até agora o mercado tem vindo a responder extraordinariamente”.
Estratégia de investimento público no interior
Sobre qual a estratégia seguida pela Mobi.e para atenuar o facto de o interior poder ficar com uma menor cobertura de postos, Luís Barroso declarou que, neste momento, a Mobi.e está a liderar dois projetos “que também apelidamos de piloto porque têm uma dimensão residual mas são transversais a todo o país: nos grandes centros onde a procura é maior estamos a instalar hubs de carregamento constituídos por nove postos de carregamento solar (serão 18 pontos de carregamento em cada um dos hubs) e nas zonas do interior estamos a levar postos de carregamento ultra-rápido exatamente para complementarmos aquilo que hoje em dia ainda não é apetência dos privados”.
“Temos um objetivo: 20 mil pontos de carregamento até 2025”, afirma mobi.e
Luís Barroso prosseguiu: “Vamos continuar a monitorizar a rede e as necessidades e a intervir sempre que for necessário, mas na procura de garantirmos o equilíbrio porque não podemos esquecer que as empresas estão numa fase de enormes investimentos e precisam de recuperar esses investimentos para dar sustentação ao mercado no futuro. Se nós não tivermos esse balanceamento aquilo que poderá ser uma boa ideia à partida no curto prazo será drástico no médio e longo prazo e não é isso que queremos”.
“Queremos, de facto, responder, colocando a oferta onde for necessária e entregá-la depois aos privados para fazerem aquilo que sabem fazer e que a Mobi.e, de facto, não sabe fazer –neste momento, é este o panorama”.
Lembrando que o facto de o projeto da rede-piloto da mobilidade elétrica ter sido congelado, a certa altura, tornou muito mais difícil o retomar da requalificação da rede, Luís Barroso salienta que, “ultrapassadas essas barreiras”, a evolução da própria Mobi.e levou-a a mudar “totalmente a sua estratégia de atuação do mercado”, passando “a ser um facilitador no mercado e essa é a sua posição e o seu posicionamento”.
O presidente da Mobi.e afirma que a gestora pretende “ser o integrador de players e com isso, neste momento, já conseguimos ter mais de 70 operadores, mais de 20 comercializadores e mais de 30 instaladores ou produtores de carregadores integrados na nossa rede. E mais virão”.
Carregamento píublico: uma rede moderna que vai ser melhorada, garante mobi.e.
Luís Barroso adiantou estar a trabalhar com mais players para virem a integrar a rede pública “e, portanto, o que nós perspetivamos é, de facto, no futuro que as condições sejam melhoradas” de uma rede que o presidente da Mobi.e entende que é “moderna em termos de serviços oferecidos ao utilizador”.
Luís Barroso destaca o facto de a rede Mobi.e permitir pagamentos ad-hoc, ou seja, sem contrato, e pagamentos com cartão de crédito: “No futuro, eu penso que isso será transversal porque todos os comercializadores e operadores estão neste momento em fase de investimentos de adaptação dos seus sistemas para permitir essas ferramentas. A própria Mobi.e está, neste momento, a desenvolver uma nova plataforma mais robusta exatamente para nos prepararmos para os desafios que aí vêm e para podermos, de facto, suportar todos os carregamentos – neste momento são milhão e meio de carregamentos por ano irão ser muitos mais no futuro e, portanto, temos que ter uma infraestrutura adaptada e robusta suficiente para responder às solicitações”.
O “Welectric Talks, Powered by Helexia” foi uma oportunidade para se lançarem ideias para o futuro e como é se poderia melhorar a infraestrutura da Mobi.e.
Nestas “Welectric talks, Powered by Helexia”, Henrique Sánchez, presidente da UVE, diz que “o modelo em português tem uma grande vantagem em relação a qualquer outro modelo – e eu tenho viajado bastante Europa – e que é a possibilidade de apenas com um cartão se poder fazer um carregamento através da rede disponível de carregamento, da rede pública de carregamento sobre a gestão da Mobi.e. Em Portugal existem depois redes complementares privadas que vem complementar a rede pública de carregamento e daí falarmos em rede nacional de carregamento”.
Rede de carregamento tem de ser de fácil acesso, defende UVE
O responsável da UVE, diz que, enquanto associação de utilizadores de veículos elétricos aquilo que nos interessa “é que haja uma rede de carregamento a nível nacional disponível para qualquer utilizador que seja de fácil acesso e seja friendly para conseguirmos descomplexar um pouco a complexidade que o modelo inicialmente apresentava”.
No entanto, a UVE, diz que o caminho da eletrificação “tem que se acelerar”, sendo “necessário que a rede pública de carregamento disponibilize aquilo que nós há anos pedimos e o regulamento da mobilidade elétrica permite que é eu poder pagar com cartão de débito ou com cartão de crédito; isso facilitaria a vida aos estrangeiros, aos emigrantes e a qualquer pessoa”.
Para o presidente da UVE, “ainda melhor e mais avançado do ponto de vista tecnológico é poder fazê-lo através de uma aplicação sem necessidade de utilizar um cartão físico e isso já hoje é possível em Portugal”.
“Para nós, como utilizadores e comparando o que era a realidade da mobilidade elétrica há dez anos ou mesmo há seis anos, o salto é gigantesco. Temos uma rede pública de carregamento que permite viajar por todo o país – podemos apenas utilizar um cartão CEME, embora sem ainda a interoperabilidade com o estrangeiro e essa é outra das falhas, mas do que sabemos é um processo que está, neste momento, a decorrer. Tem a possibilidade de eu com esse mesmo cartão ou a App eu poder carregar em toda a Europa como aliás deve ser para Portugal como país da União Europeia”.
Um desejo expresso por Henrique Sánchez nesta mesa-redonda é que Portugal possa vir a ter estações multi-carregadores, com cobertura – de preferência com cobertura com painéis fotovoltaicos que poderiam disponibilizar a produção de, pelo menos parte da energia, que vamos carregar – e com outros serviços: “Enquanto estamos a carregar podermos ter disponibilidade de wi-fi, um parque infantil e, porque não, um parque para os animais domésticos, enfim termos estações de carregamento dignas desse nome, em que temos um conjunto de serviços no mesmo local. Neste momento, fazem ainda falta coberturas: no inverno para a chuva e no verão por causa do sol”.
“Não conseguimos fazer crescer a rede de carregamento de um dia para o outro, por muito que queiramos acompanhar a evolução do mercado de EV”, indica Carlos Ferraz, da APOCME.
Para Carlos Ferraz, presidente da APOCME – Associação Portuguesa de Operadores e Comercializadores Mobilidade Elétrica, “todos os modelos são melhoráveis”, mas “nós não conseguimos fazer crescer uma rede de carregamento de um dia para o outro, por muito que queiramos acompanhar a evolução do mercado de veículos e dos veículos 100% elétricos em Portugal”.
“Eu acho que a rede pública portuguesa é uma rede que está, inclusive, acima daquilo que são o número de veículos existentes. É claro do ponto de vista utilizador há sempre o outro lado da moeda e considerar sempre que são de menos, mas nós temos que usar [de forma equilibrada] os pratos de balança para se ver quais são os interesses dos utilizadores e as necessidades dos operadores e perceber também como é que os players, que estão no mercado e fazem investimentos neste setor, conseguem contrabalançar isso e fazer disso também modelo de negócio e tirar as suas receitas”, afirma Carlos Ferraz.
O presidente da APOCME, entidade que nasceu no verão do ano passado e que agrupa cinco fundadores (EDP Comercial, Galp Power, KLC, Mobiletric e Prio), defende, por isso, “um ponto de equilíbrio” para se “gerir estas duas situações” e interesses.
Pelo meio, Para Carlos Ferraz, diz que é importante “poder simplificar a vida quer dos clientes, quer dos operadores, quer dos comercializadores”.
Por seu lado, Daniela Simões, co-fundadora e CEO da Miio, empresa portuguesa que desenvolveu uma App para carregamento e pagamento de pontos de carga, entende que será difícil que venhamos a ter nos pontos de carregamento, a informação dos tarifários semelhantes aos que temos, atualmente para gasolina e para o gasóleo devido às diferenças variáveis envolvidas nesse cálculo e até das curvas de carregamento diferentes”.
Daniela Simões refere, porém, que as Apps, como a que a sua empresa desenvolveu, são a solução, pois permitem ver logo quando é que eu vou pagar, monitorizar remotamente”, à semelhança do que acontece nos estacionamentos.
A CEO da Miio diz que algo que seria uma mais-valia para a rede de carregamentos pública seria a disponibilidade de “pagamentos adhoc, não necessariamente um TPA, mas em toda a rede com instruções claras para qualquer pessoa conseguir carregar”.