É o fim da linha para os motores de combustão interna na Europa. Foi desta forma que o grupo verde Transporte e Meio Ambiente (T&E) comentou a decisão dos governos da União Europeia de concordarem em terminar as vendas de automóveis e carrinhas com motores de combustão interna até 2035.
O acordo alcançado pelos Ministros do Ambiente, sob a batuta de Agnès Pannier-Runacher, ministra francesa para a transição energética, faz a mudança para veículos zero emissões, permitindo um consenso com o Parlamento Europeu que votou a favor no início deste mês.A portuguesa associação Zero considera que a decisão “quebra o domínio da indústria petrolífera sobre o transporte e dá à Europa uma possibilidade de descarbonização até 2050”.
“Os governos europeus tomaram a decisão histórica de acabar com a venda de carros poluentes. O transporte é a maior fonte de emissões e os carros são a maior parte do problema. Hoje é um grande passo em frente para a luta climática, mas também para a poluição do ar e para tornar os veículos elétricos mais acessíveis”, salientam os ambientalistas.
Embora os ministros, no âmbito do pacote “Fit for 55”, tenham concordado que os fabricantes não deveriam receber créditos para as suas metas de dióxido de carbono para carros movidos a combustíveis sintéticos, consideraram que a Comissão deveria apresentar novas propostas para permitir o seu uso no futuro, algo que desagradou aos ecologistas.
“Os carros movidos a combustíveis sintéticos emitem significativamente mais CO2 do que os veículos elétricos a bateria ao longo de seu ciclo de vida e emitem tantas emissões de óxidos de azoto tóxicas quanto os veículos a gasolina”, recordam os ambientalistas.
As associações de ambiente, incluindo a Federação Europeia de Transportes e Ambiente de que a Zero faz parte, pedem agora aos eurodeputados que não deem qualquer possibilidade de fomentar os combustíveis sintéticos, “que também são mais caros e implicam um uso muito menos eficiente de eletricidade renovável do que a eletrificação direta, devendo ser direcionados para outros modos de transporte como a aviação”.
“O fim dos motores de combustão é uma grande notícia para o clima e para a saúde. Mas novas propostas sobre combustíveis são um desvio. Não vamos perder mais tempo com combustíveis sintéticos, mas sim focarmo-nos na implementação da infraestrutura de carregamento, na requalificação dos trabalhadores para a transição elétrica e no fornecimento responsável de material para baterias”, acentua a T&E.
Portugal fez um acordo com mais quatro outros países europeus (Itália, Roménia, Bulgária e Eslováquia) para que o fim dos carros com motores de combustão fosse adiado de 2035 para 2040.
A Zero apela também a uma transformação rápida da indústria automóvel portuguesa no sentido de começar a produzir veículos elétricos com urgência “e esquecer de vez os enormes e pesados automóveis híbridos plug-in, ainda fomentados por uma fiscalidade inadequada no nosso país”.
Os governos da UE entrarão agora em negociações com o Parlamento Europeu sobre a lei final. A próxima presidência checa do Conselho da UE deve dar prioridade à obtenção de um acordo sem demora.
No entanto, apesar do diploma ter passado nesta instância, Portugal, Itália, Roménia, Bulgária e Eslováquia foram países que tentaram evitar a aprovação da medida, numa jogada de bastidores antes mesmo do Concelho de Ministros do Ambiente, denunciam os ecologistas, numa posição que foi, entretanto, confirmada pelo governo português.
O que é que Portugal queria?
A medida defendida por Portugal e por mais estes quatro paises era de que em 2035 os ligeiros de passageiros estivessem sujeitos a uma redução das emissões de apenas 90% e os ligeiros de mercadorias de 80%. Os 100% ficariam para 2040.
Os cinco países defendiam um maior período de transição para não criar “custos desproporcionais e desnecessários tanto para a indústria automóvel como para os consumidores, apesar de coerentes em relação às metas climáticas”.
A Zero lembra que “numa manobra de antecipação do Conselho de Ministros do Ambiente da União Europeia (UE), Portugal, Itália, Roménia, Bulgária e Eslováquia tomaram uma posição conjunta que minava a votação favorável do Parlamento Europeu de impor um corte de 100% nas emissões de dióxido de carbono (CO2) de novos automóveis a partir de 2035 e gorar a ambição de proibir a venda de carros a combustão a partir de 2035, o que teria sido uma machadada no Pacto Ecológico Europeu”.
Esta posição suscita uma apreciação da Zero que “deseja que Portugal esteja inequivocamente na frente do combate ás alterações climáticas e ponha a saúde e bem-estar dos cidadãos à frente das pressões e interesses de grandes empresas”.