A “gigabateria do Tâmega” é um dos maiores projetos hidroelétricos europeus dos últimos 25 anos e está a nascer em Portugal.

O sistema eletroprodutor terá capacidade para produzir 1.766 gigawatts-hora anualmente, o suficiente para abastecer 440.000 residências, ou seja, o equivalente à população de Braga e Guimarães e o correspondente a 3,6% do consumo elétrico do país.

Trata-se de um conjunto de três barragens (Daivões, Gouvães e Alto Tâmega) e três centrais hidroelétricas, cuja primeira fase (composta pelas barragens de Daivões e Gouvães) foi inaugurada esta segunda-feira.

As três centrais terão, juntas, capacidade instalada de 1.158 MW, o que representará um aumento de 6% da potência elétrica total instalada no país.

A restante infraestrutura do Sistema Eletroprodutor do Tâmega, composta pela barragem do Alto Tâmega, deverá ser concluíuda até junho de 2024.

A “gigabateria do Tâmega” possui capacidade para armazenar até 40 gigawatts-hora de energia.

A obra pertence à Iberdrola, a concessionária encarregue do projeto, tendo um investimento previsto total de 1,5 mil milhões (nas três barragens e centrais hidroelétricas correspondentes).

Das três barragens, Gouvães é a única onde foi instalado um sistema de bombagem, tecnologia que permite armazenar eficientemente grandes quantidades de energia, sendo a maior em Portugal, de acordo com a Iberdrola.

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Este projeto do Tâmega vai acabar com a emissão de 1,2 bilhão de toneladas de CO2 por ano e diversificar as fontes de produção, evitando a importação de mais de 160 mil toneladas de petróleo por ano.

Os responsáveis da iberdrola sublinham que a “gigabateria” contribui para a segurança do sistema elétrico nacional, dado que constitui uma reserva para situações de maior necessidade.

Duas das barragens estarão situadas no rio Tâmega (Daivões e Alto Tâmega) e a terceira no rio Torno (Gouvães).

BarragemAltura da paredeAltura da queda de águaPotência instalada
Gouvães30 metros657 metros880 megawatts
Daivões77,50 metros64,5 metros118 megawatts
Alto Tâmega106,50 metros87 metros106,5 megawatts

A central de Gouvães será reversível, ou seja, permitirá o armazenamento de água da albufeira de Daivões na albufeira de Gouvães, aproveitando os mais de 650 metros de diferença de altura. Esta bombagem poderá ser feita quando houver um excesso na produção de energia, permitindo recuperá-la, armazenada na forma de água, quando for mais necessária.

Durante os horários de pico, isto é, durante o dia, a central de bombeamento funciona como uma instalação hidroelétrica convencional: a água acumulada na barragem superior fechada por uma represa é enviada pela galeria de adução para a barragem inferior.

Nesse salto, a água passa pela tubulação forçada, adquirindo energia cinética que se transforma em energia mecânica rotativa na turbina hidráulica. Esta, por sua vez, converte-se em energia elétrica de média tensão e alta intensidade no gerador.

Nos horários vazios, geralmente à noite nos dias úteis e nos fins de semana, utiliza-se a energia excedente — que durante essas horas também tem um custo mais baixo no mercado — para elevar a água contida na barragem situada no nível mais baixo ao depósito superior por meio de uma bomba hidráulica que faz com que a água suba por uma tubulação forçada e através da galeria de adução. Portanto, a barragem superior atua como um depósito de armazenamento.

Como tudo funciona

Aplicada esta solução a este projeto em concreto, o sistema funciona do seguinte modo: quando o sistema elétrico nacional está a produzir mais energia do que aquela que necessita (à npite, por exemplo), o sistema de bombagem é acionado para canalizar a água de Daivões para Gouvães.

Nesse cenário, o gerador desempenha o papel de motor, com as turbinas a passarem a servir de bomba para elevar a água até Gouvães. Quando o sistema elétrico precisa de energia híbrida para responder a uma maior procura, a água percorre o caminho de Gouvães até à albufeira de Daivões.

O motor passa, assim, a servir de gerador.

Está ainda prevista a construção de dois parques eólicos ligados à gigabateria, os quais converterão o complexo numa fábrica de geração híbrida e cuja potência final se estima que chegará a 300 MW, sendo, portanto, um dos maiores projetos eólicos de Portugal.

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Jorge Sousa
Jorge Sousa
1 ano atrás

A energia esperada por este conjunto de centrais representa 3,6% do consumo nacional (1766 GWh de 49496 GWh) e não 6% como está a ser noticiado. O valor de 6% diz respeito à potência instalada em relação à potência total nacional (1158 MW de 19234 MW).

Adelino Dinis
Admin
1 ano atrás
Reply to  Jorge Sousa

Muito obrigado pela chamada de atenção. Já retificámos a informação. Cumprimentos.