Esta terça-feira, a sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, acolhe durante uma semana diversos eventos de alto nível com a participação de chefes de Estado e de governo de todo o mundo no âmbito da 77ª Sessão da Assembleia Geral da ONU.

Em antecipação, o secretário-geral da ONU recorreu ao exemplo das inundações devastadoras no Paquistão para pedir aos líderes mundiais para não “afogarem” o mundo por falta de ação climática.

As declarações de António Guterres foram feitas aos jornalistas como uma forma de antecipação do discurso de abertura da semana de alto nível, agendada para começar no próximo dia 20.

António Guterres apontou a devastação que testemunhou na sua recente viagem ao Paquistão, que ele descreveu como uma janela para um “futuro de caos climático permanente e omnipresente numa escala inimaginável”.

Guterres observou que a inundação cobre uma área três vezes maior do que Portugal. O secretário-geral da ONU criticou a resposta global à crise climática, classificando-a como inadequada, injusta e uma traição. “Seja o Paquistão, o Chifre da África, o Sahel, pequenas ilhas ou países menos desenvolvidos, os mais vulneráveis ​​do mundo – que nada fizeram para causar esta crise – estão a pagar um preço terrível por décadas de intransigência dos grandes emissores”.

Visando os líderes das nações mais ricas do mundo, o responsável das Nações Unidas lembrou que eles são responsáveis ​​pela grande maioria das emissões relacionadas com o clima e, embora também sejam fortemente impactados por secas, incêndios e inundações recordes, a ação climática em resposta, parece não estar à altura.

Guterres colocou em alta voz a interrogação sobre se a reação seria diferente se um terço dos países do G20, em vez do Paquistão, estivesse atualmente submerso.

O secretário-geral da ONU referiu que todos os países precisam reduzir as emissões todos os anos – com o G20, enquanto emissores principais, a liderarem o caminho.

Voltando ao exemplo do Paquistão, Guterres insistiu que o país, e outros em regiões vulneráveis precisam de infraestrutura resistente a enchentes neste momento, argumentando que pelo menos metade de todo o financiamento climático deve ir para adaptação e resiliência climática. E esse financiamento, deixou claro, deve vir das principais economias.

Relatório recente é preocupante

O encontro de líderes mundiais na ONU acontece quando um novo relatório coordenado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), United in Science – Unidos na Ciência – mostra que as concentrações de gases de efeito estufa continuam a subir para níveis recordes.

As taxas de emissão de combustíveis fósseis estão agora acima dos níveis pré-pandemia após uma queda temporária causada pelos confinamentos. A ambição das promessas de redução de emissões para 2030 precisa de ser sete vezes maior para cumprir a meta de 1,5°C do Acordo de Paris.

De acordo com a OMM, os últimos sete anos foram os mais quentes já registados e há agora uma probabilidade de 48% que, durante pelo menos um ano nos próximos cinco anos, a temperatura média anual seja temporariamente 1,5°C superior à média de 1850-1900.

O relatório também alerta para o facto de as cidades, que abrigam milhares de milhões de pessoas e que são responsáveis ​​por até 70% das emissões, irem enfrentar impactos socioeconómicos crescentes. “As populações mais vulneráveis sofrem mais” diz o relatório que dá exemplos de condições meteorológicas extremas em diferentes partes do mundo este ano.

“Inundações, secas, ondas de calor, tempestades extremas e incêndios florestais estão a ir de mal a pior e a quebrar recordes com frequência alarmante. Ondas de calor na Europa. Inundações colossais no Paquistão. Secas prolongadas e severas na China, no Corno da África e nos Estados Unidos. Não há nada de natural na nova escala desses desastres. São o preço de dependência de combustíveis fósseis da humanidade”, sublinha o secretário-geral da ONU, António Guterres.

“O relatório United in Science deste ano mostra ainda que os impactos climáticos estão a ir para um território desconhecido de destruição. No entanto, a cada ano duplicamos esse vício em combustível fóssil, mesmo quando os sintomas pioram rapidamente”, disse Guterres numa mensagem de vídeo.

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