As Nações Unidas definem as mudanças climáticas como mudanças de longo prazo nas temperaturas e nos modelos climáticos.
As uvas são extremamente suscetíveis a alterações de temperatura. O clima determina o local onde as vinhas podem ser plantadas, bem como a variedade de uva e o estilo resultante. À medida que as temperaturas aumentam, os estilos de vinho também estão a mudar. Calor excessivo, geadas prolongadas, incêndios, secas e inundações são acontecimentos climáticos extremos provocados pelas mudanças climáticas e que têm um impacto negativo na indústria do vinho.
Em Portugal, o calor extremo e as condições secas contribuíram para os intensos incêndios florestais, resultando em manchas de fumo que danificam as uvas. Na Península do Niágara, no Canadá, as colheitas foram perdidas devido a uma onda de frio prolongada.
No entanto, a indústria do vinho não é apenas afetada pelas alterações climáticas, mas também contribui para elas.
Enquanto alguns produtores estão a trabalhar para mitigar seu efeito sobre as alterações climáticas, como afirma Miguel Torres da Familia Torres: “[temos] que reduzir drasticamente nossas emissões e fazer ‘um pouco’ melhor não é suficiente. Às vezes tenho a impressão de que as pessoas não percebem a gravidade do problema.”
O desafio das embalagens
A International Wineries for Climate Action estima que 40% da pegada de carbono da indústria do vinho resulta da embalagem e envio de garrafas que acabam nas nossas mesas. Com 30 mil milhões de garrafas de vinho produzidas todos os anos, de acordo com a Organização Internacional da Vinha e do Vinho, a mudança é necessária e pode ser feita por produtores, comerciantes e consumidores.
Há anos, que os principais críticos de vinho — incluindo Jancis Robinson MW — avaliam o peso da garrafa nas suas críticas. Não apenas para informar os consumidores, mas também para levar os produtores a repensar as suas garrafas desnecessariamente pesadas.
Apesar do que muitos acreditam, o peso da garrafa não tem correlação com a qualidade do vinho. Garrafas mais leves e embalagens alternativas não indicam que estamos na presença de um vinho de qualidade inferior. Com efeito, muitos dos principais produtores estão a usar garrafas mais leves e embalagens alternativas, reduzindo intencionalmente a sua pegada de carbono.
Grandes monopólios de álcool, como o Systembolaget da Suécia e o Liquor Control Board de Ontário, no Canadá, o maior cliente de álcool do mundo, impuseram restrições de peso nas garrafas e incentivam o uso de embalagens alternativas. Isso coloca ainda maior pressão sobre a indústria para reduzir a sua pegada de carbono. Espero que outros agentes do mercado sigam o exemplo.
Como consumidores, também precisamos de mudar as nossas perceções em relação às embalagens. Da próxima vez que for comprar vinho, pegue em várias garrafas diferentes. Deverá notar imediatamente quais são as garrafas mais leves.
E, talvez com surpresa, constatará também que produtores reconhecidos já estão a utilizar embalagens alternativas. A ideia de chegar a um jantar com um bag-in-box ou uma garrafa de plástico, pode não ser a imagem de sofisticação que associamos ao vinho, mas desafie-se a experimentar essas opções e avalie a qualidade por si mesmo. Além disso, o seu vinho embalado de forma mais sustentável será um excelente tema de conversa.
Será que os jantares que acompanham a COP27 são acompanhados com vinho em embalagens alternativas? Bag-in-box? Talvez latas?
Foto de destaque por Maksym Kaharlytskyi