As necessidades de energia são cada vez maiores, obrigando a que a infraestrutura que conduz pela rede elétrica todos os imensos Giga Watts que alimentam os nossos escritórios, habitações, restaurantes, escolas, hospitais, ginásios, cinemas, automóveis ou fábricas tenham a capacidade de responder à altura.
Sempre que premimos o botão de um interruptor, colocamos um veículo à carga ou ligamos um eletrodoméstico tomamos como cristalino que a eletricidade está disponível sempre que desejarmos e não tem falhas.
E, de facto, em 99,9% das vezes isso é assim, graças a toda uma infraestrutura energética, de montante a jusante, que, de forma capilar, enche o país e nos permite tomar como garantida a eletricidade de que necessitamos.
Centrais de produção de energia, postos de transformação, redes de Alta, Média e Baixa Tensão e cabos de transporte são elementos que fazem parte dessa infraestrutura, apresentando-se, por vezes, como elementos invisíveis aos nossos olhos. Não damos por eles e só nos lembramos quando há alguma falha.
Com o ímpeto para uma transição energética assente em soluções mais sustentáveis e verdes, a infraestrutura tem de se adaptar a novas realidades (como redes descentralizadas e autoconsumo assentes em geração renovável acompanhados de novos pedidos de ligação à rede), a novos desafios (como a necessidade de maiores potências de produção e a estabilidade da rede até pelo crescimento dos utilizadores de veículos elétricos) e a maiores exigências (como a redução das assimetrias da qualidade de serviço).
Mais ligações a centrais de energia renovável
Nesse sentido, há muita coisa a mudar na rede elétrica nacional que, porventura, nem toda a gente se apercebe.
De janeiro a agosto de 2022, a E-Redes reforçou, por exemplo, o seu contributo para a transição energética através da ligação de 13 novas centrais de produção de energia renovável, entre as quais 10 novas centrais solares fotovoltaicas e 3 novas hídricas, bem como 6 sobre equipamentos de parques eólicos já existentes. Estas infraestruturas totalizam 202,3 MVA de potência instalada, um número 26% superior ao período homólogo.
Das novas infraestruturas operacionalizadas pela E-Redes destaca-se a ligação das três primeiras Centrais Fotovoltaicas resultantes do Leilão Solar de 2019 e a primeira Unidade de Pequena Produção (UPP) em Évora, referente a uma central solar fotovoltaica, com 1MVA de potência de renováveis ligada à rede.
O segmento de autoconsumidores teve um crescimento também expressivo nos primeiros oito meses do ano, de cerca de 25% face ao período homólogo de 2021. Este crescimento representa um total de cerca de 200 MVA de potência instalada entre 1 de janeiro e 31 de agosto de 2022.
O ano passado ficou ainda marcado pelo lançamento de um projeto-piloto, desenvolvido com a Piclo, em torno de um primeiro mercado de flexibilidade em Portugal. Isto significa que a E-Redes dá a potenciais fornecedores de serviços de flexibilidade – produtores e consumidores– novas oportunidades de negócio dentro cadeia de energia, sem exigir uma sobrecarga da rede ou dos investimentos realizados.
Todas as empresas com capacidade de ajustar a sua produção ou consumo de energia, que façam gestão de carregamento de veículos elétricos ou baterias podem ser fornecedores de serviços de flexibilidade, registar-se no Piclo Flex e fazer parte do novo serviço de flexibilidade.
Ao facilitar o processo, a Piclo Flex ajuda os operadores de redes de distribuição a desbloquear a capacidade de flexibilizar a cadeia energética e a permitir que estas empresas tenham acesso a uma receita adicional.
Quanto à mobilidade elétrica, o ano passado ficou marcado pelo crescimento do número de pedidos de integração de postos de mais de 100%, com um total de 652 pedidos efetuados nos primeiros oito meses de 2022 face aos 255 pedidos efetuados em 2021.
Modernização da infraestrutura
A modernização da infraestrutura é, assim, vital para acompanhar toda esta transformação energética, sendo outro trabalho invisível que tem vindo a ser feito, tendo, porém, uma dimensão, em termos de investimento significativa.
De 2003 a 2019, a antiga EDP Distribuição (atual E-Redes, desde janeiro de 2021) — empresa que leva a eletricidade até casa dos consumidores —, investiu, por exemplo, cerca de 2,4 mil milhões de euros na rede de baixa tensão e reduziu o tempo médio de interrupção de serviço.
Olhando para o que foi 2022, o Welectric fez um levantamento dos principais projetos de requalificação de uma rede que está a ser cada vez mais solicitada.
No primeiro semestre de 2022, a E-Redes realizou quase 16% mais ligações à rede do que no ano anterior. A partir das informações disponíveis na página eletrónica da E-Redes, chegámos a um valor de investimento a rondar os 27 milhões de euros num total de 20 projetos identificados.
Trabalhos realizados pela E-Redes em 2022 | Localidade | Valor (€) |
Renovação das instalações elétricas e redes de Alta, Média e Baixa Tensão | Porto | 12 000 000 |
Nova subestação e respetiva rede de Alta e Média Tensão | Grândola | 4 000 000 |
Nova subestação | Arganil | 3 700 000 |
Nova subestação | Guimarães | 2 500 000 |
Nova subestação | Viana do Castelo | 2 400 000 |
Remodelação nas linhas aéreas de Média Tensão | Fundão | 800 000 |
Reforço da rede de Média Tensão | Santo Tirso | 380 000 |
Três novos postos de transformação | Vila Verde | 230 000 |
Remodelação na rede de Média Tensão | Ferreira do Zêzere | 210 000 |
Nova linha aérea de Média Tensão | Oliveira do Bairro | 130 000 |
Três postos de transformação | Seixal | 115 000 |
Remodelação da rede elétrica de Média Tensão | Coimbra | 100 000 |
Nova linha de Média Tensão | Castelo Branco | 86 000 |
Reforço da rede e construção de um novo ramal de Baixa Tensão | Setúbal | 80 000 |
Novo posto de transformação | Monção | 70 000 |
Dois novos postos de transformação | Ponte de Lima | 70 000 |
Novo posto de transformação | Palmela | 50 000 |
Remodelação das linhas | Sintra | 50 000 |
Novo posto de transformação | Lousada | 25 000 |
Novo posto de transformação | Vila Verde | 20 000 |
TOTAL | 27 016 000 |
Estas melhorias abrangem renovação de instalações elétricas e de redes de Alta, Média e Baixa Tensão, a construção de novas subestações, a remodelação de linhas e a edificação de novos ramais de fornecimento elétrico. Tudo trabalhos relativamente invisíveis ao comum dos cidadãos, mas que determinam que a energia não falhe.
Portal Open Data
Outro projeto inovador, ainda pouco visível aos olhos dos clientes, lançado no final do ano passado, é o portal Open Data (https://e-redes.opendatasoft.com/), uma plataforma de acesso livre e partilha de dados da rede de distribuição energética em todo o território nacional.
O portal está disponível a todos que o queiram consultar, permitindo o conhecimento e a análise dos dados referentes aos consumos de energia, ligações da rede elétrica, operações e qualidade do serviço prestado, produção e consumo de energias renováveis e à mobilidade elétrica.
A vantagem desta plataforma de dados é que promove a transição energética do país e permite a possibilidade de se desenvolverem projetos de smart cities.
“Conhecer melhor os consumos e o cadastro de contadores inteligentes, por exemplo, pode ajudar empresas de serviços de energia a focar as suas campanhas de venda de solar PV. Por outro lado, os dados sobre as ligações à rede para mobilidade elétrica vão permitir ganhos de eficiência no estabelecimento das infraestruturas de carregamento”, salienta a E-Redes.
De acordo com a empresa, o Open Data, que reforça o compromisso da E-Redes com a transição digital que tem registado um crescimento anual do investimento da ordem dos 20% na modernização e digitalização da rede, representou em 2022 um valor que ultrapassa os 90 milhões de euros.
Contadores inteligentes
Outro investimento importante e com potencial para melhorar a eficiência da gestão da rede elétrica passou pela continuação do projeto de instalação de contadores inteligentes.
No ano passado, a E-Redes ultrapassou a marca dos 4 milhões de contadores inteligentes instalados, o que significa uma cobertura de dois terços dos clientes em Portugal Continental.
Deste total, 3,1 milhões de equipamentos encontram-se já em telegestão – mais de metade do total de contadores existentes – permitindo a recolha de dados automática, dispensando os consumidores do envio de leituras e possibilitando a emissão de faturas, por parte dos comercializadores, sem recurso a estimativas ou acertos.
“Graças a estes contadores inteligentes, os consumidores poderão acompanhar o seu perfil energético e ajustar o seu consumo de eletricidade e os técnicos da E-Redes não necessitam de se deslocar para executar ordens de serviço ou para recolher leituras, contribuindo, assim, para uma maior comodidade e eficiência, bem como para a redução da pegada ambiental. Só em 2021, com o parque instalado, foi possível evitar a emissão de mais de 1,6 de toneladas de CO2” salienta a empresa.
São milhões invisíveis, mas incontornáveis, já que as tecnologias digitais, a automação e os dados são um instrumento-chave para gerir o acréscimo de complexidade e aumentar a eficiência da rede.