O equivalente a 145 garrafas de vinho de 750ml. Essa é a média da quantidade de água necessária para produzir uma taça de vinho de 125 ml, de acordo com a Water Footprint Network. É uma surpresa para o leitor? Para mim foi.

Enquanto a agricultura em larga escala é fortemente criticada pelo uso intensivo de água, a produção de vinho parece passar despercebida. Poucas referências há relativas à enorme necessidade de água para a produção de vinho, do vinhedo à adega.

Embora o stress hídrico seja importante para a viticultura, as videiras precisam de água. Nas regiões vinícolas do novo mundo, 83% dos vinhedos são irrigados, em comparação com apenas 10% no Velho Mundo. Dito isto, face às alterações climáticas, algumas regiões vinícolas europeias que anteriormente proibiam a irrigação estão a tornar-se mais permissivas. Muitas regiões de Espanha, por exemplo, estão a relaxar as suas restrições, permitindo o que antes era impensável: a irrigação da vinha.

Desde a limpeza e enxaguamento de barricas e cubas, para cada utilização individual, até à sua utilização para controlar a temperatura na fermentação, a água é essencial na adega durante todo o processo de vinificação. 

Um produtor português de média dimensão estima que as suas adegas utilizam um a três litros de água por cada litro de vinho produzido. Mas a Academia discorda. O professor da UC Davis, David Block, estimou anteriormente que os produtores californianos usam entre 2,5 a seis litros de água para produzir um litro de vinho. Embora os grandes produtores sejam provavelmente mais eficientes, devido às economias de escala, o uso de água dentro da vinícola é muito significativo.

Nas zonas onde a rega é legalmente permitida, este é o processo que consome maior quantidade de água.Mas o seu uso na adega não pode ser ignorado.

De salientar que, nesta análise, nação foi considerada a água usada na fabricação de garrafas e/ou outras soluções relativas à embalagem.

Como reduzir o consumo de água

A escassez de água é uma preocupação crescente para algumas regiões vinícolas mas, mesmo fora dessas regiões, alguns produtores reconhecem a necessidade urgente de eficiência hídrica. Isso não apenas reduz o uso de um recurso natural limitado, como também economiza dinheiro.

Compreender o uso da água é fundamental; saber a quantidade de água consumida para fazer o seu vinho estimula a necessidade de mudança. Produtores maiores, como o Treasury Wine Estate da Austrália e o Vintage Wine Estates da Califórnia, têm elaborados sistemas computadorizados de rastreamento do uso da água, enquanto os produtores de menores dimensões podem consultar as suas contas de água. 

A consciência do próprio consumo é um ponto de partida fundamental. Ao controlar o uso de água, um produtor português média dimensão notou o gasto de uma quantidade anormal de água, o que levou à descoberta de um cano roto. O resultado fica patente no menor gasto da água e consequente poupança económica.

Há várias medidas para reduzir o uso de água na vinha e na adega, com algumas opções mais acessíveis do que outras.

O direcionamento de seu uso por meio de sensores de água e irrigação por gotejamento reduz o uso de água no vinhedo. 

Instalar sistemas de gestão de águas residuais para reutilizá-las na rega é outro grande exemplo, mas requer investimento. 

Em algumas partes da Austrália, a água residual processada está a ser usada para a rega, reutilizando um recurso precioso que, de outra forma, seria devolvido diretamente aos cursos de água. 

Sistemas de captação de chuva para irrigação e/ou limpeza é outra opção mais econômica. A utilização de sistemas de lavagem de alta pressão, com baixo consumo de água, não só cria eficiência na limpeza, mas também reduz o consumo e os custos. Reduzir a quantidade de água usada para lavar os tanques e o seu número é outra possibilidade.

É importante ressaltar que as práticas de gestão de água na indústria do vinho são um requisito fundamental em certificações sustentáveis ​​reconhecidas na Califórnia e na Nova Zelândia.

A água é pouco valorizada

A água em geral é um recurso que devia ser mais valorizado. Nos países onde existe em abundância, é muitas vezes dada como inesgotável; onde está ausente, é tratada como ouro. Precisamos de um ponto de equilíbrio e de repensar a nossa relação com a água dentro e fora da indústria do vinho.

Alguns argumentam que o vinho é um bem de luxo e que não devemos gastar a preciosa água para o produzir. É um facto que a água é um recurso natural limitado e inestimável, mas o vinho impulsiona a economia e o tecido social de muitas regiões ao redor do mundo. Por esse motivo, a questão deve ser encarada de uma forma mais holística.

Todas as opções devem ser consideradas no caminho para a sustentabilidade e é necessário repensar o uso de todos os recursos naturais, incluindo a água, dentro da indústria do vinho. Sobretudo se pretendermos manter esta atividade como sustentável a longo prazo.

Foto de destaque de Tamara Malaniy

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