Daniela Simões, Muvext (Miio)

Nome: Daniela Simões
Idade: 26 anos
Profissão: Chief Executive Officer
Empresa: Muvext S.A.
Cargo: Chief Executive Officer
Formação Académica: Mestre em Engenharia de Computadores e Telemática

O que é que a fascina na área tecnológica?
A tecnologia está em constante evolução e tem o poder de revolucionar todos os setores que afetam direta e indiretamente a qualidade de vida das pessoas. Desde a economia até à saúde: a era que vivemos proporciona-nos bastante conforto e conveniência, bem como a esperança média de vida ao dia de hoje são também resultado da evolução contínua da área tecnológica, nas suas variadas facetas. 
Além de proporcionar acesso a informações e serviços nunca antes disponíveis, a área da tecnologia permite-nos criar soluções inovadoras para desafios globais, antecipar e simular cenários que permitam à humanidade desenvolver-se e proteger-se cada vez mais. Ademais, a área tecnológica é altamente colaborativa, o que permitiu, por exemplo e como hot topic, a criação de modelos de inteligência artificial, que têm revolucionado completamente a indústria, a investigação e a economia.
Por último, o que mais me fascina na tecnologia é a capacidade e a velocidade de evolução: felizmente, ainda não sabemos o que não sabemos!

Numa sociedade que enfrenta mudanças relativas à sustentabilidade e à transição energética, a perspetiva da mulher pode acelerar estes processos?
É importante constatar que cada vez mais mulheres ocupam cargos de corporativos e de liderança, podendo ser uma das consequências de, enquanto sociedade, estarmos mais conscientes sobre a importância da representatividade, incluindo a de género, e a desfazermos preconceitos. Por isto, acredito que as mulheres têm o seu contributo a dar na ciência, engenharia, economia e política, que são fundamentais para que as necessidades da população possam ser satisfeitas. Além disso, as mulheres são, tendencialmente, muito competentes em trabalho colaborativo, o que é necessário para a resolução de qualquer problema complexo e multifacetado.
Na realidade de hoje, conseguimos observar que, estatisticamente, as mulheres lideram a gestão do lar e, embora nos últimos anos tenhamos iniciado um processo de consciencialização da carga de trabalho acrescida desta gestão, a verdade é que a balança está longe de estar equilibrada. Por isto, as mulheres podem também trazer uma perspetiva valiosa em relação à sustentabilidade relacionada, por exemplo, à alimentação (e desperdício alimentar), à educação, ao orçamento familiar e até às deslocações – onde existe a consciência sobre o custo financeiro e temporal das mesmas, o que pode ser melhorado com um veículo elétrico ou com um uso de transportes partilhados –, contribuindo para a transição energética que tem como consequência um planeta mais sustentável.

O que é que, no seu entender, pode ser feito para aumentar a representatividade feminina em cargos de liderança em profissões nas áreas de ciência, engenharia e tecnologia?
Aumentar a representatividade feminina em cargos de liderança é um tema complexo e requer, certamente, uma abordagem multidimensional.
Diria que devemos começar cedo, na educação das próximas gerações, o que acredito que já começou a acontecer: bonecas para meninas e para meninos, carros e caixas de ferramentas para todos. Todos participam nas tarefas domésticas e todos aprendem como mudar um pneu: afinal, as capacidades necessárias na vida adulta são transversais a todos os géneros.
Com isto, não só estamos a desconstruir preconceitos no que diz respeito às áreas de interesse profissional de cada género, como também estaremos a equilibrar os papéis na gestão dos lares.
É importante incentivar a participação feminina, desde cedo, em atividades relacionadas a essas mesmas áreas, especialmente através de programas educativos que podem ser extracurriculares, desta forma, criar-se-á mais confiança na seleção de um curso superior que possa ser ao dia de hoje, maioritariamente, frequentado pelo género masculino.
Já no ensino superior, é importante ter especial atenção no que diz respeito à inclusão das mulheres, não só porque ainda se vive, em determinados contextos, um ambiente discriminatório — quer por parte dos colegas de curso, quer muitas vezes, por parte da docência — e agir em conformidade com a criação de um ambiente académico propício ao desenvolvimento intelectual, para ambos os géneros.
Chegados ao mercado de trabalho, deve manter-se a preocupação na criação e manutenção de um ambiente de trabalho não discriminatório e justo, que analisa e valoriza os colaboradores com base no mérito e não no género. Este cenário alcançar-se-ia mais facilmente se fossem removidas as disparidades entre géneros aos olhos das empresas, como igualar a licença de paternidade à licença de maternidade.
Posto isto, creio que dar voz e destaque à liderança feminina, quer dentro das instituições de ensino, empresas ou meios de comunicação, pode ajudar a inspirar outras mulheres a equacionarem seguir uma carreira profissional que, por defeito, não era tão óbvia.

“Dar voz e destaque à liderança feminina pode ajudar a inspirar outras mulheres a equacionarem seguir uma carreira profissional que não era tão óbvia”

Tradicionalmente, o equilíbrio da vida pessoal e profissional recai mais sobre as mulheres do que sobre os homens. Como é que enfrenta este desafio?
A escolha do/a parceiro/a com o qual pretendemos dividir a vida afeta, em larga escala, o nosso sucesso profissional e financeiro — é um facto — e, por isso, é importante dividir a vida com alguém que respeite a necessidade de foco, tempo e até de gestão pessoal para que seja possível encontrar um equilíbrio dinâmico em que as partes possam evoluir quer na área profissional, quer na pessoal.
Em cenários mais comuns, em que o casal vive junto, é importante que sejam comunicadas as necessidades de tempo para se dedicarem à vida profissional, à vida doméstica, aos filhos e ao casal e, embora as tarefas diárias possam ser distintas para cada um, é importante que a carga mental, emocional, temporal e financeira encontre um equilíbrio saudável para o casal, mesmo que esse equilíbrio não seja equitativo.
Acredito que a nossa vida profissional é, também, parte da nossa individualidade e merece ser encarada como prioritária em várias etapas da vida; cabe à mulher (neste caso), comunicar isso mesmo e, cabe ao/à parceiro/a ajustar as dinâmicas para que esse tempo, esforço e gestão de stress sejam facilitados, e vice-versa.
Salvaguardo que existem casos em que esta divisão (que me parece ser dinâmica) é utópica, como por exemplo, mulheres que são mães e não vivem com o pai dos filhos ou, mulheres que escolheram ativamente dar prioridade à dinâmica familiar em prol da sua própria realização e do desenvolvimento familiar. Ou uma mulher solteira e completamente independente. Qualquer opção é igualmente válida se maximizar a felicidade e satisfação pessoal da mesma.
Por fim, a mulher deve ocupar o seu espaço, como um ser completo com todas as suas necessidades e não deve abdicar ou comprometer o seu sucesso profissional em prol de assumir uma gestão da vida familiar que afete negativamente o seu progresso profissional, se esse for o seu desejo, e o contrário também se aplica: a vida profissional não deve impactar negativamente a vida pessoal.

Qual o melhor conselho profissional que recebeu e qual o conselho que daria a jovens mulheres que se preparam para iniciar a sua vida profissional?
Que devem saber que o género não define valor ou competência, o que pode não acontecer ao dia de hoje, infelizmente. E, por isso, poderão ter de se afirmar um pouco mais ao longo do trajeto, no entanto, têm todas as oportunidades de suceder na área profissional de eleição. 
Uma postura confiante permite que as ideias sejam ouvidas e, embora em meios maioritariamente masculinos seja esperada uma postura menos assertiva por parte das mulheres: sintam-se livres para continuarem a ser assertivas, diretas e eficientes. 
É também importante manter em mente que, para continuar a evoluir como profissional, é necessário estar disposta não só ao erro, como também à aceitação de críticas construtivas – sendo que errar e evoluir é transversal a qualquer género e é parte fundamental do progresso pessoal e profissional. Ter colegas ou mentores capazes de nos criticar construtivamente acelera, em muito, o nosso crescimento — devemos ser capazes de selecionar esse mesmo criticismo, aceitá-lo, processá-lo e aplicá-lo, se nos fizer sentido.
Por último, ter sempre em mente aproveitar em plenitude a vida profissional. É um privilégio poder construir uma carreira que realmente nos satisfaz e esse caminho deve ser celebrado e apreciado – na minha visão, celebrar as pequenas vitórias permite criar um trajeto mais feliz e sustentável.

Se pudesse jantar com uma mulher que a inspira, seja figura histórica ou atual, quem escolheria e porquê?
Escolheria a Megan Smith, não só por todo o seu mérito profissional mas também pelo seu posicionamento em defesa da inclusão e diversidade, que se concretiza, também, através da empresa que fundou, a Shift7, que com recurso a tecnologia e dados trabalha para resolver problemas sociais, ambientais, equidade e inclusão. 

Imagem de destaque gerada pelo sistema de inteligência artificial DALL-E
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