O comboio é um dos meios de transporte mais sustentáveis, inclusivamente para o transporte de mercadorias, mas, nem tudo flui sobre carris em matéria de ferrovia e para evidenciar essas lacunas representantes da Geota, da Quercus e da Zero fizeram uma comparação na deslocação entre Lisboa e Madrid, utilizando o comboio e um transporte coletivo rodoviário.

Eis o relato da “aventura”:

Os bilhetes de comboio foram comprados online, separadamente nos sites da CP e da RENFE, já que não existe opção de compra de um título único entre Lisboa e Madrid.

🚆 vs. 🚍

🚆 “O transporte ferroviário, parte de Lisboa às oito e quinze da manhã, não é direto e obriga a mudança de comboio em Abrantes, às dez horas e seis minutos, com atraso, como é frequente”.

“Conversamos com o revisor sobre a possibilidade de comprar um título único Lisboa-Madrid antecipada e remotamente e somos informados de que é possível a aquisição, com desconto, de um bilhete único entre as capitais ibéricas nas bilheterias físicas das estações do Rossio, Oriente e Santa Apolónia”.

“Este primeiro troço é servido por um comboio do serviço Intercidades para a Guarda. É confortável, os lugares são marcados, tomadas elétricas são raras, e possui acesso a rede de internet sem fios, possibilitando diversas atividades de trabalho ou lazer durante a viagem. O segundo troço é realizado em automotora Diesel, sem lugares marcados, mal climatizado, sem acesso a qualquer serviço de internet, demorado e desconfortável”.

“Chegados a Badajoz o intervalo de tempo até à partida do comboio regional com destino a Puertollano 14.30 (hora local +1 hora que em Portugal), é muito limitado e não foi possível fazer uma refeição – num feriado, como foi o caso, é impossível”.

“O comboio regional até Puertollano é confortável, os lugares não são marcados, possui uma tomada elétrica por lugar, porém não é possível o acesso à internet sem fios e mesmo o acesso à rede telefónica é muito incerto, não sendo possível a realização de qualquer trabalho remoto a bordo sem recurso a serviços de internet próprios, o que torna a realização de reuniões ou outras atividades exigentes em termos de dados muito caras. A chegada a Puertollano e transbordo para o AVE, com destino a Madrid-Atocha, é atabalhoado, confuso, com passagem pelos sistemas de deteção de metais e verificação de bagagem, obrigando a fazer o percurso plataforma-túnel de acesso inferior-subida à estação-verificação de bagagens e deteção de metais-descida ao túnel de acesso-subida à plataforma de embarque, em menos de nove minutos. O AVE é confortável com indicação de distância e velocidade, uma tomada de eletricidade por lugar e, porém também aqui não existe acesso à internet sem fios”.

A duração total da viagem, com os três transbordos, é de 11 horas e 13 minutos.
Preço 51.57€

🚍 “A viagem em transporte coletivo rodoviário parte de Lisboa às 10,20 do Oriente e chegada a Madrid-Sur às 18.45 (+1 hora em relação à hora de Lisboa). O autocarro é climatizado, possui tomadas elétricas e acesso à internet sem fios, e sistema vídeo com acesso a notícias, filmes e alguns temas. Possui WC. Tem uma paragem em Badajoz de 30 minutos (cerca das 12:30, hora de Portugal).”

A duração total da viagem directa é de 7 horas e 25 minutos.
Preço 60€

“Na viagem de regresso a Lisboa não foi possível fazer a comparação, porém partindo de Madrid-Atocha às 8h e 50 minutos, é necessário realizar dois transbordos, Badajoz e Entroncamento, numa viagem em que o troço Badajoz-Entroncamento é profundamente limitante pelos atrasos verificados (entre partida e paragens ao longo do percurso, mais de uma hora de atraso) e pelas más condições de trabalho sem prever hora de almoço para o maquinista”.

“A viagem entre Badajoz e o Entroncamento é realizada em horários desajustados às necessidades das populações que deveriam servir, as estações e apeadeiros não são servidas por sistemas de transporte complementar, não sendo de admirar que raras vezes se tenha verificado a entrada ou saída de passageiros nas estações onde a composição parou. A automotora não possuía ventilação eficaz, tendo períodos com o motor Diesel em funcionamento sem necessidade, e genericamente há uma incomodidade geral da viagem associada a horários desajustados, além de não servir as populações da beira baixa e do norte alentejano constitui um péssimo cartão de visita para um país que tenciona promover o turismo sustentável”.

A chegada a Lisboa verificou-se às 18 horas, numa duração de 10 h e 50 minutos.
Preço 51.57€

Para estas três associações, “não é aceitável que, num quadro de descarbonização da economia e diminuição da dependência dos combustíveis fósseis, seja a opção rodoviária, e não a ferrovia, a mais rápida, confiável, confortável (para não fazer a referência ao preço), aquela que melhor resposta dá às necessidades de mobilidade entre as duas capitais ibéricas”.

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