A Carta de Belgrado data de 1975. Foi há quase 50 anos que se aprovaram, sob a égide da UNESCO, os propósitos da Educação Ambiental “formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os seus problemas, uma população que tenha os conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de compromisso que lhe permitam trabalhar individual e coletivamente na resolução das dificuldades atuais e impedir que elas se apresentem de novo”. Após 50 anos, a globalização, a exploração insustentável de recursos naturais, a destruição do património cultural e natural, a crise de valores, cidadania e identidade, os conflitos sociais e a pobreza, os riscos cada vez maiores para a saúde, ambiente e diversidade cultural, tornaram-se desafios ainda mais complexos, que exigem mais educação, e principalmente mudanças na educação. Apesar de nos princípios aprovados em 1975 a educação ambiental integrar o Ambiente na sua globalidade – ecológico, político, económico, tecnológico, social, legislativo, cultural e estético – a realidade é que as iniciativas de educação ambiental ao longo destes 50 anos têm sido demasiado redutoras, e é hábito olhar para a educação ambiental como uma competência científica. Na escola, e em outros contextos de aprendizagem (não formal e informal), é normalmente às ciências que se delega a tarefa de educar para o Ambiente. Talvez por isso tarde nos indivíduos, e na sociedade, o necessário desenvolvimento de capacidades para lidar com os problemas complexos da atualidade. Todos somos poucos para responder ao desafio.

O dinamismo da evolução de conceitos a nível mundial conduziu ao florescimento de designações para a educação, e hoje falamos de educação para a paz, educação para o consumo, educação para a cidadania, educação ambiental ou de educação para a sustentabilidade, entre outras. Será possível educar para a sustentabilidade sem educar para paz, para a cidadania ou para um consumo com consciência ambiental, e vice-versa?! É necessário quebrar com a fragmentação do saber promovido pelo modelo educacional e promover a cooperação entre sensibilidades, conhecimentos e gerações. Esta realidade da simplificação do saber segue paralela com a estrutura predominantemente top-down do sistema educativo, que parte de um conjunto restrito de pessoas, por vezes desligadas do contexto educativo e demasiadas vezes incoerentes. A necessidade de uma mudança na educação está patente no relatório da Comissão Internacional sobre os Futuros da Educação, publicado pela UNESCO em 2022. O título do relatório – “Reimaginar nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação” – é revelador dos propósitos, e reforça a importância de trabalhar junto. É um convite para pensar e imaginar, mais do que um plano de ação, e destaca a necessidade de os desafios serem abordados e respondidos em cada comunidade, país ou escola.
Torna-se evidente que as múltiplas designações que a educação tem adotado são desnecessárias no rumo à sustentabilidade. Imprescindível é mudar o paradigma da educação para acelerar a transição para uma sociedade mais justa, equitativa, de paz e valores, de memória histórica e de conservação dos valiosos patrimónios cultural e natural que sustentam a dignidade humana e o desenvolvimento sustentável. Os processos educativos devem ser mais participados e promotores de um pensamento sistémico, face à necessidade de compreender o mundo complexo, interligado e interdependente, que caracteriza as sociedades contemporâneas. Não há receitas, não há metodologias certas ou erradas na educação para a sustentabilidade, nem mesmo uma melhor que a outra. Cada solução educativa deve ser construída com base no conhecimento, integrada num contexto, tirar partido da tecnologia e baseada na cooperação entre os intervenientes. Contudo, é fundamental sair dos espaços tradicionais de aprendizagem e aprender fora de portas, bem como recorrer a metodologias ativas, que reconhecem a necessidade de nos envolvermos de forma cognitiva e emocional na aquisição de conhecimento, desenvolvem a capacidade de transformar o conhecimento em ação e despertam a vontade para agir. Investir em mais e melhor educação é possível e imprescindível.
