Ana Faria
Ana Faria
Investigadora do MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, ISPA

A capacidade de retenção de carbono pelo oceano é muito superior à capacidade dos ecossistemas terrestres.  Ecossistemas como as pradarias marinhas, os sapais e florestas de algas são considerados importantes sumidouros de carbono (absorvem e capturam o CO2 da atmosfera) e são significativamente mais eficazes na captura do carbono (designado carbono azul, por ser retido nos ecossistemas marinhos), por unidade de área e tempo, do que as florestas terrestres. 

Oceano, um sumidouro de carbono no combate às alterações climáticas

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O oceano desempenha um papel de imensa relevância na regulação do clima no nosso Planeta, e no combate às alterações climáticas. É responsável pela absorção de cerca de 90% do excesso de calor na atmosfera resultante de atividades humanas. 

Como consequência, nas últimas décadas temos vindo a assistir ao aquecimento do oceano, o qual coloca um sem número de desafios aos ecossistemas marinhos. Mas o oceano não absorve apenas calor, absorve também o excesso de dióxido de carbono (CO2) que existe na atmosfera, o qual, ao reagir com as moléculas de água, desencadeia uma série de reações químicas que provocam a diminuição do pH da água do mar, num processo designado por Acidificação do Oceano. 

Este processo representa uma ameaça para vários organismos marinhos, em particular organismos que dependem de carbonato de cálcio para formar os seus esqueletos (e.g. corais, moluscos bivalves, crustáceos, entre outros), uma vez que esta molécula fica menos disponível numa situação de diminuição de pH. 

Apesar das graves consequências das alterações climáticas no oceano, a verdade é que a resposta e o combate a estas alterações podem residir no próprio oceano. 

A capacidade de retenção de carbono pelo oceano é muito superior à capacidade dos ecossistemas terrestres.  Ecossistemas como as pradarias marinhas, os sapais e florestas de algas são considerados importantes sumidouros de carbono (absorvem e capturam o CO2 da atmosfera) e são significativamente mais eficazes na captura do carbono (designado carbono azul, por ser retido nos ecossistemas marinhos), por unidade de área e tempo, do que as florestas terrestres. 

Porém, estes ecossistemas são extremamente vulneráveis, e têm vindo a desaparecer devido à crescente pressão humana nas áreas costeiras. A sua destruição não só inviabiliza o importante papel na retenção do carbono, como contribui para a libertação de grandes quantidades de carbono para a atmosfera, passando a ser uma fonte de CO2 ao invés de um sumidouro. A estratégia para aumentar a capacidade de retenção de carbono pelo oceano passará, inequivocamente, pela aposta na recuperação e valorização destes ecossistemas. 

A importância do oceano enquanto sumidouro de carbono tem sido negligenciada, mas é urgente considerar a sua relevância se ambicionarmos dar resposta à crise climática que vivemos.

Foto de Daniel Sinoca na Unsplash

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