Registaram-se temperaturas acima dos 50 graus Celsius no Vale da Morte, EUA, e um recorde histórico de 45,3°C na Catalunha, Espanha, além de mais de 43°C em Phoenix, EUA, nos últimos 24 dias. A rede científica World Weather Attribution (WWA), que investiga a relação entre fenómenos meteorológicos extremos e as alterações climáticas, revelou que estas vagas de calor têm sido possíveis devido às mudanças climáticas.

Os especialistas da WWA também afirmaram que as alterações climáticas tornaram a vaga de calor na China pelo menos 50 vezes mais provável. O que anteriormente eram eventos raros, tornaram-se agora mais frequentes e intensos, e se as emissões de gases com efeito de estufa não forem reduzidas rapidamente, esta tendência continuará a aumentar, alertam os investigadores.

Embora fenómenos naturais, como anticiclones e o fenómeno El Niño, possam ter algum papel no desencadeamento destas ondas de calor, a principal razão para a sua gravidade está relacionada com o aumento das temperaturas globais devido à queima de combustíveis fósseis, sublinha a WWA.

O estudo, conduzido por sete cientistas dos Países Baixos, Reino Unido e Estados Unidos, utilizou dados meteorológicos históricos e modelos climáticos para comparar o clima atual e o aquecimento global de 1,2 graus com o que era no passado.

Os resultados destacam o agravamento das temperaturas devido ao aquecimento global: as vagas de calor na Europa são em média 2,5°C mais quentes, enquanto na América do Norte a diferença é de 2°C e na China é de 1°C.

Segundo a NASA e o observatório europeu Copernicus, este mês pode vir a ser o julho mais quente já registado, o que demonstra a urgência de agir face a esta situação.

Cada vez mais frequentes

Mariam Zachariah, cientista do Imperial College de Londres e colaboradora do estudo, enfatizou que estas vagas de calor tornar-se-ão ainda mais frequentes no futuro, ocorrendo a cada dois ou cinco anos, se as metas de aquecimento global de 2ºC forem atingidas dentro de cerca de 30 anos. Para evitar este cenário, é crucial que os países signatários do Acordo de Paris implementem plenamente os seus compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa.

Os especialistas alertam que é essencial agir rapidamente, reduzindo o uso de combustíveis fósseis e reforçando a resiliência às alterações climáticas. Caso contrário, o número de vítimas mortais relacionadas com o calor extremo continuará a aumentar, destacando-se a importância de uma legislação internacional progressiva para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, que poderá ser discutida na 28ª Conferência da ONU sobre o Clima (COP) em Dubai, em novembro. Ações decisivas são cruciais para enfrentar este desafio global e proteger as gerações futuras.

Entretanto, um outro estudo publicado na Nature Communications e conduzido por cientistas da Universidade de Copenhaga, alerta para o sério risco do planeta poder estar à beira de ultrapassar um ponto de não retorno. Tudo por causa das emissões de carbono para a atmosfera que poderão afetar a Circulação Meridional de Capotamento do Atlântico (AMOC) entre 2025 e 2095. E esse colapso acarretará em consequências severas no clima do Atlântico Norte.

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