Aeronaves elétricas que contribuem para reduzir o trânsito, robôs que transportam produtos alimentares e outras mercadorias nas cidades: estas são algumas das transformações identificadas no relatório “Tendências de Mobilidade 2023”, que a Astara Intelligence acaba de publicar.
O departamento de consultoria da Astara analisou as tendências, perspetivando como será a mobilidade futura, traçando os cenários mais fortes.
Estes fenómenos são enquadrados em macrotendências globais, tais como novos os modelos de negócio, o envelhecimento demográfico, a crise climática, o crescimento da inteligência artificial e da robótica, a redefinição geopolítica da globalização, a Web3 (descentralizada), dados e conectividade, sistemas circulares e regenerativos, descarbonização, realidade aumentada e virtual, transformação no mundo laboral e as mudanças nos sistemas urbanos.
Novas formas de encarar a mobilidade
A afirmação dos veículos elétricos de dois lugares é uma tendência detetada na análise, a qual revela ainda um interesse crescente noutros tipos de mobilidade urbana mais eficientes e sustentáveis perante o crescimento das cidades.
“A forma como utilizamos a mobilidade também mudou o modo como nos movimentamos. A expansão dos serviços de partilha é um exemplo perfeito da transversalidade da mobilidade e de como uma onda de mudança se pode propagar em várias direções”, refere a Astara.
“O número de avanços tecnológicos que testemunhámos desde 2015 é esmagador. Por definição, o setor da mobilidade é transversal. É afetado pelos hábitos de consumo e padrões de comportamento das pessoas, mas, ainda assim, permite o desenvolvimento de outras atividades socioeconómicas. A atenção dada à mobilidade nas cidades é fundamental para atrair novos talentos e investidores. Apenas as gerações futuras poderão colher os benefícios destas mudanças, que estão apenas a começar”, refere Sebastian Canadell, Diretor da Astara Intelligence.
Este estudo refere que os serviços de partilha abriram a porta para que as pessoas se familiarizem com as diferentes opções de micromobilidade elétrica urbana (veículos comerciais ligeiros, ciclomotores, bicicletas e trotinetes).
“Com o aumento da procura por este tipo de locomoção, alguns utilizadores têm optado não apenas pela compra, mas também por subscrições mensais, o que tem acelerado a penetração da micromobilidade elétrica no mercado”.
Os dados da mobilidade valem ouro
Outra tendência assinalada pelo relatório da Astara é o reforço do valor dos dados de mobilidade disponíveis e a importância dos procedimentos éticos no tratamento desses dados. “Se os dados são o novo ouro, os dados de mobilidade são um dos seus depósitos mais valiosos”, afirma o relatório.
O grupo de consultoria McKinsey relata que só os dados dos veículos conectados são capazes de gerar anualmente entre 225 e 360 mil milhões de dólares de valor acrescentado para as partes interessadas do ecossistema em 2030.
A Astara cita outro estudo que estima que os dados relativos ao histórico de localização de telemóveis estão avaliados em 10 mil milhões de euros: “Os dados de localização de uma pessoa (provenientes do seu telefone ou veículo) estão avaliados, em média, em 50€, embora esse valor dependa em grande medida dos dados sociodemográficos (país, idade, nível de rendimentos, etc.) do indivíduo.”
Robôs de “última milha”
Uma das tendências de mobilidade que mais despertou interesse neste ano foram os robôs de “última milha”, designação que diz respeito à última etapa logística do processo de entrega, na qual os produtos são entregues ao cliente final nas cidades. Com diferentes programas-piloto atualmente em execução por grandes empresas, o potencial e as limitações desta tecnologia são debatidos no relatório.
Alguns construtores automóveis também testaram robotáxis especializados em transportar objetos, e que podem fazer entregas de produtos alimentares, bebidas e serviços tão rapidamente quanto as pessoas nos setores da hospitalidade e catering.
No entanto, o relatório afirma que a “febre dos robôs de última milha diminuiu nos últimos meses” após grandes empresas de logística e distribuição terem decidido abandonar os seus projetos devido à ineficiência e à impossibilidade de cumprir as expectativas dos clientes.
O que é evidente é que a implementação destes robôs requer mais do que apenas tecnologia inteligente. A Astara Intelligence refere que essa implementação em ambientes urbanos abertos não é tão fácil quanto parece, pelo que a empresa irá lançá-los em ambientes fechados, como campus universitários, grandes parques industriais ou ambientes suburbanos, sendo possível a expansão para cidades de pequena a média dimensão, onde terão um impacto positivo.