No cenário atual, em que a busca pela sustentabilidade se tornou incontornável, os investimentos ESG emergem como uma abordagem essencial. A sigla, que engloba critérios ambientais, sociais e de governança, reflete a crescente consciencialização sobre a interdependência entre práticas empresariais responsáveis e o bem-estar do planeta e da sociedade.
Empresas que incorporam esses critérios nas suas estratégias não apenas se alinham com valores de biodiversidade, inclusão e preservação ambiental, mas também estão na vanguarda de uma transformação que busca um futuro mais equilibrado e resiliente.
Nesse contexto, os investimentos ESG não apenas impulsionam o crescimento sustentável, mas também moldam positivamente a trajetória global rumo a um mundo mais justo e harmonioso.

Tendo trabalhado na área da sustentabilidade dos investimentos durante toda a sua carreira, Amanda Young, diretora de sustentabilidade da empresa de investimentos abrdn, refere, porém, que o sentimento de frustração entre os seus pares nunca foi tão generalizado como agora relativamente à gestão de ativos em termos de agenda da sustentabilidade.
“A dimensão dos desafios globais de que temos vindo a falar há quase 30 anos, o peso cada vez maior da regulamentação neste setor e a contínua falta de ações reais e concretas são extremamente desencorajadores”, aponta Amanda Young.
Para esta especialista, é essencial admitir que “as soluções para as alterações climáticas, a desflorestação, o aumento das inundações, a perda de espécies e todos estes outros problemas catastróficos não podem vir apenas do setor do investimento. O nosso setor deve certamente fazer tudo o que estiver ao seu alcance, mas os governos têm de assumir as suas responsabilidades. Atualmente, não estão a fazer o suficiente e não estão a dar a clareza necessária a médio e longo prazo”.
O setor do financiamento “deve certamente fazer tudo o que estiver ao seu alcance, mas os governos têm de assumir as suas responsabilidades”
De acordo com Amanda Young, “há muito a fazer para passarmos do ponto em que nos encontramos atualmente para o mundo sustentável e de emissões líquidas nulas do futuro”.
Segundo esta especialista, um conjunto simplificado e global de regulamentos destinados a pôr termo ao “greenwashing” e a proteger os consumidores “contribuiria em muito para reduzir a quantidade de regras, diretrizes e iniciativas diferentes em cada região com que nos deparamos atualmente. Estas já não são uma barreira de proteção adequada, mas tornaram-se tão prolíficas e complexas que é quase como se fossem concebidas para desencorajar os gestores de ativos de continuarem a desenvolver os seus procedimentos e produtos ESG”.
O que é preciso?
“Com tanto escrutínio, regulamentação e controvérsia, não é de surpreender que os profissionais da sustentabilidade estejam a sentir a pressão. Então, o que fazer a partir daqui? Sem dúvida, precisamos de uma maior simplificação e normalização da regulamentação. Além disso, também é útil reunir os especialistas em sustentabilidade do setor para colaborar e inovar. É encorajador ouvir que muitos dos grandes gestores de ativos estão a recrutar grupos de pressão ambiental e grupos de reflexão para trazerem novas ideias e conhecimentos especializados”, declara Amada Young.
Entretanto, “o que é que nós, enquanto investidores responsáveis ativos, podemos fazer para sermos tão eficazes quanto possível e para promovermos mudanças significativas em todos os sentidos? Temos certamente de analisar cada investimento com um escrutínio cada vez maior, tal como o ESG foi inicialmente concebido para o fazer”, responde esta especialista. Amanda Young acrescenta: “É essencial que os investidores olhem com frieza e clareza para os riscos materiais que uma empresa enfrenta, tanto pelo impacto que tem no mundo como pelo impacto que um mundo em mudança terá sobre ela”.
Falando da sua experiência pessoa, Amanda Young entende que aos investidores devem continuar a envolver-se “de mais formas do que nunca, com todas as empresas em que investimos, a decidir, a opinar”. Falar “com as empresas sobre emissões, poluição, boas práticas laborais, planos de transição de energia, reeducação da força de trabalho – todos os anos há mais tópicos em que nos podemos envolver, desde a diversidade dos conselhos de administração à biodiversidade”.
“É fundamental sermos críticos e não nos limitarmos a carimbar coisas que parecem impressionantes”
“É fundamental sermos críticos e não nos limitarmos a carimbar coisas que parecem impressionantes”, enfatiza Amanda Young, dando um exemplo concreto em que decidiram abster-se numa avaliação feita a uma abordagem proposta pela administração de uma empresa, pelas reservas que manifestaram quanto à sua eficácia. “O ‘Say on Climate’ implica que uma empresa divulgue as emissões, apresente um plano de gestão das emissões e realize uma votação sobre esse plano. Mas a divulgação, por si só, não tem demonstrado ser particularmente eficaz para conduzir à ação, e a apresentação da estratégia climática como um item autónomo corre o risco de diminuir tanto a integração do clima na estratégia como a responsabilidade direta e a responsabilização do conselho de administração e dos diretores individuais”, explica Young.
Assim, um dos objetivos “da nossa política de voto deste ano é mostrar os retardatários em matéria de emissões e levar estas empresas a tomar medidas muito mais concertadas”.
Apesar de todos os obstáculos e desafios que nos rodeiam e que temos pela frente, “continua a ser nossa responsabilidade olhar de perto e de forma crítica para tudo o que está a ser criado hoje e avaliar de que forma está a ajudar ou a dificultar a construção do futuro que queremos ver. Esperemos que o facto de nos voltarmos a focar neste objetivo claro traga de volta à sustentabilidade o propósito e talvez até o entusiasmo”, conclui esta especialista em investimentos ESG.