1️⃣ Como vê o estado atual da mobilidade elétrica em Portugal: quais são os principais avanços que se salientam e quais são os principais desafios que se deparam?
Luís Santiago Pinto (Powerdot): Ao contrário do que se possa pensar, Portugal encontra-se num estado de desenvolvimento bastante interessante no que toca à área da mobilidade elétrica. Sobretudo quando olhamos para outras realidades europeias, posso afirmar que o nosso país é um exemplo de adoção por parte dos utilizadores, com números que têm vindo a crescer todos os anos. Paralelamente, a densidade da rede de carregamentos, com Portugal a encontrar-se entre os países da Europa com uma maior densidade de carregadores, o que se traduz obviamente num avanço muito relevante e que transmite confiança a um condutor que queira transitar para um veículo elétrico.
É certo que ainda temos um percurso por trilhar, mas reforço que no geral a evolução é bastante positiva. No que toca aos principais desafios futuros, diria que estão essencialmente relacionados com a desmistificação do carro elétrico. As condições e a tecnologia para uma plena utilização já existem e estão à disposição de todos nós, sendo necessário que as pessoas se sintam confortáveis para experimentar e seguras para apostar nesta transição para a mobilidade sustentável.
2️⃣ Quais são os principais obstáculos que ainda precisam ser superados para uma adoção mais ampla do veículo elétrico em Portugal?
Creio que os principais obstáculos estão diretamente relacionados com o desafio indicado na resposta acima. Havendo um esforço adicional para que as pessoas possam compreender de forma clara e transparente quais são os grandes benefícios dos carros elétricos, a começar pelos custos de deslocação mais baixos face aos combustíveis fósseis, no conforto da condução e a terminar no facto de ser uma solução que contribui para a sustentabilidade do nosso planeta e bem-estar das gerações futuras.
Adicionalmente, consciencializar as pessoas de que existem várias opções de carregamento disponíveis e adaptadas à realidade de cada um, ao contrário dos carros a combustão em que temos de nos dirigir a um posto de combustível para abastecer. Do carregamento doméstico (quando possível), ao carregamento na rede pública ou através do conceito de destination charging, onde tiramos partido das nossas deslocações ao centro comercial, ao teatro ou ao ginásio para carregar a bateria, contamos em Portugal com uma ampla rede de carregadores que nos permite tornar este processo bastante cómodo e integrado no nosso dia-a-dia.
3️⃣ Em termos de infraestrutura de carregamento de veículos elétricos, que retrato faz do país? O que faz falta ser feito?
A rede continua a expandir-se em Portugal, mas acredito que precisa de crescer ainda mais, sobretudo em localizações que as pessoas frequentam no seu dia a dia, de forma a poderem incorporar facilmente o carregamento dos seus carros elétricos. Se eu vou ao supermercado e estou a fazer compras durante 1 hora, porque não aproveitar esse tempo para carregar a bateria do meu carro? O mesmo quando vou ao ginásio, ao cinema, a uma consulta ou exame médico. Mas para que consigamos tirar este partido das nossas deslocações diárias é fundamental que este género de negócios continue a incorporar postos de carregamento nos seus espaços.
4️⃣ Quais são os vossos próximos projetos em Portugal para poderem contribuir para expandir a infraestrutura de carregamento existente ou a adoção da mobilidade elétrica?
Recentemente lançámos a funcionalidade Autocharge em Espanha e França, em conjunto com a empresa Miio, sendo que a nossa ambição é trazer esta funcionalidade ao mercado português até ao final do ano. Trata-se de uma funcionalidade que garante que um veículo elétrico comece a carregar automaticamente assim que é ligado a uma estação de carga compatível, um passo significativo para simplificar a experiência de carregamento. Paralelamente, continuamos empenhados na expansão da nossa rede em Portugal, tendo atingido este ano mais de 1.000 pontos de carregamento operacionais.
5️⃣ Que medida recomendaria que o governo tomasse com vista a uma maior e mais rápida adoção de veículos elétricos no país?
Essencialmente, acreditamos na necessidade de uma estratégia abrangente para impulsionar a completa adoção de veículos elétricos no país. Começando pelo contínuo reforço do investimento na densidade da rede de carregamento para aumentar a confiança dos consumidores na capacidade de viajar com veículos elétricos.
Paralelamente, a existência de uma maior proximidade entre os responsáveis pela regulação e definição da estratégia nacional de mobilidade elétrica e os operadores que a executam é fundamental. A título de exemplo, em França trabalhamos de forma próxima com as entidades governamentais que atuam nesta área e partilhamos a nossa experiência com os múltiplos mercados europeus onde operamos. Acredito que este tipo de proximidade no mercado português poderia ser bastante útil e enriquecedor da forma como o carregamento de veículos elétricos é pensado no nosso país.
Por fim, a partilha de informação clara que ajude a dissipar preocupações sobre a autonomia limitada dos veículos elétricos, reforçando também os benefícios ambientais e financeiros que oferecem.