Num mundo cada vez mais consciente dos desafios ambientais, sociais e de governança, os investidores estão a reconhecer a necessidade de não apenas procurar retornos financeiros, mas também considerar a sustentabilidade e os impactos positivos e negativos das empresas em que investem. O investimento sustentável procura alinhar os objetivos financeiros com considerações éticas e de longo prazo, abordando questões que vão desde a eficiência energética e a diversidade até a gestão responsável.
Nesse contexto, David Smith (Diretor Sénior de Investimentos para a região da Ásia da abrdn) e Henry Loh (diretor de Crédito para o mercado Asiático da abrdn) abordam as principais diretrizes e pilares do investimento sustentável, destacando como a incorporação de filosofias ESG (Environment, Social e Governance; ambientais, sociais e de governança), podem não apenas gerar impacto positivo, mas também impulsionar resultados sólidos para os investidores e a sociedade como um todo.
David Smith destaca as três condições prévias que os investidores precisam ter para realizar o investimento sustentável de forma eficaz.

David Smith fala dos “3 P’s” (do inglês, Philosophy, People, Process): filosofia, pessoas e processo.
Filosofia
“Desde o início, acreditamos que as empresas precisam operar com convicção sistémica de que investir de forma sustentável leva a um desempenho superior da carteira. Essa filosofia deve ser disseminada por toda a empresa – desde a pesquisa até os investimentos e a gestão da carteira”, começa por referir este especialista.
Os gestores de investimento “devem integrar os fatores ambientais, sociais e de governança (ESG) na análise da empresa”, com este especialista a afirmar que esses fatores variam muito entre as indústrias e incluem tópicos como transição energética, biodiversidade, gestão de resíduos e acesso à saúde, que por sua vez podem criar ventos favoráveis em áreas como alocação de capital, tecnologia e regulamentação.
“Se não forem bem geridos, esses fatores podem afetar os custos e o acesso ao financiamento”, adverte David Smith que acrescenta que “compreender esses riscos e oportunidades ESG permite que os investidores avaliem os títulos de uma empresa de forma mais precisa e compreendam melhor como uma carteira” preocupada com a sustentabilidade pode ser composta. “Investidores sem essa filosofia desde o início terão dificuldade em construir um processo que lhes permita realizar o investimento sustentável de forma consistente”, sintetiza.
Pessoas
O segundo ‘P’ refere-se às pessoas a especialistas em ESG que “devem estar integrados nas equipas de investimento em várias classes de ativos, bem como em outras áreas, como regulamentação e análise quantitativa. Eles devem colaborar para que todas as informações sejam retroalimentadas para tornar a análise mais completa”.
Processo
O terceiro ‘P’ refere-se ao processo: “É importante que a análise ESG seja integrada desde o início até o final do processo. Quanto mais cedo os investidores estudarem como as economias estão evoluindo e quais empresas estão alinhadas para se beneficiar, mais cedo poderão s líderes. Incluir ESG no final do processo de investimento – onde o foco tende a ser mais na proteção contra prejuízos e triagem – é tarde demais para se beneficiar dos insights sobre como as economias, os mercados e as empresas estão a evoluir”.
Existe uma forte correlação entre as classificações de crédito das empresas e as classificações ESG
Como exemplo, “as equipas de ações e renda fixa da abrdn têm uma perspetiva construtiva sobre a transição energética na Índia. A Índia é o terceiro maior emissor de dióxido de carbono do mundo, depois da China e dos EUA, e está a mudar de uma rede elétrica movida a combustíveis fósseis para energias renováveis. A pergunta que nos fazemos é: a Índia pode continuar a crescer economicamente enquanto reduz a intensidade de carbono da sua atividade económica ao mesmo tempo? O nosso papel como investidores é compreender como as empresas gerem esses riscos e oportunidades”.
“O que nos dá confiança no caso da Índia é a clareza direcional nos gastos governamentais e na regulamentação. Tais condições prévias prometem criar ventos favoráveis dos quais as empresas podem beneficiar”, conclui este analista que recorda que é também importante perceber como é que o mercado perceciona a empresa e os investimentos que faz.

O especialista Henry Loh declara que, até há uns cinco anos, “a sustentabilidade era considerada um tema apenas para investidores em ações”. Agora isso alterou-se: “Existe uma forte correlação entre as classificações de crédito das empresas e as classificações ESG – quanto melhor a classificação de crédito, maior a classificação ESG”.
“Uma empresa de produção de energia que transita do carvão para as energias renováveis tem do lado do mercado a compressão dos spreads das suas obrigações ao longo do tempo, à medida que o mercado reconheceu a maior sustentabilidade da sua estratégia.
De forma encorajadora, a emissão de obrigações verdes, sustentáveis e sociais (GSS) e obrigações vinculadas à sustentabilidade – coletivamente conhecidas como obrigações rotuladas – cresceu rapidamente nos últimos anos”, salienta este especialista.
No entanto, “embora isso crie oportunidades crescentes para os investidores de rendimentos fixos é crucial para os investidores de obrigações olhar além do rótulo e focar na estratégia geral de uma empresa” para perceber se existe coerência e solidez nos investimentos ESG que estão a ser feitos ou se se trata de mero “greenwashing”.