O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, alertou que o aquecimento global é a “ameaça mais imediata” para o futuro da humanidade, destacando que as alterações climáticas que estamos a presenciar são apenas o início.
No seu discurso inaugural na 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU (UNGA 78), Guterres enfatizou a necessidade de “determinação” na luta contra o aquecimento global, sublinhando que as mudanças climáticas não representam apenas uma alteração no clima, mas estão a transformar a vida no planeta e a causar morte e devastação em comunidades.
“Em todo o mundo, estamos a testemunhar não apenas o aumento das temperaturas, mas também o aumento rápido do nível do mar, o recuo das geleiras, a propagação de doenças mortais, a extinção de espécies e cidades sob ameaça. E isto é apenas o começo”, observou.
“Recentemente, enfrentamos os dias mais quentes, os meses mais quentes e o verão mais quente já registado. Por trás de cada recorde quebrado, existem economias em crise, vidas destroçadas e nações à beira do colapso”, referiu.
“TODAS AS REGIÕES E PAÍSES ESTÃO A SENTIR O IMPACTO, MAS NÃO TENHO CERTEZA SE TODOS OS LÍDERES ESTÃO A COMPREENDER A GRAVIDADE”, ACRESCENTOU GUTERRES.
Guterres, o antigo primeiro-ministro português que faz da agenda climática e ambiental uma das suas prioridades, argumentou que as ações para enfrentar esta crise estão “muito aquém” do necessário.
Apesar disso, ele destacou que ainda há tempo para manter o aumento das temperaturas abaixo dos 1,5 graus Celsius, como estabelecido no Acordo de Paris sobre o Clima. No entanto, ele enfatizou que isso requer medidas drásticas imediatas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e garantir justiça climática para os que menos contribuíram para a crise, mas que estão a pagar o preço mais alto.
Eliminar combustíveis fósseis
Guterres salientou que os países do G20 são responsáveis por 80% das emissões de gases de efeito estufa e, portanto, devem liderar esses esforços. Ele diz que a única maneira de limitar o aumento da temperatura global é eliminar gradualmente o uso de carvão, petróleo e gás de forma justa e equitativa, ao mesmo tempo que promove o uso massivo de energias renováveis.
“O período dos combustíveis fósseis chegou ao fim. Se as empresas de combustíveis fósseis quiserem fazer parte da solução, devem liderar a transição para as energias renováveis. Basta de produção suja, basta de soluções falsas, basta de financiamento à negação das mudanças climáticas”, enfatizou.
Nesse sentido, as Nações Unidas apelam ao fim do uso do carvão até 2030 para os países da OCDE e até 2040 para o resto do mundo. Além disso, pedem o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis e a implementação de um “preço para o carbono”. Também instam os países desenvolvidos a cumprir a promessa de disponibilizar 100 mil milhões de dólares para a ação climática nos países em desenvolvimento, duplicar o financiamento para adaptação até 2025 e reabastecer o Fundo Verde para o Clima.
GUTERRES DIRIGIU PALAVRAS DE ENCORAJAMENTO AOS ATIVISTAS QUE LUTAM PELA AÇÃO CLIMÁTICA, AFIRMANDO QUE ELES ESTÃO DO LADO CERTO DA HISTÓRIA E QUE ELE ESTÁ AO LADO DELES NESTA LUTA VITAL.
Além das preocupações climáticas, António Guterres também abordou as ameaças iminentes que as novas tecnologias, especificamente a inteligência artificial, representam para os direitos humanos. Ele indicou que a ONU está pronta para promover discussões globais e inclusivas sobre este tema, dependendo das decisões dos Estados-Membros.
Para avançar na busca de soluções concretas para a governação da tecnologia, Guterres anunciou que nomeará um órgão consultivo de alto nível sobre inteligência artificial ainda este mês, com o objetivo de apresentar recomendações até o final do ano. O debate de alto nível da 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU começou esta terça-feira em Nova Iorque, com a presença de líderes de todo o mundo, e continuará até o dia 26.