O Escalo-do-Mira, uma espécie de peixe encontrada exclusivamente na bacia do rio Mira, pode já estar extinta devido às alterações climáticas, de acordo com a associação ambientalista Zero que acusa o Governo de negligenciar a preservação de valores naturais ameaçados.
Foi com enorme consternação que elementos da Zero, ao visitarem a ribeira do Torgal, curso de água da bacia hidrográfica do rio Mira, constataram que este leito de água secou na sua quase totalidade, “situação que faz temer o pior em relação à sobrevivência do escalo-do-Mira (Squalius torgalensis), pequeno peixe que só existe na bacia hidrográfica do Mira (endemismo lusitano)”, aponta os ambientalistas.
“Ao que se sabe, o único local que não secou em toda a bacia hidrográfica parece ter sido o pego das Pias, residindo aí a última esperança de que alguns exemplares da espécie possam ter sobrevivido, ainda que neste local abundem espécies exóticas invasoras, como o lagostim-vermelho-da Louisiana (Procambarus clarkii), a perca-sol (Lepomis gibbosus) ou o temível predador Achigã (Micropterus salmoides)”, salienta a Zero.
A associação critica o facto da espécie ter deixado de ser alvo de um programa de reprodução em cativeiro “para prevenir precisamente situações previsíveis como esta”, com a Zero a sublinhar que alertou o Ministro do Ambiente “para esta tragédia ambiental e solicitou que sejam acionados meios urgentes para o terreno com o objetivo de avaliar se ainda sobreviveram exemplares do escalo-do-Mira, uma vez que estamos perante uma espécie que só existe em Portugal e que, por esse facto, recai sobre o país a responsabilidade total quanto à sua conservação”.”.
A Zero enfatiza que esta é uma espécie única no mundo, exclusiva de Portugal, tornando o país responsável pela sua conservação.
A associação também critica a inação das autoridades, especialmente do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), dada a importância da área afetada estar dentro do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
A Zero considera que esta situação é um exemplo de uma política pública falha, destacando a falta de monitorização sistemática de valores naturais ameaçados, um programa sólido de reprodução de espécies aquáticas em cativeiro e uma gestão inadequada dos recursos hídricos.
Mais de metade das espécies de peixes de água doce em Portugal ameaçadas
Em julho do ano passado, especialistas alertaram que mais de metade das espécies de peixes de água doce em Portugal estão ameaçadas de extinção, incluindo espécies únicas.
O Escalo-do-Mira é classificado como “em perigo” no Sistema Nacional de Informação Peixes de Água Doce e Diádromos (SNIPAD), com a pesca proibida.
A Zero exige medidas para enfrentar essa situação e insta o Governo a cumprir os objetivos de transformar pelo menos 30% da superfície terrestre e marinha da Europa em áreas protegidas, com melhorias significativas na conservação de espécies e habitats protegidos.