Zara Teixeira
Zara Teixeira
Investigadora do MARE, Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, polo da Universidade de Coimbra.

Mas qual a relação entre a construção de um parque eólico offshore e a sustentabilidade ambiental? De forma simplificada, a energia eólica offshore envolve a instalação de turbinas eólicas no mar, a colocação de cabos submarinos que ligam turbinas e exportam a energia para terra, e o acolhimento de infraestruturas de suporte na zona costeira. O processo pode durar vários anos e implica construções de grande escala pelo que os impactos na biodiversidade e nos ecossistemas são inevitáveis. Resta saber quais são, em que locais, e como evitar, mitigar e/ou adaptar. Não há por isso como escapar à necessidade de observação e recolha sistemática de dados em campanhas de monitorização regulares, antes, durante e após a fase de construção e operação.

Eólica Offshore: da oportunidade para a descarbonização aos alertas para os ecossistemas marinhos

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Portugal tem atualmente 25MW de capacidade instalada de energia eólica offshore e pretende atingir os 10GW até 2030, o que corresponderá a 10% da capacidade esperada pela Wind Europe, associação representativa do setor, na Europa. É uma meta ambiciosa com objetivos claros de contribuir para a diminuição dos recursos energéticos não renováveis. No entanto, a implementação de parques eólicos offshore não deve ser feita a qualquer custo. É necessário reforçar o papel da monitorização ambiental, a fim de evitar que a atividade dos parques de energia eólica offshore agrave, em vez de atenuar, os impactos ambientais das alterações climáticas.

Em 2022, um artigo da Nature lançava 15 tópicos que poderão ter um impacto significativo na biodiversidade marinha e costeira nos próximos 5 a 10 anos. A instalação de infraestruturas offshore encontra-se entre os tópicos listados.

Mas qual a relação entre a construção de um parque eólico offshore e a sustentabilidade ambiental? De forma simplificada, a energia eólica offshore envolve a instalação de turbinas eólicas no mar, a colocação de cabos submarinos que ligam turbinas e exportam a energia para terra, e o acolhimento de infraestruturas de suporte na zona costeira. O processo pode durar vários anos e implica construções de grande escala pelo que os impactos na biodiversidade e nos ecossistemas são inevitáveis. Resta saber quais são, em que locais, e como evitar, mitigar e/ou adaptar. Não há por isso como escapar à necessidade de observação e recolha sistemática de dados em campanhas de monitorização regulares, antes, durante e após a fase de construção e operação. Os dados recolhidos servirão vários propósitos e todos servirão a sustentabilidade futura das regiões intervencionadas. Vejamos alguns: 

Avaliação de Impacto Ambiental (AIA): A monitorização antes da construção permite identificar as espécies e habitats que serão afetados e as medidas a implementar para reduzir impactos negativos.

Compreensão das dinâmicas marinhas: A monitorização contínua permite uma compreensão mais profunda das mudanças climáticas e sazonais dos ambientes marinhos, o que é essencial para uma gestão eficaz.

Avaliação da Qualidade da Água: A monitorização fornece dados que permitem avaliar os padrões de qualidade da água que sustentam a vida marinha. Um bom exemplo é determinar se os limites na concentração de poluentes foram, ou não, atingidos.

Cumprimento de Regulamentos Ambientais: A monitorização é essencial para garantir o cumprimento de regulamentos ambientais e evitar penalizações legais.

Proteção da Vida Marinha: A monitorização contínua permite a identificação de ameaças e de soluções de conservação. Isso inclui a implementação de estratégias para evitar colisões de aves com as pás das turbinas e a mitigação dos impactos sonoros que podem afetar mamíferos marinhos.

O investimento na monitorização ambiental deve por isso ser visto como essencial em qualquer projeto de energia eólica offshore para garantir a sustentabilidade e a minimização dos impactos ambientais. Os centros de investigação na área das ciências do mar estão numa posição privilegiada para prestar este apoio e as empresas responsáveis pelos parques eólicos offshore já iniciaram essa colaboração. Mas o que virá no futuro, só o futuro dirá. Esperamos que seja mais risonho e que o objetivo da Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica em abrandar e inverter a perda de biodiversidade até 2050 se venha efetivamente a concretizar.

Imagem de destaque por Nicholas Doherty através da Unsplash

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