Foi em Bruxelas, num evento organizado junto ao aeroporto de Zaventem, que a Toyota levou a cabo o seu fórum anual, apresentando diversos vetores estratégicos para o seu futuro próximo.

Andrea Carlucci, vice-presidente da Toyota Motor Europe, foi taxativo no comprometimento do construtor em alcançar a meta da neutralidade carbónica absoluta até 2035 nas suas atividades e produtos do Velho Continente.

Ficou também claro que a Toyota, mesmo na Europa, vai insistir na diversificação de soluções para atingir aquele objetivo, estratégia a que chama Multipath. Todos os interlocutores passaram a mensagem de que os elétricos de bateria são apenas uma das soluções, ao lado do hidrogénio, quer nos veículos com pilha de combustível, quer nos motores térmicos. Os combustíveis sintéticos também foram assinalados como um dos caminhos possíveis, identificados como uma alternativa para o desporto automóvel, onde a eletrificação não dá resposta, como é o caso das provas de resistência, ralis e todo-o-terreno.

Mas vamos por partes.

Elétricos de bateria até 2026

A Toyota garante que terá seis elétricos de bateria na sua oferta de produtos até 2026. Para além do bZ4X, que já se encontra em comercialização, chegarão cinco modelos, nos próximos três anos. No fórum Kenshiki, foram revelados quatro concept cars que apontam o futuro e deixam apenas um modelo em aberto.  

Haverá um SUV de vocação urbana,  representado pelo Urban SUV Concept, com dimensões semelhantes às do Yaris Cross e do C-HR, mas também relembrando o descontinuado Urban Cruiser. Vai ser lançado em 2024. 

O Sports Crossover prefigura um modelo entre uma berlina e um SUV e é esperado em 2025 e resultará de uma parceria com a chinesa BYD.

O GR FT-Se foi talvez o que recebeu a resposta mais emotiva, já que se trata de um pequeno desportivo, que podemos associar visualmente aos Lotus ou, se calhar, de forma mais conveniente, à primeira geração do MR-2. As dimensões são de tal modo compactas e o habitáculo tão baixo, que se torna difícil imaginar como vai ser acomodado o pack de baterias necessário para que este desportivo tenha um alcance aceitável, quando for lançado, o que deverá acontecer mais perto de 2026. 

O FT-3e é um pouco mais convencional, também com carroçaria Crossover, mas que usará uma nova plataforma exclusivamente elétrica, que será utilizada também pela Lexus e que já podemos vislumbrar no LF-ZC. 

Multipath também nas baterias…

A estratégia para a tecnologia das baterias da Toyota já tem calendário também. De momento, as baterias de iões de lítio monopolares utilizadas no bZ4X, prometem até 500 km de alcance com uma carga. Em 2026 chegará uma versão com desempenho superior, que permitirá mais de 800 km, com uma redução de 20% no custo (face às do bZ4X) e reduzindo em um terço o tempo de carregamento otimizado, de 30 para 20 minutos. 

Simultaneamente, também em 2026, a Toyota adotará a tecnologia da estrutura bipolar, ainda com eletrólitos líquidos, e comercializará uma variante LFP (Fosfato de Lítio-Ferro), com mais de 600 km de alcance e uma redução de custo de 40% face às atuais, mantendo uma velocidade de carregamento equivalente. A versão de iões de lítio e cátodos com níquel alto, designada de alto desempenho, promete elevar o alcance para além dos 1000 km e reduzir os custos de produção em mais 10%.

Finalmente, em 2027 ou 2028, são esperadas as baterias de eletrólitos sólidos, para as quais há muita expectativa no que diz respeito a densidade energética, baixo peso e velocidade de carregamento, mas os dados concretos escasseiam.

Andrea Carlucci referiu que a Toyota espera produzir, nas datas previstas, várias dezenas de milhares de veículos com as baterias de estado sólido.

Lexus totalmente elétrica até 2035

A Lexus revelou o seu plano para se tornar globalmente uma marca 100% elétrica até 2035 e, mesmo antes na Europa, até 2030 se as condições de mercado permitirem.

Pascal Ruch, Vice-Presidente da Lexus Europa, afirmou: “Vamos desenvolver uma nova estrutura de veículo modular e baterias de nova geração, não apenas para melhorar o desempenho dos nossos VE, mas também, e talvez mais importante, para reinventar o prazer de condução.

Haverá também uma revolução no software, o que nos permitirá projetar veículos com o mais alto grau de personalização, tornando verdadeiramente luxuoso para cada um dos nossos clientes.”

O LF-ZC (Lexus Future Zero-emission Catalyst) antecipa uma nova berlina de produção da Lexus com lançamento previsto para 2026. O SUV Concept LF-ZL não estava presente fisicamente, mas algumas das tecnologias destes dois futuros Lexus mereceram atenção especial, como o o sistema One Motion Grip steer-by-wire, o sistema de tração integral DIRECT4, que já conhecemos no RZ 450e, e o sistema operativo Arene, que permitirá novas possibilidades de entretenimento e conectividade.

Foi dada grande importância à nova plataforma modular para veiculos elétricos, que permitirá reduzir o número de peças, o tempo de produção e os custos, aumentando a flexibilidade para adotar formas distintas das carroçarias e contribuindo para um incremento da rigidez e redução de peso. 

O que pensa o Welectric

A Toyota concretizou um pouco mais os seus planos para o futuro, o que pode dar alguma tranquilidade aos acionistas e também aos seus muitos clientes fiéis. 

O calendário é exigente e alguns dos concept cars apresentados parecem longe da produção, mas certamente há muito trabalho avançado nos bastidores. 

A estratégia mais clara da Lexus rumo à eletrificação faz pensar que a Toyota aceita a realidade do mercado na sua marca mais cosmopolita. O luxo é cada vez mais 100% elétrico e essa tendência parece acelerar de forma inexorável nos seus principais mercados: o europeu e o norte-americano. 

A Toyota tem uma preocupação mais dispersa e aceita, enquanto maior fabricante mundial, essa responsabilidade de continuar a providenciar a mobilidade para todos. Esta escolha não é isenta de riscos, porque as tendências de consumo têm mudado rapidamente nos principais mercados, mas certamente que a Toyota está confiante com o seu calendário de implementação.

No que diz respeito às baterias, as evoluções previstas com eletrólitos líquidos (a tecnologia atual) não parece apresentar dificuldades significativas. Estas soluções já existem no mercado, sobretudo no que diz respeito às baterias de fosfato de lítio-ferro. Todavia, de maior cautela se reveste o vaticino das baterias de estado sólido. No passado, a Toyota já apontou datas otimistas para esta tecnologia estar pronta, em 2020 e 2022, por exemplo. Teremos que esperar para ver se é desta…

Artigo anteriorElétricos com forte presença no segmento de luxo norte-americano
Próximo artigoCascais adapta paisagem para as alterações climáticas